Maria Lina e Whindersson Nunes
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Maria Lina e Whindersson Nunes



O falecimento de João Miguel, filho de Whindersson Nunes e Maria Lina,  na madrugada de segunda-feira (31) foi recebido com tristeza pela família , fãs e  famosos, como Maisa, Felipe Neto e Wasley Safadão.  Entre tantos comentários sobre a morte do pequeno João, alguns demonstram a falta de sensibilidade com um momento que já é invisível por si só.

"Eu vi muita gente usando a perda deles como forma de promoção. Psicólogos fazendo postagens e marcando eles, sem se preocupar que por serem pessoas constantemente expostas, o que eles precisam neste momento é de respeito ao momento dos dois. O luto parental é um processo intenso especialmente no começo e que não desaparece nunca. Eles sempre serão pai e mãe do João Miguel", comenta Tatiana Rott de Oliveira Maffini (40), presidente da  organização não-governamental (ONG) Amada Helena que promove o acolhimento ao luto parental.

A ONG nasceu em 2012, quando Tatiana lidava com a perda de sua filha Helena, que faleceu de um sopro cardíaco após 17 dias a espera de um leito na UTI neonatal. Quatro meses depois, ela e o pai começaram a buscar formas de resolver o problema na falta de leitos e se depararam com muitas mães e pais passando pelo mesmo processo de luto que eles - e todos sem acolhimento adequado.

"Nós achávamos que era só com a gente, pois não tinha onde falar. Não existiam grupos de apoio nem materiais sobre. Então eu e a Fla (madrinha da Helena) começamos a pesquisar e encontramos instituições internacionais com 40 anos de trabalho, e sonhamos em trazer para o Brasil os projetos, mas sem entender que isso era uma causa social", lembra Tatiana.

Pais enlutados

Quando se fala da perda de um bebê, é bastante comum ver o termo mãe de anjo, mas pouco se fala sobre o luto do pai e como a existência do mesmo é validada através do termo luto parental ou pais enlutados. Quem fala mais sobre isso é Cindy dos Anjos, mãe da Amelie (que faleceu durante a gestação) e do Nico (chamado de bebê arco-íris, a criança que nasce depois de uma perda).

Cindy teve uma perda gestacional pois o coração dela parou de bater ainda dentro da barriga. No ultrassom, o médico que deu a notícia falou que ela não precisaria fazer uma cesaria obrigatoriamente. Ela já seguia uma página sobre luto materno ( Do luto à luta ) e ali se informou mais sobre como trazer a Amelie via parto vaginal ajudaria no processo do luto.

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"Eu não queria passar por uma cesária, não queria a cicatriz da cesária, uma cicatriz física além da morte dela para eu ver e lembrar. Então a gente decidiu induzir o parto. Eu internei dois dias após o falecimento dela e todo o processo durou cerca de 34 horas. Foi um processo muito importante para mim sentir as contrações, sentir ela nascendo, para que eu pudesse ir significando as coisas dentro de mim", conta Cindy.


Cindy diz ter certeza que só conseguiu viver o momento desta forma porque pagou uma equipe particular. Ela e o marido foram preparados por uma das parteiras que acompanhou o momento sobre o bebê que eles iam receber: um bebê molinho, a coloração. Tharcus, marido de Cindy, também participou de grupos de apoio, terapia em conjunto e precisou processar o luto em meio ao silêncio de tantos homens.


"Eu queria viver a dor da perda da minha filha"

"Eu me permiti entrar nessa dor e eu tive que lidar com outras pessoas que não queriam me permitir viver esta dor. No momento em que você está triste, as pessoas querem te alegrar. Então eu comecei a falar para as pessoas me deixarem neste lugar, eu preciso desse lugar de tristeza, eu preciso chorar a morte da minha filha. Eu não estou preocupada se eu vou engravidar de novo ou com pessoas que diziam que logo eu teria outro filho. Eu queria viver a dor da perda da minha filha", conta Maria Fernanda Jacob (40), fisioterapeuta e fundadora do grupo Céu Estrelado .

Ao falar sobre Alice, sua filha que faleceu com sete dias de vida, após um parto prematuro com 26 semanas de gestação, Maria Fernanda lembra que achava muito triste as perguntas que o marido dela recebia sobre a morte da filha. "Só perguntavam para ele como eu estava, como se ele também não estivesse vivendo e sentindo aquilo também." 

Projetos de lei sobre luto parental

No Rio Grande do Sul, onde Tatiana mora, já existe uma lei que institui a semana estadual de conscientização sobre a causa do luto parental . Ela ainda busca a passagem de um projeto de lei que estabelecem procedimentos a serem adotados nos casos de perda gestacional, natimorto e perda neonatal nos serviços públicos e privados de saúde

A nível nacional, ainda não existem orientações humanizadas sobre como proceder nestes casos. Bebês com menos de 500 gramas são considerados lixo hospitalar, não havendo a possibilidade de que mães e pais que querem se despedir possam fazê-lo.

Além disso, a ONG organizou e disponibilizou online uma cartilha de orientação ao luto paretanal , sobre o luto como tabu, no mundo, sistema único de saúde, os diversos tipos de perda e os caminhos de quem fica. Tatiana conta que até o momento, a cartilha já teve mais de 17 mil downloads e com isso ela espera que muitas famílias possam ser ajudadas em sua caminhada com uma saudade que vai durar para sempre.

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