Ser mulher é temer pela própria segurança o tempo todo. Por causa disso, buscando a própria proteção, muitas passaram a pesquisar nomes de potenciais paqueras, médicos e até mesmo de motoristas de aplicativos em sites como o JusBrasil para saberem se esses homens não cometeram ou não foram acusados de acusados de violência contra a mulher, assédio ou importunação sexual. É o caso de Stefany.
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O site reúne informações jurídicas e, por meio dele, é possível fazer consultas processuais. A estudante conta que sempre teve o hábito de procurar o nome das pessoas no Google. Com o nome e sobrenome, é possível encontrar algumas informações, como a página do JusBrasil e redes sociais. Ela criou uma conta no site jurídico quando uma mulher bateu em seu carro na estrada.
"Ela precisava arcar com os prejuízos e tava me dando 'chá de sumiço'... Então, eu fui olhar se ela não tava envolvida com alguma coisa. No final, não tava. Mas eu acabei criando esse hábito. O que eu faço muito hoje é pesquisar o nome do Uber, quando eu vou sair à noite, para saber se ele tem algum processo, principalmente porque eu sou mulher e a gente sabe que é muito perigoso", comenta.
"A única vez que eu achei alguma coisa foi esse cara que tava com um processo de sonegação de imposto, alguma coisa assim. Aí eu cancelei a viagem (risos)", completa. A estudante também diz buscar nome de médicos, antes das consultas: "Eu tenho medo de passar nesses médicos picaretas. Então, eu pesquiso no JusBrasil para ver se eles têm algum processo".
"Vira e mexe, a gente vê milhares de casos de pessoas que tiveram alergia ou fizeram um procedimento que deu errado, e eu morro de medo disso. Já achei um ou outro processo, mas eu nunca encontrei nada muito grave", declara. "Meio que virou um hábito. Eu já pesquisei até o meu próprio nome para ver se não tinha alguma coisa".
Homens também pesquisam passado criminal das mulheres?
"Foi livramento!". Se você já terminou com alguém, provavelmente essa foi a primeira frase que você ouviu. Depois de terminar um namoro entre idas e vindas, Gustavo* e a ex-namorada bloquearam um ao outro nas redes sociais. "Na curiosidade, fui procurar o LinkedIn dela. Eu acho isso um pouco problemático, mas sabe quando você só quer ver, assim, a pessoa, ver o que está acontecendo na vida dela?", diz ele.
Fazia cerca de uma semana que os dois tinham brigado. "Quando eu pesquisei o nome dela, a primeira coisa que apareceu foi o JusBrasil. Não aparecia mais o LinkedIn porque ela tinha me bloqueado, óbvio", conta. Gustavo clicou na página e acabou encontrando quatro processos contra a ex.
"Ela já tinha três processos, e eu sabia. Eram do Departamento de Trânsito de São Paulo, ela tinha perdido a carta de motorista algumas vezes, de ficar andando no carro sem cinto, mexendo no celular, enfim", comenta ele. Mas apareceu um quarto processo... de crime contra o patrimônio/estelionato. "Começou a me dar batedeira, um negócio. E assim: esse processo era de 2016 , se eu não me engano, já fazia um tempo, e ela nunca tinha comentado especificamente sobre ele, eu nunca soube", continua.
A ex-namorada de Gustavo trabalhava com financiamento de automóveis em um banco. Tudo o que ele sabia era que ela já havia brigado com um cara, dono de uma garagem. Mas a ex nunca lhe contou exatamente o motivo da briga. "Eu imagino que esteja relacionado ao banco porque o nome desse cara também está no processo. Mas eu não tenho muitas informações, não sei se ela é culpada, não sei se ela está presa".
Depois disso, com o processo ainda em andamento, a ré conseguiu algumas promoções dentro do banco. Então, ele imagina que, talvez, ela não tenha muita culpa no cartório. Por fim, Gustavo disse acreditar que seja mais comum que pessoas que se relacionam com homens — inclusive, homens que se relacionam com homens — pesquisem o passado criminal dos namorados, antes mesmo de se envolver.
"O que aconteceu comigo foi que eu me deparei com o site, eu não busquei por ele, apareceu na minha cara. Eu, como homem trans, se fosse um homem trans gay, com certeza faria esse tipo de pesquisa, ainda mais considerando que a gente está no país que mais mata transexuais no mundo . Mas acho que é mais comum entre o público feminino, que sente mais essa insegurança", finaliza.
É seguro fazer essas pesquisas?
O advogado Gabriel Alves explica que pesquisar o nome de alguém no JusBrasil ou em sites parecidos é válido, mas não é 100% assertivo. "Se o nome da pessoa for um nome comum, por exemplo, João da Silva Costa, pode aparecer vários processos de pessoas com esse nome e que não sejam envolvendo a pessoa que você está procurando. Fora que questões envolvendo multa, recurso administrativo na Prefeitura, além de processo judicial, aprovação em concurso público, qualquer publicação feita no Diário Oficial, aparecem no JusBrasil", afirma ele.
"Não dá para descaracterizar 100% a busca, até porque, se for um nome bem diferente e que seja difícil ter uma outra pessoa com um nome igual, há maior segurança na pesquisa", completa. Outro fator citado pelo advogado é que alguns processos, como os de violência contra a mulher, assédio, importunação sexual, correm em segredo de Justiça. "E processos em segredo de Justiça são publicados, mas não vão com o nome da pessoa, vão só com as iniciais", finaliza.
*O nome foi alterado para preservar a identidade da fonte