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Independente de classe social, elas ainda não impõem o uso do preservativo e não se veem como grupo de risco, diz especialista

Segunda-feira: o dia do teste de gravidez
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Segunda-feira: o dia do teste de gravidez
Segunda-feira é o dia nacional da dúvida. Nos postos de saúde, no disque-adolescente e nos muitos telefones da ginecologista e coordenadora do Programa Estadual de Saúde do Adolescente, Albertina Takeut, duas perguntas pautam o atendimento: “será que estou grávida?” e “posso tomar a pílula do dia seguinte novamante?”

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O sexo desprotegido do final de semana provoca apenas um temor inicial – o medo da gravidez indesejada. Contaminação por aids , HPV e outras doenças sexualmente transmissíveis são questionamentos presentes em apenas dois grupos a quem a médica também presta atendimento: prostitutas e homossexuais.

“Nunca uma paciente me procurou para tomar antibióticos ou medicamentos por medo de contaminação após uma relação sem camisinha. No Brasil, as mulheres temem mais a gravidez do que a aids. Essa preocupação só é vista em grupos de maior risco, como as prostitutas e homens homossexuais", afirma Takeut.

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A mudança, pontua a especialista, só ocorre mediante o surgimento de sintomas. Enquanto as doenças causadas pelo sexo inseguro não sinalizam a presença do problema, os especialistas não são procurados.

"O comportamento feminino é bem previsível: 80% das pacientes buscam os ginecologistas para tirar dúvidas sobre pílula do dia seguinte e gravidez. Segunda-feira é um dia difícil, pois sucede o comportamento de risco e o medo passa a ser prevalente.”

Sexo frágil

Idealizadora do Programa de Saúde da Mulher do Estado de São Paulo, a médica rechaça a tese de que falta informação e acesso a essa população.

Segundo ela, trata-se de um problema de gênero. As mulheres não sabem como impor o uso da camisinha ao parceiro e tampouco dialogar, expor o problema, no caso de uma doença sexualmente transmissível. A intimidade inviabiliza o uso do preservativo.

Em três meses de relacionamento, as meninas mais novas trocam a camisinha por uma suposta relação fixa e de confiança.

“Nós sabemos que não é por falta de conhecimento. O medo de falar e o receio do que o parceiro poderá pensar são os grandes entraves para o controle tanto da gravidez quanto das doenças. O problema envolve uma negociação que não existe. O preservativo tem sido cada vez mais abandonado por mulheres adultas, e a maioria das adolescentes quase nunca usa.”

Comigo não

Independete da idade ou classe social, a maioria das mulheres não se vê como possível alvo. Esse descolamento da realidade e do próprio comportamento de risco, Takeut define como “a mágica da não contaminação”. A postura, além de dificultar a prevenção, pode ainda comprometer a eficácia do tratamento, uma vez diagnosticada a doença.

“Muitas, quando são diagnosticadas com HPV , sabem que precisam orientar o parceiro a tomar uma medicação e que devem usar camisinha por um determinado tempo, ao menos nesse precesso de cura. Por vergonha e receio, não repassam tais orientações e o tratamento se perde, é ineficaz.”

Na avaliação da ginecologista, criou-se um mito de que a camisinha compromete o prazer, tanto feminino, quanto masculino. As campanhas nacionais de saúde pública tentam quebrar essa relação  negativa de causa e efeito entre sexo e preservativo.

“Trabalhamos o preservativo como fonte de prazer. O homem precisa se conhecer melhor pra usar. Parceiro apressado não usa. É uma mudança de ideologia. Temos certeza que a diminuição da gravidez está diretamente relacionada à queda da aids e ao controle do HPV que, hoje, não para de crescer.”

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