Ao menos 30 mil brasileiras recebem, anualmente, o diagnóstico de algum câncer ginecológico. O mais comum deles, de colo do útero, pode ser evitado com vacina contra HPV e exame de Papanicolau.
Para conscientizar a população sobre como prevenir os tumores ginecológicos, o grupo multidisplinar EVA fará a campanha Setembro em Flor , que vai disseminar conteúdo multimídia qualificado ao longo do mês. Dentre as atividades deste ano, destaque para workshop com pacientes, Live voltada para os agentes de saúde que atuam nos 5570 municípios brasileiros, lançamento do EVA podcast e da cartilha sobre HPV.
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Juntos, os cânceres de colo do útero, ovário e corpo do útero (endométrio) – os três tipos ginecológicos mais comuns - somam 29,8 mil novos casos anuais, segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA).
Outros dois tipos, câncer de vulva e vagina, também entram nesse grupo, mas para eles não há dados nacionais oficiais de novos casos/ano. Portanto, ao menos 30 mil brasileiras recebem, anualmente, o diagnóstico de algum câncer ginecológico, sendo que os tumores de colo do útero representam a maioria deles (16.710 novos casos previstos para 2021.
O câncer de colo uterino é o terceiro mais comum nas mulheres, atrás apenas de câncer de mama e colorretal. Apesar da alta incidência, vale ressaltar que esta doença não só pode ser diagnosticada precocemente, como também é, principalmente, evitável.
E as medidas primordiais para evitar a doença são o acesso e adesão ao exame de Papanicolau e à vacinação contra o papilomavírus humano (HPV). Tanto o exame quanto a imunização estão disponíveis na rede pública, porém, com gargalos nas cincos regiões do país.
Ao longo do mês de setembro, o Grupo Brasileiro de Tumores Ginecológicos (EVA) realizará atividades online de conscientização direcionadas a diferentes públicos. Dentre elas, a Live “Como ser agente de prevenção do câncer ginecológico”, agendada para o no dia 5, que é voltada exclusivamente aos agentes comunitários (ACS) de saúde e agentes de combate às endemias (ACE), em parceria com a A CASA, um projeto do Instituto de Pesquisa e Apoio ao Desenvolvimento Social (IPADS), Confederação Nacional dos Agentes Comunitários de Saúde e de Combate às Endemias (CONACS) e Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde e durante o mês de setembro será lançada uma cartilha sobre HPV com orientações sobre o que é , forma de contaminação , prevenção.
“O câncer de colo do útero é uma doença que pode ser evitada por meio da vacina contra HPV, que está disponível no SUS e do Papanicolau, que também está na rede pública e que tem o potencial de detectar lesões que pré-malignas, ou seja, que ainda não são câncer, e assim ser direcionada para tratamento precoce. Passar esse conhecimento para as agentes de saúde é uma forma de conscientizá-la em relação ao cuidado com sua saúde e de todas as mulheres das comunidades que elas atuam”, ressalta o membro fundador e presidente do Grupo EVA, Fernando Maluf, diretor do Serviço de Oncologia Clínica do Hospital BP Mirante /SP, membro do Comitê Gestor do Hospital Israelita Albert Einstein (HIAE) /SP, fundador do Instituto Vencer o Câncer, autor de artigos científicos e de mais de uma dezena livros publicados no Brasil e no exterior, além de professor Livre Docente pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.
A programação especial do EVA para o Setembro em Flor inclui um Workshop de acolhimento de pacientes, no dia 21, além do lançamento dos dois primeiros episódios do EVA PODCAST e da cartilha sobre HPV.
O HPV e o câncer de colo do útero
A contaminação pelo vírus HPV é fator causal para quase todos os casos de câncer de colo do útero. Para imunização dos HPVs oncogênicos 16 e 18, que são responsáveis por 70% dos tumores malignos no colo uterino, há vacina disponível na rede pública. A vacina quadrivalente, que protege contra os HPVs 16 e 18, também previnem os HPVs 6 e 11, que são responsáveis pela maioria das lesões genitais.
