Os muitos sinais do infarto
A paciente tinha 66 anos e foi parar no hospital após ter crises de vômito. O motivo para um homem de 69 anos sair às pressas para a unidade de saúde mais próxima foram as dores fortes no braço. Algumas pessoas sentem desconforto nas costas, formigamento na língua ou falta de ar. São sintomas diferentes para a mesma doença: o infarto agudo do miocárdio.
Diariamente, contabiliza o Ministério da Saúde, 187 pessoas precisam ser internadas por causa das panes no coração e, ao contrário do que a maioria pensa, o sinal prévio do ataque cardíaco não se resume à clássica dor no peito. As manifestações são as mais variadas e confundem doentes e familiares. Por vezes, faz dias que o infarto “avisa” que pode chegar e ninguém se dá conta.
As mulheres, sugerem as pesquisas, são as que mais ignoram os sintomas de que uma falha cardíaca está a caminho, sendo este um dos motivos apontados para o infarto nelas ser 50% mais fulminante do que em homens (de acordo com levantamento feito em 2009 pelo Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia de São Paulo).
A agravante neste cenário de manifestações múltiplas é que receber o socorro médico de forma rápida é peça-chave para conseguir sobreviver ao infarto. Não dar importância para os sinais, portanto, é hábito comum que antecede os casos que chegam tarde demais nos hospitais.
Identificação
Os “avisos” do infarto, tanto em homens como em mulheres, ainda não fazem parte das estatísticas, sendo impossível afirmar quais são os sinais mais freqüentes. Para preencher esta lacuna de informações cardíacas, 25 hospitais brasileiros assinaram um protocolo de parceria para catalogar, de forma minuciosa, todos os casos atendidos e conseguir abastecer a população com informações preciosas sobre o problema grave no coração.
“A dor no peito ainda deve sim ser vista com um dos principais sintomas ou potencial indício de um infarto. Mas outros quadros como suor frio, náuseas, sensação de desmaio, arritmias e até mesmo parada cardiorrespiratória podem ter como causa base o infarto, particularmente em pacientes diabéticos e idosos”, afirma Luiz Alberto Mattos, Coordenador dos Registros Brasileiros Cardiovasculares da Sociedade Brasileira de Cardiologia. “Estas informações poderão ser melhor caracterizadas a medida em que o dados forem preenchidos nos diversos hospitais país afora que aceitaram participar do estudo”, completa Mattos que coordena o projeto em parceria com Otavio Berwanger e Helio Penna Guimarães, médicos do Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital do Coração da Associação do Sanatório Sírio de São Paulo.
Por dois anos, todos os hospitais referência em atendimento cardíaco vão abastecer um banco de dados eletrônico com os prontuários médicos e permitir à Sociedade Brasileira de Cardiologia um mapeamento mais preciso da situação da doença no País.
Doença em ascensão
Saber os mecanismos de ação do infarto, avaliam os médicos, é importante para tentar frear a ascensão de casos no Brasil. Entre 2008 e 2009, os casos cresceram de 22.769 registros para 25.253 entre as mulheres, uma alta de 11%.
Os homens também estão mais presentes nas estatísticas, já que eram 39.454 há dois anos e ano passado somaram 43.285 notificações, aumento de 9,7%
O perfil
Ainda que seja consenso entre os médicos que a rotina mais estressante e os hábitos de vida menos saudáveis sejam responsáveis pelo crescimento de casos de panes cardíacas, o perfil do infartado também não é muito claro.
“O perfil atual do infartado no Brasil tem ainda sido muito baseado em dados dos grandes centros urbanos ou dos hospitais de referência nacional, que não necessariamente traduzem a realidade do país”, dizem os médicos Mattos, Berwanger e Pena Guimarães. “Há possibilidade, sim, de existir diferenças regionais nas características das populações”, acreditam.
Com o abastecimento do banco de dados feito pelos hospitais que assinaram a parceria, os médicos acreditam que as particularidades dos infartados serão descritas e que isto pode contribuir também para elaboração de tratamentos mais efetivos regionalmente.
Vantagem em dobro e sem exagero
Com a identificação mais precisa do perfil de quem infarta e, ao mesmo tempo, a “munição” de saber quais são os possíveis sinais do problema no coração pode ajudar a reduzir as mortes provocadas pela doença.
A única ressalva é que o exagero na atenção aos sinais também pode ser prejudicial. Não é saudável achar que qualquer desconforto é um problema cardíaco. Devem ficar mais de “orelha em pé” os que têm antecedentes na família, obesos, diabéticos, fumantes e ex-fumantes. A dica é valorizar o que foge do normal. E na dúvida, sempre deixar o médico descartar se a “dor nas costas” não é nada mais sério.