Nasci numa daquelas famílias que, como dizem por aí, parece família de comercial de margarina. Meu pai, minha mãe, minha irmã, Barbara, e eu sempre fomos muito unidos e acostumados a ouvir elogios por conta disso. Lógico que existem brigas e confusões, mas sempre soubemos resolver as desavenças rapidamente.
Apesar da considerável diferença de idade entre Barbara e eu - são 5 anos, ela sempre foi aquela pessoa que eu admirava e desejava ser igual - menos pelo jeito bravo. Sempre fomos diferentes: ela fechada, mais quieta e isolada. Já, eu, a faladeira, cheia de colegas e que nunca quis estar sozinha. Nada em nós é igual, mas tudo nos une. Como ela sempre diz: "você é a pessoa que mais amo na vida". Sempre foi recíproco.
Achava que ela e eu moraríamos para sempre juntas, mas fui crescendo e vi que não era bem assim, mas nunca imaginei que o tempo passaria tão rápido.
Gravidez
Faz pouco mais de 3 meses que minha irmã me chamou no quarto dela para dar a notícia de que estava grávida. "Seu sobrinho e afilhado está vindo". Tive a sensação que todo amor que sinto por ela se multiplicou e passou para a Maria Clara (descobrimos pouco depois que era uma menininha), mas, ao mesmo tempo, sabia que tudo na vida mudaria a partir daquele momento. E não demorou muito para todo mundo lá em casa começar a falar em apartamento, sofá, fogão, berço...
E minha irmã se foi... Aos pouquinhos, e, agora, de vez. Teve choro e tristeza apesar do momento lindo. "Por favor, não chorem. Estou tão feliz", dizia ela, também aos prantos.
Faz menos de uma semana que a Barbara foi morar na sua casa, com seu namorado, mas a sensação já é estranha. Tenho vontade de chorar quando entro no quarto dela e sinto seu cheiro, vejo sua cama sem lençol e travesseiro, quando abro seu armário e não tem mais roupas. Acho que vou sentir saudades até dela brigando comigo porque usei a toalha que na verdade era dela ou porque peguei alguma roupa sua. Apesar disso, o melhor conforto é saber que ela está realizando um sonho, sendo feliz e, principalmente, criando um ninho para minha sobrinha que está chegando.
Síndrome do ninho vazio
Segundo o psicólogo clinico Luciano Passianotto, é comum que a família passe pela "síndrome do ninho vazio", sensação de vazio ou quase luto quando alguém sai de casa. "A ausência e falta de interação contínua, independentemente se for pacífica ou conturbada, acarreta em uma alteração drástica na dinâmica do lar e que afeta a forma como as pessoas percebem seu próprio eu, principalmente quando não estão preparadas para isso", explica.
Como trabalhar essa ausência
O profissional conta que é muito importante fazer coisas que lhe dão prazer e bem-estar. "As lembranças devem ficar em um plano de nostalgia e não de desejo", diz.
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Comparação entre irmãs
Já que minha irmã saiu de casa, como se livrar da comparação: "Também vou me mudar, engravidar, sair de casa? Afinal, quero ser como ela"?
Para o pscicólogo, isso depende de muitos fatores como diferença de idade, cobrança dos pais e amigos. "Quando a mudança é vista como uma vitória, um progresso, isso pode afetar a autoestima e gerar uma cobrança interna que, se não for bem orientada, pode levar a momentos de angústia e depressão. O importante é lembrar que a história e trajetória de ambas não é a mesma e focar no próprio progresso", orienta.
Dicas para refazer a vida depois que o irmão sai de casa
A psicóloga e psicopedagoga Cynthia Wood listou algumas dicas que podem ajudar a superar a falta de irmão em casa.
Fale sobre o assunto - Colocar para fora os seus sentimentos é o primeiro passo para melhorar. Compartilhar este sentimento com amigos ou familiares nos permite perceber que podemos superar a situação.
Atividades prazerosas - Faça uma lista de todas as atividades que você gosta e sempre tentou realizar, mas que as exigências diárias fizeram com que fossem adiadas.Se prepare para começar a fazê-las!
Pratique um esporte - O exercício físico é bom para a saúde e ajuda a relaxar. Faça uma atividade física durante 30 minutos, e você notará como, em pouco tempo, irá se sentir cada vez melhor.
Adote um animal de estimação - Se você não tem com quem compartilhar este momento e sente que a casa está vazia, pode adotar um animal de estimação. Poderá ser uma grande companhia para todos os momentos.
Dê apoio -
É importante que sua irmã saiba que pode contar com o seu apoio nesta nova fase. Evite invadir a sua nova casa ou a sua vida com visitas ou telefonemas contínuos.
À medida que passa o tempo, a relação com sua irmã mudará positivamente. A maturidade de ambas fomentará outro tipo de comunicação mais frutífera. Você nunca vai deixar o seu papel de irmã. Ela estará aí para você sempre que precisar e em todos os momentos familiares importantes.