Em depoimento à revista Vogue, a modelo Cintia Dicker contou pela primeira vez o motivo pelo qual a filha, Aurora, precisou passar por uma cirurgia logo após o parto
Reprodução/Instagram
Em depoimento à revista Vogue, a modelo Cintia Dicker contou pela primeira vez o motivo pelo qual a filha, Aurora, precisou passar por uma cirurgia logo após o parto

Poucos dias depois de compartilharem o nascimento da filha, Aurora, no último dia 26 de dezembro, o surfista Pedro Scooby e a modelo Cintia Dicker anunciaram que a bebê precisou passar por uma cirurgia logo após o parto — o motivo até então era desconhecido. Em depoimento à revista Vogue nesta semana, a modelo revelou pela primeira vez que Aurora foi diagnosticada com gastrosquise, uma malformação congênita, em que a criança nasce com parte do intestino "para fora".

"Quando soubemos da existência da gastrosquise, descobrimos também que, para segurança do bebê, a Aurora deveria nascer entre 37 e 38 semanas e através de uma cesárea. Logo após o nascimento, nossa filha precisaria ser operada, então era necessário que toda a equipe médica estivesse disponível", declarou Cintia. Ela e Scooby teriam recebido o diagnóstico da filha com doze semanas de gestação, durante um ultrassom.

"Não conhecíamos essa condição e tive muito medo por não saber como seria a cirurgia e também a recuperação dela. [...] Eram muitas as dúvidas e inseguranças que martelavam minha cabeça: Como seria o parto? Eu veria o intestino dela para fora? Como seria a UTI? A cirurgia daria certo?", disse ainda.

O que é gastrosquise

"A gastrosquise é um "defeito" na parede abdominal, geralmente ali do lado direito do umbigo... A parede abdominal não se fecha, e aí tanto o intestino como às vezes outras vísceras abdominais podem ficar soltos dentro da cavidade amniótica, flutuando no líquido amniótico", explica Gustavo Patury, médico cirurgião do aparelho digestivo no Hospital São Luiz e membro titular do Colégio Brasileiro de Cirurgia Digestiva.

É uma condição com incidência variável, atingindo entre 4 a 5 bebês a cada 10 mil nascidos vivos, de acordo com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

Aurora veio ao mundo com
Wikimedia Commons
Aurora veio ao mundo com "gastrosquise", uma malformação congênita em que a criança nasce com parte do intestino "para fora"


Causas 

A malformação na parede abdominal acontece entre a 4ª e a 10ª semana de gestação e ainda não se sabe ao certo a sua causa exata, mas existem diversas teorias. Alguns fatores como o uso de bebidas alcoólicas, drogas e tabaco durante a gravidez podem estar associados ao surgimento das gastrosquise, além da frequente ocorrência de infecções urinárias. A condição é mais comum em filhos de mulheres mais jovens, principalmente adolescentes, ainda conforme a Fiocruz.

Como é feito o diagnóstico

Segundo Gustavo Patury, a descoberta normalmente acontece na 12ª ou 13ª semana de gestação durante o ultrassom morfológico. A ultrassonografia detecta 90% dos casos nos países desenvolvidos, informa a Fiocruz. O diagnóstico também pode ser feito por exames de sangue, que detectam níveis elevados de alfa feto proteína (AFP), principal proteína do soro fetal.

O médico ainda diz que o ideal é que essa descoberta aconteça antes do parto, e por isso, é importante que haja um acompanhamento pré-natal, com o próprio ginecologista, e um acompanhamento durante e pós-parto, porque o bebê é submetido à cirurgia logo quando nasce. "As vísceras estão expostas, então o risco de infecção é muito alto".

"Precisa ter o acompanhamento de uma equipe multidisciplinar. Às vezes, a criança é submetida a duas, três cirurgias. Então precisa ter o apoio de um nutrólogo, tem que ter um obtestra experiente, um cirurgião pediátrico disponível, toda uma equipe de neonatologia, para que não haja nenhum risco para o bebê ou para a mãe".

Parto

A Fundação Oswaldo Cruz diz que, apesar dos diversos estudos realizados, a via e o momento do parto continuam incertos. Segundo a entidade, a maioria dos serviços recomenda o parto por via vaginal, se não houver complicação materna ou fetal que indiquem a interrupção da gestação.

Se não houver equipe cirúrgica e anestésica 24 horas por dia, 7 dias na semana, a Fiocruz recomenda que seja feita uma cesariana a partir de 39 semanas.

No caso de Aurora, Cintia Dicker revelou que os médicos recomendaram que o parto fosse cesária e acontecesse entre a 37ª e a 38ª semana de gravidez. A opinião é compartilhada pelo médico cirurgião do aparelho digestivo Gustavo Patury. "O parto normal tem mais risco de perfuração intestinal. A criança também acaba fazendo mais esforço intra abdominal porque chora muito", diz.

"Esse período também é o ideal por causa da maturação pulmonar do bebê. Então, antes da 37ª ou da 38ª semana, corre o risco do bebê ainda não estar com o pulmão todo maduro para respirar. E depois, o risco é justamente da paciente entrar em trabalho de parto".

Pós-operatório

Depois da primeira cirurgia de reconstrução da parede abdominal, Aurora passou 16 dias na UTI. "Na UTI ela se saiu muito bem. Passou os cinco primeiros dias apenas se alimentando de soro e isso cortava meu coração ao pensar que ela estava com fome. Aurora evoluiu, dia após dia, até que precisou de uma anestesia geral para conseguir passar a sonda intravenosa. Mais uma vez, um nó no coração, mas ela aguentou forte e dali para frente a vida foi normalizando", contou Cintia no depoimento à Vogue.

"Felizmente ultrapassamos todas as dificuldades e estar em casa com ela é o melhor dos sentimentos. A Aurora nasceu grande com 4,030kg e 54 cm, uma grande menina com uma grande fome (risos). Na madrugada a rotina é cansativa. Ela acorda de três em três horas e mama por mais ou menos 1h30 entre sonecas que acontecem no peito", continuou ela.

A vida depois da gastrosquise

"As crianças que não tiveram nenhuma complicação em termos de perda de parte do intestino (justamente por causa de alguma lesão), acabam evoluindo muito bem. Têm riscos de hérnia abdominal por causa da cirurgia e de formar aderência [faixas de cicatrizes que podem se formar entre os órgãos]. Mas fora esses riscos, têm uma vida completamente normal", finaliza o médico Gustavo Patury.

Cintia Dicker terminou o seu depoimento dizendo que passou por muitos aprendizados que não caberiam em um texto, mas que fazia questão de mencionar alguns: "Viver tem um novo sentido, esse é o maior amor do mundo e eu faço qualquer coisa para minha filha estar bem. Aprendi a valorizar de uma outra forma a minha mãe e todas as mães da UTI pela força inesgotável", concluiu a esposa de Pedro Scooby.

** Gabrielle Gonçalves é repórter do iG Delas, editoria de Moda e Comportamento do Portal iG. Anteriormente, foi estagiária do Brasil Econômico, editoria de Economia. É jornalista em formação pela Universidade Estadual Paulista (Unesp).

    Mais Recentes

      Comentários

      Clique aqui e deixe seu comentário!