Preconceito sexual atrapalha luta contra o câncer de mama

Mulher ignora a vida sexual e deixa de ir ao ginecologista bem quando mais precisa

A luta contra o câncer de mama está sendo prejudicada por um preconceito sexual. Conforme as mulheres vão envelhecendo, elas vão trocando as consultas com ginecologistas pelo atendimento dos clínico-gerais. E isso pode comprometer o diagnóstico precoce de tumores.

“É um preconceito porque a mulher se julga incapaz de exercitar sua sexualidade ao ficar mais velha”, afirma Nilcéa Freire, ministra de estado chefe da secretaria de Políticas para Mulheres.

Foto: Hugo Lanzi
Imagem da exposição 'De Peito Aberto', sobre mulheres qeu tiveram câncer de mama

Entre os 16 e 24 anos, quando a vida sexual está começando, cerca de 70% delas consultam o ginecologista ao menos uma vez por ano. O índice fica ainda mais alto (85%) em mulheres entre 25 e 34 anos, mas despenca para 56% a partir dos 60 anos.

“É justamente neste momento que elas mais precisam, porque o risco de câncer de mama aumenta com a idade”, afirma a mastologista Rita Dardes, diretora-médica do Instituto Avon.

Os números acima fazem parte de uma pesquisa conjunta entre Instituto Avon e o instituto de pesquisas Ipsos sobre as percepções femininas em relação ao câncer de mama, realizada com mil mulheres de 70 cidades brasileiras, entre 30 de julho e 11 de agosto deste ano.

Junto com a divulgação da pesquisa foi inaugurada uma exposição de fotos de pacientes, familiares e especialistas envolvidos na doença. A exposição ficará à mostra no Conjunto Nacional (Av. Paulista, 2073) até 8 de outubro.

Por que ir ao médico?

Apesar de ser responsabilidade de qualquer médico, o ginecologista costuma estar mais preparado para diagnosticar o câncer de mama. Ele deve manter em dia o controle por mamografia, exame mais indicado para o diagnóstico precoce.

A mamografia deve ser feita a cada dois anos, a partir dos 40 anos. Mas a pesquisa revela que apenas 40% deste grupo faz o exame com regularidade. “As chances de cura são de 95% para quem detecta o tumor no início. E a mamografia consegue identificar o câncer com até 0,3cm, por isso é o padrão-ouro, o mais indicado e importante exame”, afirma Rita.

Exame clínico x autoexame

Outra opção é o exame clínico, realizado por médicos e profissionais de saúde treinados para notar pequenas anomalias no seio. “No autoexame, a mulher só detecta tumores de 2,5cm, mas no exame clínico são diagnosticados cânceres menores, com 1cm”, compara a mastologista.

A pesquisa revela que 79% das mulheres com planos de saúde recebem o exame clínico, enquanto o número cai para 63% no caso de pacientes do SUS.

E a prevenção

A luta contra o câncer de mama costuma estar focada no diagnóstico rápido e precoce porque a prevenção é mais difícil de ser garantida. “Basta ser mulher para poder vir a ter câncer de mama”, explica Rita.

Até existem atitudes que favorecem a prevenção, como evitar tabagismo e sedentarismo, não exagerar nas bebidas alcoólicas e ingerir poucos alimentos gordurosos. Mas outros fatores não podem ser modificados. São eles: menarca precoce, não ter filhos, ter a mama densa e repleta de glândulas, histórico familiar e menopausa tardia.

Mas esses fatores podem levar as mulheres a uma conclusão equivocada sobre a doença. “Em cerca de 70% dos casos não há nenhum fator de risco”, diz Rita. Contudo, muitas acreditam estar, de certa forma, imunes à doença porque não possuem histórico familiar.

“Essa é a crença de 22% das entrevistas, mas é uma crença errada. Em 90% dos casos não há histórico familiar”, destaca a mastologista.

Medo da doença

A pesquisa revela ainda que 60% das entrevistadas consideram o câncer como a pior doença que alguém possa ter e 54% já sabem que os tumores de mama são os que mais matam mulheres no País.

Apesar disso, em 80% dos casos, elas acreditam que a doença tenha cura. Algo difícil de acontecer quando o tumor é diagnosticado tardiamente – como ocorre em 60% dos casos. “Por isso que 11 mil mulheres morrem por ano da doença”, ressalta Rita.

Saúde no topo da lista

Saúde foi considerada a principal preocupação para 53% das mulheres. Quando colocadas todas as preocupações, e não apenas a principal, a saúde foi citada por 97% das entrevistadas.

Em seguida, aparecem educação (93%), segurança (92%) e desigualdade social (76%). A grande maioria das mulheres (80%) se considera saudável e, para isso, a maioria (85%) diz adotar uma alimentação saudável. Não fumar (83%) e beber apenas socialmente (29%) são outras atitudes relatadas como saudáveis pelas entrevistadas.

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