A vacina quadrivalente é distribuída gratuitamente pelo SUS para meninas de 9 a 14 anos e meninos de 9 a 14 anos. Também é distribuída na rede pública para mulheres e homens imunossuprimidos (que vivem com HIV/aids, estão em tratamento oncológico ou realizaram transplante de órgãos, etc.) até os 45 anos. Para esse grupo, a vacina é oferecida em 3 doses, com intervalo 0, 2 meses e 6 meses.
Em razão da baixa adesão às campanhas de vacinação contra HPV e gargalos no acesso ao exame Papanicolau, o Brasil apresenta alta incidência e mortalidade por câncer de colo do útero. Em alguns estados, principalmente na Região Norte, os tumores de colo uterino superam o câncer de mama. O problema é mais acentuado no Amazonas, que registra 40,18 casos para cada 100 mil mulheres. Na sequência, vem o Amapá, com 33 casos para cada 100 mil. Comparativamente, em São Paulo, são 5,93 casos para cada 100 mil.
A prevalência de câncer de colo do útero em São Paulo é similar ao cenário do Canadá, que registra 5,7 casos para cada 100 mil mulheres. Entre as canadenses, a mortalidade é de 1,7 casos para cada 100 mil. O Canadá apresenta taxa de cobertura vacinal acima de 80%. O mesmo ocorre com o Reino Unido e Austrália, que também registram 1,7 mortes pela doença para cada 100 mil mulheres.
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O abismo mundial fica ainda mais evidente quando se compara com os países de menor IDH (índice de desenvolvimento humano). Na Suazilândia, no sul da África, são 75,3 casos e 52,5 mortes para cada 100 mil mulheres. Na América do Sul, o maior impacto da falta de acesso se dá na Bolívia, que registra 38,5 casos e 19,0 mortes para cada 100 mil bolivianas.
Dados do estudo EVITA realizado pelo grupo EVA em parceria com o LACOG demonstrou alguns motivos mais frequentemente relatados para a não realização do Papanicolau: falta de vontade em 46,9%, vergonha ou constrangimento em 19,7%, e falta de conhecimento em 19,7%. Este estudo também demonstrou que a baixa adesão ao papanicolau está associada a disparidades sociais, menor renda, nível educacional e parceiro estável. Dessa maneira, a conscientização é importantíssima e o conjunto de ações: vacina contra HPV, papanicolau e tratamento precoce, são capazes de salvar vidas de mulheres, na sua maioria jovens e economicamente ativas.
Outros tumores ginecológicos
Os tumores ginecológicos se diferenciam quanto aos fatores de risco, conforme local de origem. Se por um lado o câncer de colo do útero tem o HPV como fator causal, o câncer do corpo do útero (ou endométrio) vem apresentando crescimento de incidência nos últimos anos provavelmente por conta da obesidade.
O câncer de corpo do útero é responsável por cerca de 6.500 novos casos e pela morte de mais de 1800 mulheres/ano no país. Infelizmente, não existe um método eficaz para rastreamento, hoje tem como principal fator de risco a obesidade, mas os principais sintomas são sangramento uterino anormal e desconforto pélvico, que podem alertar à mulher para necessidade de procurar por atendimento médico e assim, há mais chances de diagnóstico e tratamento precoces.
O câncer de ovário é o segundo tumor ginecológico maligno mais comum e é o que apresenta a menor taxa de sobrevivência entre os cânceres femininos. É chamado de tumor silencioso, por não apresentar sintomas específicos e ausência de métodos eficazes de rastreamento.
Alterações genéticas podem estar presentes em 25% das pacientes com câncer de ovário e a história familiar de câncer de mama e ovário devem sempre ser sinais de alerta. Os testes genéticos tornam-se importantes ferramentas não só para definição de tratamento, mas para aconselhamento genético aos familiares.
Os cânceres de vulva e vagina são tumores mais raros e que também possuem associação com infecção por HPV como fator causal. A vacina contra o HPV e o exame ginecológico de rotina são os pilares para prevenção e diagnóstico desses tumores em fases iniciais.
Apesar dos avanços em prevenção e tratamento, a taxa de mortalidade no Brasil não tem diminuído satisfatoriamente devido a diagnósticos com doença avançada e atraso para início do tratamento, conforme estudo recente de membros do grupo EVA.