Cirurgia da enxaqueca trata, em mulheres, dor de cabeça relacionada à menstruação e hormônios, diz estudo
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Cirurgia da enxaqueca trata, em mulheres, dor de cabeça relacionada à menstruação e hormônios, diz estudo

Por que será que a enxaqueca afeta muito mais as mulheres que homens? O Ministério da Saúde estima que de 5% a 25% das mulheres sofrem com o problema, enquanto de 2% a 10% dos homens sofrem de enxaqueca. Um fator potencial que pode desempenhar um papel importante para as dores de cabeça debilitantes em mulheres é o estrogênio.

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“Alterações no estrogênio têm uma associação complicada com enxaquecas, com a prevalência de dores principalmente em três fases da vida de uma mulher: puberdade, menstruação e gravidez. Em um nível fisiopatológico, o declínio do estrogênio antes da menstruação tem sido associado à sinalização pró-inflamatória e vias de modulação da dor. Uma forma de resolver o problema é por meio da cirurgia da enxaqueca”, explica o cirurgião plástico Paolo Rubez, membro da Sociedade Americana de Cirurgia Plástica, Sociedade de Cirurgia de Enxaqueca, e Mestre em Cirurgia Plástica pela Escola Paulista de Medicina da UNIFESP.

O médico cita um estudo recente de Harvard, publicado em outubro, no Plastic and Reconstructive Surgery. O estudo concluiu que mulheres com cefaleias associadas ao estrogênio têm resultados cirúrgicos comparáveis aos de mulheres sem essa associação. “A cirurgia de descompressão do nervo deve ser oferecida a mulheres com dores de cabeça associadas ao estrogênio como uma opção de tratamento. O procedimento tem comprovação científica por vários estudos para a diminuição da intensidade, frequência e duração da enxaqueca, além de diminuir o número de medicamentos”, acrescenta o médico, que é idealizador do Migraine Surgery Academy, que ensina e estimula cirurgiões plásticos de todo mundo a realizarem as cirurgias a fim de beneficiar mais pacientes com o tratamento.

No estudo, das 99 pacientes do sexo feminino que foram submetidas à cirurgia de descompressão de nervos e preencheram os critérios de inclusão, 50 relataram dores de cabeça associadas ao estrogênio. Com 1 ano de pós-operatório, a pontuação do índice de cefaleia de enxaqueca melhorou mais de 80% na maioria dos pacientes (67%).

Cirurgia da enxaqueca tem eficácia comprovada por estudos
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Cirurgia da enxaqueca tem eficácia comprovada por estudos

Segundo o Rubez, a cirurgia para enxaqueca garante segurança e eficácia ao agir na descompressão cirúrgica dos nervos periféricos na face, cabeça e pescoço para aliviar os sintomas da enxaqueca. “A cirurgia é pouco invasiva e tem o objetivo de descomprimir e liberar os ramos dos nervos trigêmeo e occipital envolvidos nos pontos de dor. Os ramos periféricos destes nervos, responsáveis pela sensibilidade da face, pescoço e couro cabeludo, podem sofrer compressões das estruturas ao seu redor, como músculos, vasos, ossos e fáscias. Isto gera a liberação de substâncias (neurotoxinas) que desencadeiam uma cascata de eventos responsável pela inflamação dos nervos e membranas ao redor do cérebro, que irão causar os sintomas de dor intensa, náuseas, vômitos e sensibilidade à luz e ao som”, diz o médico.

As Cirurgias para Enxaqueca podem ser de sete tipos principais nas seguintes regiões: Frontal, Rinogênico, Temporal e Occipital (nuca). Segundo o Dr. Paolo Rubez, para cada um dos tipos de dor existe um acesso diferente para tratar os ramos dos nervos, sendo todos nas áreas superficiais da face ou couro cabeludo, ou ainda na cavidade nasal. O médico explica que cada cirurgia foi desenvolvida para gerar a menor alteração possível na fisiologia local. “Em todos estes tipos, o princípio é o mesmo: descomprimir e liberar os ramos dos nervos trigêmeo ou occipital, que são irritados pelas estruturas adjacentes ao longo de seu trajeto”.

