Só existirá equidade de gênero quando houver a divisão justa do trabalho de cuidado
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Só existirá equidade de gênero quando houver a divisão justa do trabalho de cuidado

No Brasil, as mulheres gastam, em média, 21 horas por semana em atividades de cuidado, enquanto os homens gastam apenas 11. Pode não parecer tanto, mas pense a longo prazo:  em um ano, esse tempo dedicado representa cerca de 1.118 horas (47 dias), enquanto para eles será de apenas 23 dias. É quase a metade do tempo que as mulheres dedicam a atividades que não serão remuneradas e que, portanto, trazem uma desproporcionalidade de trabalho e de renda, impedindo muitas vezes a autonomia financeira dessas mulheres. Ou seja: é urgente discutirmos a questão do cuidado e trazermos luz para esse tema muitas vezes invisibilizado, mas que afeta diretamente a vida de todas as pessoas.

Quando falamos em equidade de gênero, precisamos falar de cuidado. Isso porque ele é um dos maiores catalisadores da desigualdade entre homens e mulheres; ainda que seja fundamental para a nossa existência e o funcionamento pleno da sociedade. Quando vemos uma mulher que está sobrecarregada e sendo a única responsável pelo cuidado, ela provavelmente está deixando de ocupar outros espaços. De realizar outros objetivos. De alcançar outras oportunidades.

Esse trabalho de cuidado sobrecarrega principalmente as mulheres de 36 a 55 anos (57% cuidam de alguém) e pretas e pardas (50% cuidam de alguém). São mulheres que, mais do que nunca, estão exaustas. Tarefas com a casa, a comida, a roupa, as crianças, os idosos, os doentes e as pessoas com deficiência se sobrepõem à jornada de trabalho, ao ensino a distância e a toda carga mental que cresceu nos anos de pandemia e permanece até hoje.

E como seria o mundo se este trabalho de cuidado fosse visível, reconhecido e remunerado? Como se comportaria a economia e a valorização desse importante trabalho se houvesse uma divisão mais justa das tarefas. O Laboratório de Economia do Cuidado da ONG Think Olga se dedicou a desvendar o tamanho deste mercado e, acreditem, as 22 horas semanais dedicadas gratuitamente ao cuidado por meninas e mulheres em nosso País equivaleria a 11% do PIB nacional

Isso representa mais que o dobro do que o setor agropecuário produz. Seria o principal motor de crescimento, superando a indústria de transformação, a maior do Brasil e responsável por 11% de toda riqueza produzida por aqui (IBGE, 2019) Globalmente, esse cenário não é tão diferente. O trabalho de cuidado não pago exercido pelas mulheres equivale a 10,8 trilhões de dólares, o que corresponde à quinta economia do mundo. São 12,5 bilhões de horas dedicadas (Oxfam, 2019), que gerariam uma riqueza 24 vezes maior que a do Vale do Silício, só para dar um exemplo.

Quando temos todos esses dados e recortes que mostram a dura realidade é que conseguimos debater junto à sociedade e levar conversas profundas ao setor público para a elaboração de novas políticas e caminhos para lidar com a questão. E aqui estamos, justamente no Dia Internacional do Cuidado estipulado pela ONU. Escrevendo, levantando discussões e pesquisando o tema para democratizar o acesso a informações e garantir dados de qualidade. Fazemos um esforço contínuo para que essa discussão chegue até você e em todas as esferas sociais, com urgência e agilidade.

É fundamental entendermos a profundidade do problema, darmos  um contorno a ele, para que as pessoas percebam que não são questões individuais e sim, coletivas. Fazemos um chamado para que todas as pessoas possam conhecer esses dados e enxergar a Economia do Cuidado como força motriz da sociedade e da própria raça humana . Por isso, deve ser assumida como tarefa de todos e todas. 

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