Pressão estética: porque brasileiros se endividam para fazer plástica

Especialistas explicam como o padrão de beleza afeta as mulheres diariamente

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Brasil é o segundo colocado em ranking internacional de número de cirurgias plásticas


Os pedidos de empréstimo destinados a tratamento estético tiveram um aumento de 97% no último ano, segundo a última edição do Índice FinanZero de Empréstimos (IFE). O relatório, que é produzido mensalmente, revela uma crescente procura por cirurgias plásticas no Brasil.

No país, diversos bancos e empresas oferecem programas especiais de crédito para mudanças estéticas. No Banco Bradesco, por exemplo, o programa CDC Cirurgia Plástica é exclusivo para esse tipo de intervenção. Já na Caixa Econômica, o crédito consignado aceita propostas para cirurgias plásticas.

Devido aos altos valores dos procedimentos, milhares de brasileiros se endividam e buscam por empréstimos e crediários para arcarem com os custos dessas cirurgias, que variam de 5 até 30 mil reais.

Os empréstimos, dívidas e poupanças têm resultado: em 2020, a Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética registrou 1,3 milhão de cirurgias plásticas no Brasil. Entre as principais cirurgias, estão a lipoaspiração, a prótese mamária (silicone), a cirurgia de pálpebra e a rinoplastia. 

Cirurgias plásticas

Além das cirurgias de reparação corporal, como a remoção do excesso de pele após a bariátrica ou a redução de mama, milhares de brasileiras enfrentam a sala de cirurgia para sanarem problemas de autoestima.

A influencer GKay, por exemplo, causou polêmica após revelar, em suas redes, o resultado de uma lipoaspiração que realizou na semana anterior.

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''Deixem eu ser feia em paz'', declarou GKay após leitura de críticas

No vídeo, diversos seguidores criticaram a influencer. ‘'GKay tinha um corpo lindo. A boca estava perfeita. Por que ela foi mexer nisso tudo?’', declarou uma seguidora. Já outros apoiaram a decisão: ‘’Geral falando da barriga dela e eu só queria estar com a minha do mesmo jeito’’.

Em entrevista ao iG Delas , o médico da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, Dr. Victor Cutait, afirma acreditar que as redes sociais têm grande impacto no que as mulheres vêem como ‘corpo perfeito’ nos últimos anos.

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'Você precisa entender a pessoa antes de propor um tratamento'', afirma Victor

‘’O fato de termos a rede social como o veículo de comunicação mais importante faz com que a imagem seja hiper valorizada, a ponto dessa questão chegar aqui no meu consultório’’, declara.

Em suas consultas, o especialista reitera que busca entender o motivo que levou suas pacientes até o consultório: ‘’Qual é a razão que ela quer melhorar? [É importante saber] se a razão é dela, se a razão é do outro, se a razão é externa, e aí sim adequar o tratamento necessário’’.

Victor menciona que, em diversas consultas, o tratamento não é cirúrgico. Conversando com suas pacientes, ele consegue sanar as principais dúvidas sobre as cirurgias. Em certos casos, o profissional chegou a indicar terapia.

Com a propagação do corpo perfeito nas redes e os ideais imaginários, o profissional acredita que a visão da cirurgia plástica se tornou distorcida para muitas pessoas. ‘’Eu tenho uma brincadeira que eu adoro que é assim: o cirurgião plástico não é Deus. Ele não vai fazer você de novo. [...] Mas ele ajuda você’’.

‘’A partir do momento que você respeita a sua característica pessoal, pode ter certeza absoluta que a sua cirurgia vai ser um sucesso. Mas ela precisa ser feita com respeito’’, finaliza. 

Pressão estética e saúde mental 

Se, no passado, as modelos estampavam as capas de revista e ditavam os padrões de beleza, as redes sociais são, agora, as detentoras desse protagonismo.

O psicólogo Rogério Bosso explica que os padrões sociais estéticos atingem, principalmente, as mulheres jovens e adolescentes, que, na sua maioria, consomem esse tipo de conteúdo. 

‘’Mulheres, incluindo as adolescentes, tendem a perceber uma imensa cobrança que transcorre os padrões estipulados pela sociedade e pela mídia, bem como pela própria autocobrança. Como resultado, podem viver sentimentos constantes de insatisfação, principalmente, no que diz respeito ao físico’’, afirma.

O expert aponta que a idealização de corpos de celebridades é um dos maiores fatores da pressão estética. Bosso acredita que o padrão de vida inacessível das influencers é mascarado pela superexposição nas redes, o que leva muitas mulheres a acreditarem que, pela falsa proximidade, essas famosas levam uma vida perfeita.

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''Nem todo o cuidado com o corpo e estética se resume a problemas psiquiátricos. O problema está no excesso'', declara o profissional

De acordo com o terapeuta, essa idealização tem consequências reais na saúde mental.  Sem as condições de realizarem uma cirurgia, diversas mulheres chegam a desenvolver distúrbios alimentares, quadros de ansiedade e até depressão. 

‘’Quando a mulher idealiza um corpo perfeito, ela possivelmente estará disposta a se submeter a procedimentos externos que moldem o corpo idealizado. O problema é que a busca não está ligada ao corpo em si, mas a promessa que esse corpo traz de felicidade, ou seja, a mulher se diminui, não valoriza seu próprio corpo e passa a se comparar com corpos próximos ao que visualiza como ideal’’.

Para ele, a pressão estética pode ser tratada pela psicoterapia, já que, com a ajuda de um profissional, as mulheres podem refletir sobre os impactos da estética na saúde mental. ‘’Nesse processo, a mulher poderá perceber que a vida não precisa ser uma competição para se encontrar a felicidade, trabalhar sua autoestima, se conhecer melhor e desenvolver habilidades de receber e validar elogios’’, finaliza.

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