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A cirurgia pode ser feita em qualquer paciente que tenha diagnóstico de Migrânea (Enxaqueca) feito por um neurologista, e que sofra com duas ou mais crises severas de dor por mês que não consigam ser controladas por medicações; ou em pacientes que sofram com efeitos colaterais das medicações para dor ou que tenham intolerância a elas; ou ainda em pacientes que desejam realizar o procedimento devido ao grande comprometimento que as dores causam em sua vida pessoal e profissional.

O Rubez enfatiza que as cirurgias são realizadas em ambiente hospitalar e sob anestesia geral e em alguns casos sob anestesia local. “A duração da cirurgia, para cada nervo, é de cerca de uma a duas horas, e o paciente tem alta no mesmo dia para casa”, conta.

Procedimento é respaldado cientificamente

O estudo atual soma-se a um arsenal de trabalhos científicos que corroboram a técnica. A Cirurgia da Enxaqueca é uma das formas mais eficientes de reduzir a intensidade, frequência e duração da enxaqueca, segundo revisão sistemática, publicada em fevereiro no Annals Of Surgery.

“Foram analisados 68 estudos que confirmaram os resultados e a segurança do procedimento, com baixíssimo índice de complicações e alto grau de satisfação dos pacientes. Vários estudos dão respaldo à cirurgia que, quando não cessa a dor em definitivo, é responsável por diminuir o uso de remédios e melhorar a intensidade da dor. Apesar da disponibilidade de opções de tratamento conservador, como medicamentos, os pacientes sofrem de enxaquecas resistentes que estão associadas a uma má qualidade de vida”, completa o médico.

Desde que foi criada e desenvolvida, a partir de 2000, pelo cirurgião plástico Dr. Bahman Guyuron, em Cleveland, nos EUA, a Cirurgia da Enxaqueca vem sendo estudada, quantitativa e qualitativamente, ano a ano por diversos especialistas no mundo. Em junho do ano passado, um estudo da Harvard Medical School, publicado no Plastic and Reconstructive Surgery, concluiu que a cirurgia de enxaqueca é associada a melhorias nos sintomas de dor de cabeça e também a uma redução significativa no uso de medicamentos.

“Este estudo comparou o uso de medicamentos no pré e pós-operatório de pacientes submetidos ao procedimento e constatou que mais de 2/3 deles diminuíram o uso de medicamentos prescritos, sendo que do total de pacientes que passaram pelo procedimento, 23% não precisaram mais tomar medicamento algum”, explica Rubez, membro da Sociedade de Cirurgia de Enxaqueca (EUA).

Na pesquisa, 96% dos pacientes descreveram tomar medicamentos prescritos para a dor de cabeça. Após 12 meses da operação, 68% dos pacientes relataram diminuição do uso de medicamentos prescritos. “Os pacientes relataram uma redução de 67% no número de dias em que tomaram a medicação; além disso, metade dos pacientes relataram que a medicação para enxaqueca, após a cirurgia, os ajudou mais em comparação com o período pré-operatório”, destaca o Dr. Paolo.

Análises qualitativas também foram publicadas. Em 2019, um artigo publicado na Plastic and Reconstructive Surgery, publicação da American Society of Plastics Surgeons, mostrou que a cirurgia de enxaqueca parece impactar positivamente a vida dos pacientes. “Os pacientes relataram, no estudo, se beneficiar da cirurgia de maneiras que não são capturadas atualmente nas métricas quantitativas. Alguns pacientes chegaram a afirmar, nas entrevistas, que após a cirurgia voltaram a sentir-se como uma ‘pessoa normal de novo’, tendo em vista as melhorias em um ou mais domínios da dor após a cirurgia e mudanças no uso e eficácia da medicação”, finaliza o Rubez.

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