Segundo o dicionário Oxford Languages, a palavra nascimento significa o ato de nascer. Ou, no seu sentido figurado, também pode ser “começo ou princípio de algo”. Dessa forma, quando pensamos no termo, logo nos vem a imagem de mulheres dando à luz. No entanto, há mães que nascem sem ter gerado seus filhos. É o caso de Priscila e Nátalia, duas mulheres que nasceram para a maternidade por meio da adoção.
Priscila Melin, 36, conheceu seu filho, Pedro, quando ele tinha nove dias de vida. “Eu e o meu esposo ainda solteiros já falávamos em adotar, mas nunca tínhamos decidido de fato. Depois de casados, passamos um tempo tentando engravidar, mas descobrimos a infertilidade dele. Isso só veio para confirmar algo que já estava em nosso coração, e optamos pela adoção”, conta Priscila.
No Brasil, o processo de adoção é gratuito, e deve ser realizado na Vara da Infância e da Juventude de cada município. De acordo com o Cadastro Nacional de Justiça (CNJ) há 8.522 crianças registradas no Cadastro Nacional de Adoção (CNA) e 46.390 pretendentes a adotá-las. Mas o caminho para se tornar apto a entrar na lista de espera é longo.
Primeiro, é preciso reunir uma série de documentos que serão analisados. Depois, é preciso passar por uma avaliação com profissionais de áreas diferentes, como psicólogos e assistentes sociais. Em seguida, a análise do requerimento pelo Sistema Judiciário e, por fim, a busca pela criança ou adolescente.
Contando o início dos trâmites burocráticos, o período na lista de espera e o momento em que Priscila e o marido receberam a tão aguardada ligação se passaram três anos. "Como éramos os primeiros da fila, fomos chamados para buscar o Pedro, que ainda estava no hospital. Foi o momento mais lindo que eu já pude vivenciar. Naquele mesmo dia ele foi para casa conosco”, conta.
Você viu?
Na maternidade, Priscila descobriu que poderia amamentar o filho , com ajuda de profissionais que induziram o aleitamento. Hoje, o Pedro tem 3 anos e é um menino falante e atento. "Ele é o nosso filho amado, muito esperto e carismático, cheio de amor para dar”, diz.
Como se fosse um teste de gravidez
“Não sei de onde veio o meu desejo em adotar, é uma coisa que esteve dentro de mim desde a minha adolescência", revela Natália Garcia, 31. Ela é mãe de quatro adolescentes Daniel, Danilo, Clarisse e Yasmin, que foram adotados com 6, 9, 12 e 16 anos, respectivamente. Hoje, eles têm 13, 14, 14 e 18 anos.
Ela diz que se sentiu mãe assim que entregou a documentação necessária, como se estivesse segurando um teste de gravidez positivo. Seus filhos mais velhos, Daniel e Danilo, chegaram em 2014. “Quando vi os meninos pela primeira vez, fui consumida por um amor sem igual e um misto de sentimentos: ansiedade, medo e felicidade”.
Ela conta sobre a dificuldade que teve por adotar os primeiros filhos, já que eles ainda possuíam vínculos com a família biológica. "Minha comarca não tinha uma equipe técnica, o que fez o processo ser longo e bem difícil". A terceira filha, no entanto, foi mais simples porque os profissionais responsáveis tinham um preparo maior e o processo foi rápido e nada complicado.
Há dois anos, ela adotou Yasmin, na época com 16 anos. O último caso foi diferente, por conta da pandemia, o processo ainda não pode ser finalizado, embora ela afirme que tudo caminha bem. Adotar crianças com idade avançada é algo incomum no Brasil. De acordo com o CNA, apenas 0,15% dos pais aceitam adolescentes de até 17 anos.
Natália relata que sofreu preconceito por causa de suas escolhas. "Tanto por adotar, como por ter um perfil amplo, aceitando crianças e adolescentes e sem me importar com a raça, me fizeram escutar muitos comentários maldosos".
Contudo, o amor pelos filhos sempre foi maior que qualquer tristeza que esses comentários pudessem causar. “Ser mãe é, apesar de todos os sacrifícios, aceitar que nossos filhos são indivíduos e que o caminho deles pode ser diferente do que desejamos. Por isso, tudo o que nos resta é apoiá-los, amá-los e levantá-los dos tombos”.
Você viu?