Barriga solidária: mulher realiza sonho de amiga após 16 anos
Reprodução/Arquivo pessoal/Em Família Fotografia
Barriga solidária: mulher realiza sonho de amiga após 16 anos

Aos 21 anos,  Gabriela Gavioli já sabia que um dia ajudaria outra pessoa a realizar o sonho da maternidade. O desejo, que começou na adolescência, tornou-se realidade quando ela se ofereceu para gestar o bebê de uma amiga que lutava há 16 anos para engravidar, de formas naturais, com tratamentos e até mesmo com fertilização e transferência embrionária. A história, cheia de amor e desafios, mostra a realidade ainda pouco conhecida da barriga solidária no Brasil.

Desde o colegial, Gabriela comentava com amigos sobre a vontade de ser barriga solidária. "Era maior que um querer, era um desejo do coração", conta. Na faculdade, chegou a oferecer ajuda a um casal de amigos gays. Anos depois, ao descobrir que uma amiga próxima enfrentava dificuldades para engravidar, viu a oportunidade de concretizar esse sonho.

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"Não era só sobre gestar. Era sobre dar a ela o que a vida insistia em adiar. Além de realizar um desejo meu, estava ajudando alguém que eu amo após uma longa espera. Isso tornou tudo mais especial", emociona-se ao iG Delas . No Brasil, a barriga solidária só é permitida por motivos de saúde e exige uma série de documentos. Gabriela e a amiga reuniram laudos médicos, exames, relatórios psiquiátricos e até cartas escritas à mão explicando suas motivações.


Para surpresa de ambas, a aprovação pelo Conselho Regional de Medicina (CRM) veio em apenas três semanas — um prazo bem menor que o esperado. "Ficamos até assustadas, porque acreditamos que levaria meses", diz Gabriela. Sem referências de casos similares no país, elas tiveram que estabelecer seus próprios combinados. Questões como presença no parto, alimentação e exercícios físicos foram discutidas sem mediação profissional.

"As pessoas acham que é só colocar o bebê na barriga, mas tivemos que negociar cada detalhe - desde quem estaria no parto até minha rotina de exercícios. Não é obrigatório ter acompanhamento psicológico, mas deveria ser. Histórias dão errado por falta de diálogo", alerta. Ao compartilhar a jornada no Instagram, Gabriela enfrentou onda de comentários negativos. Foi acusada de "autoanulação", comparada a "The Handmaid’s Tale" e questionada por não cobrar pelo gestação.

Na série de TV, mulheres férteis são designadas para casas da elite governante, onde devem submeter o próprio corpo para engravidar e ter filhos cedidos para homens e suas respectivas esposas. "Recebemos ódio gratuito. Me chamaram de 'Aia' e disseram que eu estava me anulando. Choramos, mas depois entendemos: estávamos quebrando um tabu", diz, destacando que a maioria das críticas vinha de pessoas leigas sobre o assunto.

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Gabriela deixa três recomendações para outras mulheres que desejam seguir o mesmo caminho: Fale sobre seu desejo – Alguém próximo pode estar precisando de ajuda. Tenha acompanhamento psicológico – Para lidar com as emoções antes, durante e depois da gestação. Priorize-se – "Você não é uma incubadora. Suas vontades e saúde importam".

A gestação transcorreu sem complicações, e o parto — humanizado, como Gabriela desejava — foi um momento de celebração. Hoje, ela usa suas redes para conscientizar sobre o tema e incentivar mais mulheres a considerarem a barriga solidária. "Barriga solidária não é sobre ser heroína. É sobre escolha. Eu quis fazer isso, mas toda mulher precisa se priorizar nesse processo. Se minha história inspirar alguém a ajudar outra família, já valeu a pena".


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