O ano de 2023 começa com novidades em um dos casos mais famosos de assédio sexual na televisão brasileira. Nesta semana, quatro mulheres e setes testemunhas que acusam o humorista Marcius Melhem de abuso romperam o silêncio em entrevista ao portal Metrópoles e expuseram novos detalhes sobre a conduta do ex-diretor do núcleo de humor da Rede Globo.
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Frequentemente, são noticiados novos casos de má conduta, especialmente contra mulheres, dentro dos ambientes corporativos. Pesquisas internacionais apontam que a cada caso de assédio sexual denunciado, oito ou nove deles não são registrados. A reflexão que fica é: quão eficientes são os canais de denúncia e os mecanismos de compliance existentes para garantir a efetiva proteção das mulheres no ambiente corporativo?
Segundo o Instituto Ethos, 4,68% das empresas brasileiras já foram condenadas judicialmente nos últimos cinco anos por assédio sexual, numa amostra de 169 grandes companhias. Entre elas, 97% têm canais de denúncia, e 74,3% proíbem, claramente, linguagem sexista, assédio e outras atitudes que possam intimidar ou constranger as mulheres no ambiente de trabalho.
Para o especialista em ética, diversidade, equidade e inclusão e CEO da Condurú Consultoria, Deives Rezende Filho, há a necessidade de que as organizações tenham um canal sigiloso no qual as vítimas possam se manifestar de forma anônima. "É muito importante ter um código de ética e conduta, ter políticas específicas que amparem as vítimas e ter um canal de denúncias na empresa que receba, apure e devolva esse tipo de denúncia", afirma.
Como garantir para as vítimas que suas identidades estarão seguras na denúncia anônima?
A existência de um código de ética e de canais de denúncias é de extrema importância para garantir um ambiente de trabalho seguro, principalmente, para as mulheres. É necessário que a empresa deixe claro através de reuniões, workshops ou palestras que, independe do cargo do agressor, o descumprimento do código de ética e conduta é passível de punições.
Contudo, incentivar equipes a relatarem má conduta internamente ainda é um desafio. Pensando nisso, Rezende Filho destaca quatro práticas para garantir segurança e confiança à denúncia anônima por meio de um canal de denúncias na empresa:
- Clareza sobre o funcionamento dos canais de denúncia
Todas as regras de funcionamento do canal de denúncias devem ser descritas detalhadamente no código de conduta de empresa, seja ela pequena ou grande, com detalhes sobre cada etapa e prazo estipulados ao processo de apuração e quais as áreas responsáveis pela administração. A existência do canal precisa ser muito bem comunicada para toda a empresa.
- Cultura de escuta ativa
No dia a dia, em momentos de troca com os times, as lideranças devem conversar abertamente sobre a existência do canal de denúncias. Dessa forma, a empresa mostra que as portas estão abertas para acolher as vítimas e que não tolera nenhum tipo de retaliação.
- Canal de denúncias que priorize a experiência da colaboradora
Por trás de qualquer plataforma, existe um trabalho de construção da confiança interna. Mas algumas funcionalidades tornam a jornada da denunciante mais confortável e incentiva outras denúncias.
- Treinamentos voltados para a apuração de casos
Mostrar seriedade e capacitação para lidar com as denúncias que chegam pelo canal é uma das formas mais eficazes de construir confiança. Por isso, o setor de compliance deve passar por treinamentos voltados para o processo de apuração de relatos.