
Há cinco anos, Milka Borges, de 38 anos, foi vítima de lesão corporal grave. O crime ocorreu em um restaurante de luxo em São Paulo, onde a corretora de imóveis foi agredida com um copo de vidro, resultando em 90 pontos no rosto e sequelas físicas e emocionais que persistem até hoje.
No dia 11 de janeiro de 2020, Milka estava acompanhada de uma amiga que visitava São Paulo, e as duas decidiram passar a noite em um local tranquilo e sofisticado. Optaram por um restaurante de alto padrão, localizado dentro do Jockey Clube, um ambiente aparentemente seguro e frequentado por pessoas de classe alta.
No entanto, o que parecia ser uma noite descontraída transformou-se em um pesadelo. Pouco antes de deixarem o estabelecimento, Milka e sua amiga dirigiram-se ao banheiro feminino. Foi nesse momento que uma mulher adentrou o local de maneira abrupta e agressiva. Ela empurrou uma das ocupantes de uma cabine, alegando necessidade de usar o sanitário. Ao ser informada sobre a fila que se formava, respondeu com arrogância, afirmando que não precisava esperar, pois era namorada do proprietário do restaurante.
Sem demonstrar qualquer consideração, a mulher avançou em direção à saída, esbarrando em todas as pessoas no caminho, incluindo Milka. Ao ser questionada sobre sua atitude, reagiu com violência, puxando os cabelos de Milka e arranhando seu rosto. Apesar das tentativas de Milka para se defender e pedidos para que a agressora a soltasse, a situação só piorou. A mulher deixou o local, mas retornou pouco depois, acompanhada de seu namorado e de um segurança. Foi então que arremessou um copo no rosto de Milka, que estava agachada, recolhendo seus pertences do chão, completamente indefesa.
O resultado da agressão foi devastador. Milka Borges teve o rosto gravemente ferido, necessitando de atendimento médico imediato. Ela foi levada a um hospital, onde permaneceu por 18 horas para receber os pontos no rosto. As lesões a deixaram desfigurada por meses, exigindo uma série de procedimentos cirúrgicos e estéticos para reconstruir sua aparência. Ao longo de cinco anos, Milka gastou aproximadamente R$ 800 mil em cirurgias plásticas e tratamentos, conforme consta nos laudos médicos anexados ao processo judicial.
A sentença contra a mulher foi proferida quase cinco anos após o ocorrido. A decisão judicial representa uma vitória simbólica para Milka. No entanto, a batalha legal ainda não chegou ao fim. A ré primária tem o direito de recorrer da sentença e poderá fazê-lo em liberdade. Paralelamente, no âmbito cível, Milka busca uma indenização por danos físicos e psicológicos, além do ressarcimento dos custos elevados com os procedimentos médicos.

Cicatriz irreversível no rosto de Milka antes dos tratamentos mais recentes
Como está Milka atualmente
A agressão, que ganhou repercussão nacional e até internacional, deixou Milka com o rosto desfigurado, exigindo múltiplas cirurgias e tratamentos médicos. No entanto, as cicatrizes emocionais foram ainda mais profundas. Ela transformou sua dor em uma missão de ajudar outras vítimas de violência, dedicando-se a palestras, grupos de apoio e projetos que visam melhorar o atendimento a vítimas no sistema público de saúde e judiciário.
"Mais do que uma cicatriz no rosto, o impacto emocional foi o mais forte. Olhar no espelho após tantas cirurgias e não ver melhoras foi desafiador. Mas encontrei força na minha conexão espiritual com Deus e na certeza de que a beleza interna é o que realmente importa", compartilhou Milka, que também destacou a importância do perdão em sua jornada, em entrevista ao IG Delas. "Perdoar foi uma escolha que me libertou. Não tira o peso dos atos dela, mas me permitiu seguir em frente."
Além de dedicar-se à carreira de corretora de imóveis e empresária, Milka planeja lançar um livro contando sua história e as lições aprendidas ao longo dos anos. Ela também sonha em ver mudanças nas políticas públicas para garantir que vítimas de violência tenham acesso a tratamentos estéticos, psicológicos e assistência jurídica. "Passei por todo o processo na rede pública de saúde e vi o descaso que muitas vítimas enfrentam. Quero lutar por melhorias nessa área", disse.
O caso de Milka também expôs falhas no sistema judiciário, segundo ela, como a "lentidão do processo e a falta de cooperação da agressora, que forneceu endereços errados e tentou dificultar as investigações". Apesar dos obstáculos, Milka vê a mão de Deus em cada etapa do processo. "Tive surpresas positivas, como o apoio de testemunhas que depuseram voluntariamente."
Milka agora aguarda o desfecho da ação cível, que busca ressarcimento pelos gastos com tratamentos e cirurgias, todos custeados por ela mesma. "Nunca recebi apoio da agressora nem do estabelecimento onde ocorreu a agressão. Espero que a Justiça seja feita também nesse aspecto", concluiu.