
Em um ambiente tradicionalmente dominado por homens, Carolina Macedo, arquiteta de formação e proprietária da Bulldog Tabacaria em Curitiba, tem se destacado como uma figura inspiradora no mercado de charutos. Sua trajetória ganhou um novo capítulo em 2023, quando ela participou de um curso intensivo de degustação de charutos, sendo a única mulher entre nove homens. A experiência, longe de ser um desafio intimidador, tornou-se um marco de representatividade e aprendizado.
O curso, ministrado pela renomada cigar sommelière Mikaela Paim, foi uma imersão de uma semana no universo dos charutos, abordando desde aspectos históricos e técnicos até práticas de degustação. Para Carolina, a presença de Mikaela como instrutora foi um ponto alto. “Ter uma mulher dividindo aquele espaço comigo, e mais do que isso, sendo a autoridade ali, foi muito gratificante e uma experiência especial”, compartilha.
Apesar de já estar habituada ao ambiente majoritariamente masculino, Carolina reconhece que o curso trouxe uma nova perspectiva. “Foi um grande mergulho no universo dos charutos. A troca com outros profissionais de diferentes áreas me permitiu criar experiências ainda mais singulares para meus clientes”, explica.

Carolina
Um detalhe simbólico marcou a conclusão do curso: o diploma foi emitido com o termo “sommèliere” no feminino. Para Carolina, isso representou mais do que uma simples formalidade. “Ter uma palavra no feminino para definir nossos cargos e títulos faz parte de uma conquista. É mostrar que existimos, que ocupamos esses espaços”, reflete ao IG Delas. Ela ainda destaca a importância histórica das mulheres no mundo dos charutos, citando figuras como Catarina de Médici e a Rainha Vitória, que influenciaram a cultura e o consumo de charutos ao longo dos séculos.
"Como a maior parte da nossa história enquanto sociedade é contada por homens, a do charuto não é diferente. Com isso muitas vezes as mulheres acabam esquecidas, escanteadas. Sempre gosto de falar de Catarina de Médici, Rainha consorte da França que foi a grande responsável por tornar os charutos um produto de luxo. Ela os servia em seus banquetes e ele rapidamente se tornou um produto cobiçado pela realeza. Depois tivemos a Rainha Vitória, que conta a história, foi a responsável pela criação das anilhas. Aqueles rótulos em torno do charuto que hoje carregam o nome das marcas, mas que antes eram fitas de cetim que serviam para não manchar as suas luvas enquanto degustava", detalha.
A trajetória de Carolina no mercado de charutos começou de forma inusitada. Como arquiteta, ela foi contratada para um projeto de reforma na Bulldog Tabacaria, que acabou não sendo realizado. No entanto, em um desses acasos do destino, ela e o pai decidiram comprar a tabacaria. “No início, não achei que o universo dos charutos fosse se tornar amor, mas aconteceu. Já são sete anos nesse mercado”, conta.

Apesar de nunca ter enfrentado situações graves de preconceito, Carolina reconhece que ser mulher nesse ramo ainda traz desafios. “Questionam minha capacidade ao orientar um cliente ou me dão ‘apelidos carinhosos’ em reuniões, enquanto meu pai sempre foi tratado como ‘Doutor’”, relata. No entanto, ela vê o crescente interesse das mulheres pelo universo dos charutos como um sinal de mudança. “Nós estamos cada vez mais ocupando espaços que não foram criados para nós, e isso é incrível.”
Carolina tem se dedicado a promover eventos exclusivos para mulheres, criando momentos de lazer e conexão. “O charuto proporciona isso, e eu tenho utilizado dele e das harmonizações com bebidas que eu crio para proporcionar essas experiências”, afirma. Seu objetivo é que as mulheres tenham, assim como os homens, seus momentos de descontração e apreciação.