Você sabe o que é hiperêmese gravídica?
Para mais de 60% das mulheres, gravidez e enjoo são palavras de mesma ordem. Até aí, náuseas e vômitos eventuais, já nas primeiras horas da manhã, são reações fisiológicas consideradas normais por médicos e pacientes. Esse desconforto tem nome próprio – emese gravídica – e costuma dar trégua lá pela 12ª semana de gestação.
Efeitos da gravidez: isso é normal?
A hiperêmese gravídica (HG), porém, é uma espécie de emese gravídica turbinada, na qual vômitos e náuseas são tão constantes, que colocam a vida de mãe e bebê em risco. O problema ganhou destaque recentemente na imprensa mundial com os casos das britânicas Cheryl Harrison e Claire Barwell, divulgados pelo jornal Daily Mail, que tiveram de suspender suas gestações por chegarem a vomitar até 40 vezes ao dia. A notícia sobre os abortos gerou polêmica no Reino Unido. Afinal, não havia outra forma de preservar o bem-estar das mães e também salvar os bebês?
Como a polêmica vai além da internet, antes de tudo, é preciso dizer que vítimas de HG, além de não conseguirem segurar alimento algum no estômago, acumulam impactos à saúde que vão desde perda de peso acelerada e desidratação, a quadros extremos de disfunção hepática ou renal. A boa notícia é que o problema acomete somente de 5% a 10% das grávidas – sendo que apenas de 0,5% a 2% das hiperêmeses levam aos sintomas mais graves, além das chances de aborto.
“Exclusivamente em episódios em que a mulher está debilitando, sem possibilidade de reversão, interromper a gravidez é a alternativa restante para salvar a vida dessa paciente, e isso está previsto no nosso código penal”, explica José Bento de Souza, ginecologista e obstetra de São Paulo (SP).
Origens da doença
“É importante dizer que não é uma evolução da emese gravídica. É um quadro que pode estar relacionado a histórico familiar, gestações de gêmeos ou feto do sexo feminino, hipertireoidismo, diabetes ou distúrbios psiquiátricos preexistentes, além de hiperêmese na gravidez anterior”, relata Fernanda Couto Fernandes de Oliveira, médica do Departamento de Obstetrícia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
As múltiplas causas, ainda pouco estudadas, renderam uma pesquisa do Instituto Norueguês de Saúde Pública, em 2010, sobre a relação entre hiperêmese e o DNA das grávidas. Os resultados publicados no British Medical Journal confirmaram risco de desenvolvimento de HG 3% maior nas mulheres cujas mães também sofreram do problema.
Nutrição desequilibrada
Saber diferenciar um enjoo teimoso de uma HG não é tarefa simples. Mas quando o sintoma for acompanhado de vômitos que não cessam com medidas caseiras ou com remédios contra náusea, a internação com sedativo costuma ser obrigatória.
“Há muita perda de líquido e eletrólitos, como sódio e potássio, então, a reposição hídrica deve ser imediata. O objetivo é quebrar este ciclo vicioso, pois quanto mais líquido perde, mais enjoo e vômito tem a gestante”, alerta o ginecologista. Vitaminas do complexo B, glicose, ferro e ácido fólico também entram na nutrição. É justamente esse pacote emergencial, aliado a uma dieta fracionada, que evita diagnósticos mais graves para a gestação, como anemia e complicações nos rins.
De olho na magreza
Outro sinal de alerta na doença é percebido logo na balança. Para se ter ideia, o emagrecimento, em geral, fica acima de 5% do peso anterior à gravidez . No entanto, em estudo publicado no Journal of Women’s Health, no ano passado, pesquisadores americanos avaliaram 214 pacientes com hiperêmese que apresentaram perda superior a 15% do peso pré-gestacional. Entre elas, houve até casos de disfunção da vesícula biliar (órgão que funciona como reservatório para a bílis).
Drama brasileiro
A paulista Ediene Belloti Coelho, 23 anos, de São Bernardo do Campo, teve HG durante a gestação. Ela conta que perdeu 13 quilos em 40 dias. Tentava comer a cada três horas, mas vomitava tudo em cinco minutos.
"Desidratei rapidamente e tinha de ir ao hospital quase todo dia, além de ter sido internada duas vezes com anemia. Não conseguia mais andar ou dormir e só tomava banhos de um minuto, senão a pressão caía e eu vomitava mais. Chorava muito, tinha medo de morrer”.
Para Ediene, a falta de informação sobre a doença dificultou a recuperação. “É normal acharem que você está com frescura. Até no hospital escutava comentários desagradáveis como ‘se não se esforçar, seu bebê não vai resistir’”. Vencidas as 16 semanas de gestação, o caos da HG amenizou. Agora, no oitavo mês, já recuperou o peso normal e está feliz da vida porque a sua bebê conseguiu atingir os dois quilos.
Caixa de remédios
Assim como a história de Ediene, em muitas mulheres a HG diminui ou desaparece a partir da 12ª semana de gestação. Antes dessa melhora, ou para os casos insistentes, há medicamentos que prestam um socorro bem-vindo à paciente. Os mais populares, usados sempre sob orientação médica, são ondansetrona (comum contra os efeitos colaterais da quimioterapia), dimenidrinato, cloridrato de meclizina e metoclopramida.
Leia: O guia dos remédios caseiros
“Como tratamentos alternativos, existe o gengibre manipulado em pó e a técnica de acupuntura. Quando todas as alternativas já falharam, lança-se mão do corticoesteroide, a metilprednisolona, via oral ou endovenosa, mas somente depois da 10ª semana de gravidez ”, diz a médica da Unifesp.
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