
O sonho de um rejuvenescimento facial se transformou em um pesadelo para a influenciadora digital Poliana Ferraz, de 35 anos. O que deveria ser um procedimento simples para atenuar marcas de expressão acabou resultando em uma necrose severa no nariz, levando à necessidade de um enxerto de pele para reconstrução da região afetada.
A influenciadora, residente de Taguatinga (DF), foi apresentada à clínica de estética por meio de outra criadora de conteúdo de Brasília, também no Distrito Federal, que divulgava os procedimentos realizados pela profissional. Antes do preenchimento facial, Poliana havia passado por uma lipoaspiração na papada e um preenchimento no queixo, sem complicações. No entanto, ao realizar o preenchimento do sulco nasogeniano, conhecido como "bigode chinês", tudo saiu do controle.
"Comecei a me sentir mal cerca de 30 minutos que o procedimento tinha acabado. Porém, como tenho pressão alta, pensei que esse mal estar fosse em razão disso", relembrou em entrevista ao IG Delas . Minutos após sair da clínica, Poliana começou a sentir uma intensa dor de cabeça e, ao chegar em casa, percebeu que seu nariz estava ficando roxo.
"Na hora, senti que algo estava errado, mas tentei manter a calma e seguir as orientações da profissional", relatou. Seguindo as orientações da profissional, tomou os medicamentos prescritos, mas os sintomas persistiram. Dois dias depois, retornou à clínica, onde tentaram remover o produto injetado sem sucesso. A influenciadora passou, então, por sessões de oxigenoterapia hiperbárica, um tratamento para tentar conter a necrose, pago pela clínica.
Foi apenas durante esse processo que descobriu três informações alarmantes: o produto injetado não era ácido hialurônico, como informado, mas sim PMMA (polimetilmetacrilato), uma substância permanente e de alto risco e proibido pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Além disso, a profissional que realizou o procedimento não era médica, mas sim uma enfermeira; e a necrose causada pela obstrução vascular do nariz se alastrou para a testa e parte do rosto.

Rosto da Poliana em necrose
"Fiquei em choque quando soube que usaram PMMA no meu rosto. Eu não teria permitido se soubesse", lamentou Poliana. A lesão atingiu inclusive o osso nasal, exigindo uma cirurgia de reconstrução, com enxerto de pele retirado da barriga. A influenciadora digital relata que ao questionar a profissional sobre ter usado o PMMA e não o acido hialurônico para o preenchimento facial, ela disse que "era uma substância muito boa, com resultados ótimos e que outras clientes não haviam passado por complicações".
O procedimento foi realizado em 2022 e mesmo que tenham se passado anos desde o ocorrido, Poliana ainda não conseguiu recuperar totalmente a aparência do nariz. Consultando novos especialistas, foi informada de que precisará passar por uma reconstrução facial completa, uma vez que o PMMA não é uma substância absorvível pelo corpo e não foi completamente removido. Atualmente, sem conseguir trabalhar, a influenciadora abriu uma chave PIX para arrecadar fundos para tratamentos, medicamentos e alimentação, já que é responsável por dois filhos, de 18 e seis anos. Ela também recebe auxílio financeiro do governo por meio do Bolsa Família para conseguir se sustentar.
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Poliana Ferraz antes do procedimento
Antes do ocorrido, Poliana atuava como assistente social e sexóloga, ministrando palestras e utilizando sua imagem profissionalmente. Também estava começando uma carreira como influenciadora digital, com publicidades para marcas e venda de produtos íntimos. Segundo ela, as dores no rosto a impossibilitam de trabalhar e até de falar por longos períodos.
Hoje, além das dificuldades financeiras, também enfrenta o abalo psicológico causado pela situação. "Não consigo mais me olhar no espelho sem lembrar do que aconteceu. Minha vida mudou completamente", desabafou. Uma psicóloga, sensibilizada pelo caso, passou a atendê-la voluntariamente.
A influenciadora afirma que nunca foi alertada sobre possíveis riscos ou efeitos adversos do procedimento. Ela também revelou que não questionou a formação da profissional, pois a mesma se apresentava como "doutora" nas redes sociais e no perfil da clínica no Google. "Ela tinha um título de doutora no Instagram, no Google, em tudo. Nunca imaginei que não fosse médica", afirmou. O procedimento custou R$ 1.900 e foi sugerido pela própria profissional, que indicou a aplicação do preenchedor facial juntamente com a lipo de papada, para otimizar os resultados. Agora, Poliana busca por apoio para seguir com os tratamentos e reconstruir sua vida.

Poliana Ferraz durante o processo de cicatrização do enxerto
Para preservar Poliana juridicamente, o nome da enfermeira esteta que fez o procedimento estético bem como o da clínica não será informado nesta reportagem. A resolução COFEN-256/2001 autoriza que um enfermeiro seja chamado de doutor. Enfermeiros tem autorização de Conselhos Federais para realizarem o procedimento de preenchimento facial. Porém, devido às complicações que já foram observadas após seu uso, o PMMA não é recomendado para fins estéticos pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica.
O Conselho Federal de Medicina afirma que o PMMA tem aplicação definitiva e “não pode ser removido de maneira isolada em caso de complicações”, que “sua remoção está necessariamente associada à retirada dos tecidos preenchidos, o que pode resultar em danos estéticos significativos e deformações” e também que “O uso em grandes volumes e com fins estéticos vem aumentando vertiginosamente, inclusive por profissionais não médicos, causando imenso dano à população”.
O material mais adequado para o preenchimento facial é o acido hialurônico, uma substância natural da pele, mas que diminui com o envelhecimento. Para fins estéticos, tem o intuito de preencher sulcos, rugas e outras áreas do rosto. O procedimento é pouco invasivo e deve ser feito em consultório. Os resultados duram de seis meses há um ano e podem ser removidos com hialuronidase, uma enzima que dissolve a substância e é comumente usada em casos de assimetrias, edemas e necrose.