
Ser mulher e se destacar em uma profissão historicamente dominada por homens é um desafio diário, especialmente quando se concilia a maternidade. Para a major Gabriela, do Corpo de Bombeiros do Espírito Santo, essa trajetória tem um significado ainda maior: servir de inspiração para outras mulheres.
Conciliar a carreira na corporação com a vida familiar sempre foi um desafio, especialmente para quem sonhava em ser mãe e, ao mesmo tempo, administrar as responsabilidades de casa. Além disso, a paixão pelo esporte fez com que a prática de atividades físicas se tornasse uma parte essencial de sua rotina.
Mais recentemente, a influência digital, natural de Vitória, surgiu de forma natural, sem que houvesse uma busca intencional por esse caminho. Ao compartilhar momentos do dia a dia, desde a profissão até a rotina com os filhos, seu conteúdo ganhou visibilidade nas redes sociais, conquistando um público engajado. Hoje, essa nova fase permite não apenas dividir experiências, mas também inspirar outras pessoas.
Para a major, ocupar cargos de lideranças vai além de ter uma posição de destaque. "É um presente inspirar outras mulheres a serem o que elas quieserem ser, a melhor versão delas", afirma.
Ela ainda enfatiza que ninguém deve dizer que uma mulher não é capaz, reforçando que já ouviu isso muitas vezes ao longo de sua trajetória profissional. "Nunca deixem que te digam que você não é capaz. Acredite nos seus sonhos e vá atrás dos seus objetivos. O céu é o limite, mulherada. Nós vamos dominar o mundo!"
O caminho até o Corpo de Bombeiros
A paixão pela água sempre esteve presente na vida de Gabi. Desde cedo, era uma menina aquática, amante de praia, cachoeiras e do surfe. Mas foi um momento inesperado que mudou sua trajetória: "Eu me deparei com um afogamento e, mesmo sem conhecimento, consegui salvar aquela pessoa. Isso foi o start para eu pensar: ' Quero ser bombeira'."
O caminho até a aprovação no concurso foi longo e exigente, mas ela não desistiu. Ao ingressar na corporação, buscou se especializar na área aquática, um ambiente predominantemente masculino, segundo ela. " Se inserir nesse meio, ainda mais em uma posição de liderança, não foi fácil, mas aos poucos fui mostrando que eu era capaz."
Sua trajetória profissional foi além. Gabriela quebrou mais uma barreira ao se tornar uma das poucas mulheres a concluir o curso de mergulho do Corpo de Bombeiros. Mais do que isso, ela se destacou ao não apenas finalizar a formação, mas também ao se tornar a segunda mulher de seu estado a conquistar esse feito em um dos cursos mais desafiadores da corporação. "Foi um grande desafio, com batalhas psicológicas e físicas, mas eu não deixei que me dissessem que eu não era capaz. Fui até o fim e consegui."
Atualmente, Gabriela alcançou o posto de major dentro da corporação. Além disso, realizou seu maior sonho: a maternidade, que também se tornou um novo desafio em sua vida.
"A prioridade da minha vida tem que ser eu"

Ser bombeira já é uma missão desafiadora. Somar isso à maternidade intensificou ainda mais sua rotina. "Sempre tive o sonho de ser mãe e conciliar tudo foi um desafio: ser bombeira, atleta, influencer e, ao mesmo tempo, estar presente para os meus filhos."
No início, ela conseguiu estar presente na criação do filho, algo que só foi possível graças ao apoio da instituição. " Eu sempre quis ser alimento para os meus filhos e deu certo. Fui muito privilegiada dentro da minha profissão nesse sentido e pude dar todo o amparo que meus filhos precisaram."

Na maternidade, ela também enfrentou grandes desafios, como o parto. Seu sonho sempre foi ter um parto normal, mas na primeira gestação isso não foi possível. Apenas na segunda gravidez, conseguiu realizar o parto humanizado, alcançando um dos seus maiores desejos.
Quando eu tiro um tempo para surfar, logo vêm a pergunta: 'Cadê seus filhos?'
Com tantas responsabilidades, encontrar momentos para si é essencial. "Se eu não tirar um tempo para me conectar comigo mesma, não consigo exercer nenhum dos meus papéis. A prioridade da minha vida tem que ser eu."
Porém, mesmo em momentos de lazer, enfrenta julgamentos. "Quando eu tiro um tempo para surfar, logo vêm a pergunta: 'Cadê seus filhos?'. Isso acontece porque a sociedade ainda espera que a mulher esteja sempre disponível para os outros, mas eu não me deixo abalar."
Independente dos julgamentos, ela separa um momento para fazer coisas que gosta, como "sair para respirar", refletir e pensar. No entanto, ela sabe exatamente onde quer chegar, o que deseja e o que realmente lhe faz bem.
