O congelamento de óvulos é uma saída para mulheres que adoeceram
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O congelamento de óvulos é uma saída para mulheres que adoeceram

Só este ano, mais de 5 mil mulheres em idade reprodutiva foram diagnosticadas com câncer de mama. SUS e planos de saúde devem custear procedimento. Até julho de 2023 já foram registrados pelo Ministério da Saúde 48.937 casos de câncer de mama em mulheres, destes, 5.038 em mulheres entre 20 e 39 anos, em plena fase reprodutiva, quando o congelamento de óvulos é altamente indicado para preservar a capacidade reprodutiva dessas mulheres.

Em agosto, uma medida veio acalentar essa população: o Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu, por unanimidade, que as operadoras de planos de saúde têm a obrigação de custear o procedimento até o término do tratamento com a quimioterapia. No SUS também é possível ter acesso ao congelamento ao se comprovar o câncer.

A radioterapia, a quimioterapia e as cirurgias utilizadas no tratamento do câncer podem levar à infertilidade e, dependendo do tratamento escolhido para a cura do câncer, podem provocar até falência ovariana. Por isso, quanto mais cedo a paciente for diagnosticada, mais rápido ela poderá tomar uma decisão junto ao médico para preservar a fertilidade, dependendo, claro, do tipo e estágio do câncer.

Segundo a especialista em reprodução humana Maria do Carmo Borges de Souza, diretora-médica da Fertipraxis Centro de Reprodução Humana, é importante saber que, dependendo da indicação de quimioterapia, a medicação pode comprometer a reserva ovariana, e o índice de mulheres afetadas nesses casos pode chegar a 80%.

Como preservar a chance da maternidade após o câncer de mama?

Maria do Carmo Borges de Souza, que também é membro do Conselho Consultivo da Associação Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA) e ex-presidente da Rede Latino-Americana de Reprodução Assistida (REDLARA), explica que o tipo de tumor e o estágio da doença podem ser determinantes para o impacto na fertilidade feminina, considerando que essas condições direcionam a necessidade e o tipo de quimioterapia, que em alguns casos provocam a menopausa precoce.

“O congelamento de óvulos antes do início do tratamento oncológico é uma estratégia para a preservação da chance de gerar filhos. Quando isso é feito, os óvulos são preservados dos efeitos quimioterápicos, preservando portanto sua qualidade ao momento da coleta, o que aumenta a perspectiva de sucesso da fertilização in vitro”, complementa.

Segundo a especialista, o congelamento de óvulos é hoje a técnica mais indicada. De modo geral uma estimulação é iniciada no segundo ou terceiro dia a partir de uma menstruação. Mas, hoje pode-se fazer este procedimento em qualquer fase do ciclo, o que agiliza a disponibilidade da paciente para o tratamento oncológico em 12 a 14 dias.

A Fertilização in vitro poderia também ser opção, mas a preservação dos óvulos dá maior autonomia reprodutiva à paciente nas decisões posteriores para a utilização. Trabalhos sucessivamente publicados pelo grupo americano de OKTAY e colaboradores demostram que as mulheres que fazem a preservação antes de uma quimioterapia não tem comprometimento de sua sobrevida, e têm maiores possibilidades de formar sua família.

O congelamento de fragmentos de tecido ovariano, também pode ser considerado, embora não seja a indicação primária nestes casos.

A esperança na medicina reprodutiva


Por outro lado, medicamentos como o tamoxifeno ou inibidores de aromatases como Letrozol, Anastrazol, muito usados para a prevenção de recidivas do câncer de mama, podem ser parte do protocolo para estimular os ovários. Desta forma , além de participar do estímulo, protegem o tecido mamário dos efeitos do aumento do estradiol neste período de 8 a 10-12 dias.

“Uma recomendação médica bastante recorrente é a espera de dois anos antes da tentativa de uma gravidez em razão do maior risco de recidiva grave nesse período. Espera que para as mulheres com planos de gravidez pode ser comprometedora sem a proteção de um método de preservação da fertilidade. Sonhar com a continuação da vida enquanto se encara a realidade de maneira consciente e amparada é, sobretudo, para muitas pacientes, um aumento considerável da expectativa positiva sobre a doença”, diz a especialista.

Como é o congelamento passo a passo

O primeiro passo é a estimulação do ovário com medicações hormonais, injeções subcutâneas diárias por oito a 10-12 dias. Neste período são realizadas entre três a quatro ultrassonografias de acompanhamento e ajustes necessários nas doses.
Uma vez que os folículos estejam nos tamanhos adequados (maiores de 16 mm), acontece o próximo passo, que é o gatilho ou disparo da ovulação, que faz o amadurecimento final dos óvulos. Cerca de 36h depois é realizada a coleta dos óvulos, via transvaginal com sedação leve, procedimento que dura cerca de 20 a 30 minutos.

“Os folículos aspirados são avaliados no laboratório de reprodução, usualmente acoplado à sala de coleta dos óvulos, para a identificação dos óvulos maduros e de boa qualidade morfológica, que serão congelados em até 3h após a coleta. São óvulos que não perderão sua capacidade reprodutiva e nem envelhecerão pelo tempo de congelamento”, afirma o especialista em reprodução assistida e diretor-médico da Fertipraxis Dr. Roberto de Azevedo Antunes.

De acordo com os especialistas, o resultado da fertilização com o óvulo congelado depende de diversos fatores, por isso ter óvulos congelados não é garantia de gravidez e, sim uma possibilidade, visto que é preservada a idade cronológica na hora do congelamento.

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