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Letícia Lemos, 30 anos, só pode optar pelo parto domiciliar por ter uma gravidez segura

Letícia é da geração dos anos 80. Época de mulheres com maquiagens exageradas, vestidas até de forma masculina para apimentar a briga com os homens no mercado de trabalho.

Em meio a esta tendência, ela e os dois irmãos da família “Lindenberg Lemos” chegaram ao mundo por meio de cesáreas, como se aquela técnica creditasse ao mundo feminino até mesmo a decisão da hora e do dia de ter filhos.

Dora, primeira filha de Letícia e a última herdeira do núcleo familiar, chegou há sete dias para mostrar que os tempos são outros. Enquanto Letícia Lindenberg Lemos, 30 anos, e os dois tios são “filhos cesariana”, a recém nascida Dora exibiu seus 3,5 kg pesados no dia do nascimento dentro de casa mesmo. A bebê, primeira sobrinha e primeira neta da nova geração, é filha de parto doméstico.

O que era escândalo na década octogenária, no ano 2010, é moda para algumas mulheres (nem todas podem ter esta opção). E o sonho de parir dentro de casa começou para Letícia quase que ao mesmo tempo em que ela escolheu sua profissão, anos e anos antes.

“Sou arquiteta”, conta ela sem saber que ao passar no vestibular para trilhar a sua carreira, seria o início da história de sua filha. Letícia terminou a faculdade, casou, foi morar em uma casa em São Paulo, onde residiu por três anos. Mudou de casa para poder reformar a residência. E foi ela quem desenhou a própria “nova casa velha”.

“Quando descobri que estava grávida, uma surpresa deliciosa, eu e meu marido começamos a procurar onde seria o parto. Pesquisamos bastante e já com a preferência de ser um parto normal”, conta a arquiteta da própria residência. “Esbarramos com a possibilidade de fazer o parto dentro de casa. O estranhamento inicial logo me convenceu quando olhei para o jardim que eu desenhei, a sala, a cozinha feitas por mim. Me convenci que o melhor lugar para a minha filha nascer era a minha casa... agora, a nossa casa”.

Pré natal tranquilo

Para que a vontade dos papais Letícia e Tomaz virasse realidade era preciso que o pré-natal fosse perfeito, sem nenhum problema. O casal, marinheiro de primeira viagem, contou com uma equipe especializada, pediatra, doula e auxiliares, que o acompanhou durante toda a gestação. Dora, ainda na barriga de Letícia, deu pouco trabalho. “Só um enjôo sem importância”, lembra a mamãe.

No dia em que a menininha decidiu conhecer o mundo além do ventre, foi como se Letícia pudesse apresentar o seu novo ninho. As contrações começaram leves. Foi possível um passeio em volta no quarteirão, uma chuveirada refrescante, uma soneca na cama do “papai e da mamãe”. As dores ficaram mais fortes. O trabalho de parto anunciou que seria intenso. No relógio, mais de 15 horas de “serviço cegonha”, respiração profunda e dores “emocionantes”.

Letícia foi para a banheira inflável montada pela equipe de saúde. Respirava fundo. Sentou na banqueta e viu o que jamais vai esquecer. De dentro dela, saía uma cabecinha cabeluda. Dora nasceu “quase que de frente para a geladeira”, brinca a mamãe.

Antes de abrir o berreiro, ela ficou um segundo em silêncio. Como se estivesse analisando o novo ninho que foi feito para ela estrear. Foi então que “chorou baixinho”, abrindo o berreiro da mamãe Letícia, do papai Tomaz e da tia Carol.

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