No último ano, a ciência teve um papel protagonista no contexto da pandemia da COVID-19 e as mulheres estiveram na linha de frente
. A área ganhou ainda mais reconhecimento e vem desempenhando papel-chave na solução de diferentes desafios do mundo.
Há 16 anos a L’Oréal Brasil, em parceria com a UNESCO no Brasil e a Academia Brasileira de Ciências (ABC), promovem o programa “Para Mulheres na Ciência”, com o objetivo de transformar o cenário científico, contribuindo para o equilíbrio de gêneros na área.
Modelos estatísticos para acompanhar a pandemia do novo coronavírus, estudo das mudanças climáticas, restauração do bioma e conexão entre a saúde do meio ambiente, dos animais e dos seres humanos, são alguns objetivos dos trabalhos vencedores da edição 2021.
Para apoiar jovens mulheres cientistas a darem prosseguimento aos seus estudos, o programa “Para Mulheres na Ciência” contempla sete jovens pesquisadoras das áreas de Ciências da Vida, Ciências Físicas, Ciências Químicas e Matemática com uma bolsa-auxílio de R$50 mil.
É o caso da Lílian Silva Catenacci, professora da Universidade Federal do Piauí (UFPI). Em seu trabalho de campo, ela já percorreu diversas regiões do Brasil para fazer pesquisas com a abordagem da saúde única. Sua premissa é simples e certeira: pensar a saúde humana, animal e do ambiente de forma conectada. “Não dá para separar uma coisa da outra”, declara Lilian.
Também premiada na categoria Ciências da Vida, a bióloga e professora da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Letícia Couto Garcia, estuda como restaurar o bioma do Pantanal, levando em consideração sua importância ambiental e econômica. Equilibrar as demandas da sociedade e a conservação dos ecossistemas é a especialidade da cientista, que trabalha com a restauração do Pantanal e seu entorno.
“O Pantanal é, por definição, bem adaptado ao fogo. Mas, nos últimos anos, observamos uma intensificação perigosa das queimadas. Cerca de 43% das áreas que queimaram no Pantanal em 2020 não queimavam há 20 anos”, explica Letícia, mencionando resultado de estudo recentemente publicado com seus colaboradores.
Vigilância de vírus como dengue, zika, chikungunya e febre amarela é o mote da laureada Marta Giovanetti, também na categoria Ciências da Vida. De acordo com Marta, para aprimorar a atenção à saúde pública, é fundamental entender a dinâmica de disseminação dos vírus causadores dessas doenças. Uma ferramenta preciosa nessa tarefa é a vigilância genômica, foco da pesquisa da virologista da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
“A vigilância genômica e o monitoramento de agentes patogênicos circulantes são fundamentais também para a predição de futuros surtos e epidemias ainda em estágio inicial e, dessa forma, podem auxiliar também no controle de doenças infecciosas emergentes”, ressalta Marta.
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A ecóloga Thaísa Sala Michelan, professora da Universidade Federal do Pará (UFPA), foi reconhecida na categoria Ciências da Vida pelo estudo das plantas aquáticas da Amazônia, em especial aquelas presentes no estado do Pará.
Desde 2017, ela estuda a biodiversidade local e, agora, prepara-se para o desafio de percorrer riachos, brejos e lagos do estado para identificar as espécies presentes em cada região e entender como as atividades humanas, como a agricultura e a pecuária, impactam a ocorrência dessas plantas, que são fundamentais para o ambiente que ocupam. “As plantas aquáticas dão estrutura e abrigo para diferentes espécies. Por exemplo, servem de berçário para alevinos (filhotes de peixes), inclusive alguns que usamos na nossa alimentação”, explica.
Já na categoria Ciências Químicas, Ana Cecília Albergaria-Barbosa, professora da Universidade Federal da Bahia (UFBA), investiga a presença de poluentes na Antártica. Antes da pandemia da Covid-19, ela viajou por cerca de dois meses à Antártica para coletar amostras de sedimentos e materiais que ficam suspensos na água.
De volta ao seu laboratório em Salvador, ela vai analisar as amostras em busca de três tipos diferentes de poluentes: hidrocarbonetos policíclicos aromáticos, poluentes orgânicos persistentes e contaminantes emergentes. “Todas essas substâncias podem chegar até a Antártica por alguns caminhos diferentes”, explica Ana Cecília. “Uma possibilidade é chegar por via atmosférica. Compostos voláteis usados em regiões tropicais, de clima quente, atingem camadas bem altas da atmosfera, viajam pelo planeta e, depois, se depositam em lugares mais frios, como a Antártica.
Outra forma pela qual os poluentes se espalham é por meio de animais marinhos, como baleias e aves, que migram de regiões tropicais para os polos. E, no caso dos hidrocarbonetos, a poluição pode acontecer de forma local, com o uso de combustíveis fósseis em navios que vão à Antártica e estações de pesquisa que usam diesel para gerar energia”, completa.
Vencedora na categoria Ciências Matemáticas, Fernanda De Bastiani, professora da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), concentrou parte de suas pesquisas de matemática e estatística em torno da emergência de saúde pública enfrentada pelo mundo e, em particular, pelo seu estado.
Seu objetivo é ajudar na compreensão da variabilidade espacial da Covid-19 em Pernambuco, observando em cada localidade o número de casos, número de mortes, taxa de incidência e outras variáveis. “Por exemplo, podemos avaliar a taxa de letalidade da doença e tentar associar isso a índices socioeconômicos. Ou podemos descobrir que os municípios mais populosos não necessariamente têm maior incidência de Covid-19, e aí vamos investigar por que algumas regiões têm mais casos do que outras”, especula.
No Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), localizado em Campinas-SP, a física Ingrid David Barcelos ganhou reconhecimento na categoria Ciências Físicas pela pesquisa da pedra-sabão. Seu interesse é o estudo da luz dentro de estruturas muito pequenas, de apenas alguns nanômetros (um nanômetro equivale um milionésimo de milímetro).
Apesar do tamanho reduzido, as possibilidades são gigantes: a partir desse conhecimento será possível desenvolver novas tecnologias para, no futuro, melhorar a eficiência de dispositivos optoeletrônicos como chips de computadores e celulares, além de aplicações em telecomunicação. “As propriedades dos materiais – por exemplo, a forma como conduzem calor ou eletricidade – podem mudar drasticamente na nanoescala”, explica a cientista.
Como pesquisadora negra, Ingrid conta que por vezes se sentiu intimidada por estar em um ambiente majoritariamente branco e masculino, mas teve a sorte de ser acompanhada por colegas cientistas mulheres: “seguramos na mão uma da outra e fomos trilhando juntas esse caminho”. Por conta de tudo que viveu, incluindo piadas preconceituosas da parte de quem não acreditava que a ciência era o seu lugar, Ingrid sabe da importância da representatividade feminina e negra no ambiente acadêmico.