Dismorfia corporal: transtorno aumenta com as cirurgias plásticas

O país recorde em cirurgias plásticas, também tem em média 4 milhões de brasileiros sofrendo do transtorno de dismorfia corporal

Redes sociais impactam negativamente a autoestima das mulheres ao redor do mundo.
Foto: shutterstock
Redes sociais impactam negativamente a autoestima das mulheres ao redor do mundo.

Até onde a preocupação com a aparência é algo normal e saudável? Para a maioria das pessoas, procurar maneiras de mudar o próprio corpo para se sentir melhor com ele é algo muito comum. Indo desde  pintar o cabelo com uma cor que goste, ou até mesmo investir em produtos de beleza para melhorar o aspecto da pele. Contudo, em alguns casos, essa preocupação com a aparência acaba por afetar negativamente a saúde psicológica e física da pessoa.

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A chamada disformia corporal é caracterizada por um indivíduo que começa a acreditar que seu corpo tem inúmeros defeitos, que causam grandes angústias nessa pessoa, que, por sua vez, pode chegar ao ponto de colocar a própria vida em risco, apenas para conquistar o ideal de beleza imaginado por ela. É o que explica a cirurgiã plástica Thamy Motoki. 

“A dismorfia corporal é uma condição psicológica, em que há uma preocupação excessiva com a aparência corporal. O paciente foca em um defeito pequeno no corpo dele, às vezes pode ser até um defeito inexistente, mas ele foca de maneira tão obsessiva e associando a aparência com as insatisfações que ele tem de uma maneira geral. Isso muitas vezes gera uma baixa autoestima, sofrimento e até mesmo problemas na vida social da pessoa. Em casos mais graves, o paciente  pode até mesmo chegar a tentativas de suicídio”, conta a cirurgiã. 

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Segundo a médica, cerca de 4 milhões de brasileiros sofrem do transtorno de  disformia corporal. Esse número é demonstrado pelo volume de cirurgias plásticas realizadas no Brasil. De acordo com dados da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética e da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, o Brasil ultrapassa os Estados Unidos, em números de plásticas feitas ao ano, ocupando primeiro lugar no mundo, como o país em que mais cirurgias plásticas são feitas. 

Apesar do descontentamento com a aparência ser algo antigo, os especialistas acreditam que esse agravamento dos últimos anos pode estar sendo causado pela influência das redes sociais. Já que nelas, a aparência dos indivíduos pode ser facilmente moldada, criando padrões de beleza inatingíveis. 

“Com o advento da internet e o surgimento das redes sociais como o TikTok, Instagram, Facebook, as pessoas estão cada vez mais imersas nesse mundo e elas tentam cada vez mais se assemelhar às celebridades que estão nesse meio. As pessoas querem aquela beleza de filtro da internet, querem acordar e dormir bonitas. Por isso o transtorno de disformia corporal está cada vez maior no nosso meio”, argumenta Motoki. 

Uma pesquisa feita pelo American Academy of Facial and Reconstructive Surgery, em 2017, entrevistou inúmeros cirurgiões plásticos, para tentar entender o porquê de as pessoas decidirem fazer procedimentos de beleza mais invasivos. O resultado mostrou que 55% dos profissionais entrevistados relataram que uma das principais motivações para os seus pacientes buscarem a cirurgia era para parecerem “melhor” em fotos. 

Qual é o papel dos profissionais da saúde? 

Para Thamy é preciso um olhar mais atento e empático dos profissionais da saúde, para perceberem indícios de disformia corporal no paciente. Ela relata que, em muitos casos, nem a própria pessoa percebe que tem o transtorno e que por isso é tão importante ter um olhar atento para poder lidar com essa pessoa da melhor forma. 

“Os profissionais que lidam diretamente com questões estéticas, como os cirurgiões plásticos, têm que estar abertos a atender esses pacientes com transtorno de disformia corporal e ter uma sensibilidade na hora do atendimento desse paciente. Muitas vezes a pessoa com o transtorno de disformia corporal não percebe que tem essa condição, a não ser nos estágios mais avançados da doença, quando o seu sofrimento já é muito mais intenso,  mas nas fases mais iniciais, para ela está tudo bem” explica a médica. 

Ela também aponta que apesar de algumas queixas dos pacientes poderem ser infundadas, o profissional não deve ignorar ou fazer pouco caso delas. Porque, para uma pessoa que está vivendo o transtorno, essa sensação de insatisfação com o corpo é muito intensa. 

“O sofrimento desses pacientes é um sofrimento muito real e doloroso e a gente precisa mostrar para essa pessoa, de forma clínica e empática, que o problema que ela acredita ter não existe ou não é um caso cirúrgico. Sempre indicando que esse paciente busque um tratamento psicológico especializado”, diz Thamy.