O que a Inteligência Artificial reserva para o futuro da moda?

Ferramentas de IA, como o próprio ChatGPT, alcançam o mainstream e levantam debates sobre desinformação, propriedade intelectual e robotização do trabalho — não só na indústria da moda, como em outros setores da economia

No mês passado, uma campanha da Jacquemus se tornou viral por causa de um vídeo em que carros em formato de bolsas gigantes andavam pelas ruas de Paris

Rapidamente, o conteúdo se espalhou pelas redes sociais, acumulando cerca de 41 milhões de visualizações e mais de 1 milhão de curtidas no Instagram da grife. Embora os automóveis fossem hiper-realistas e levassem muita gente a se perguntar se a marca teria, de fato, os construído, tudo não passou de imagens criadas digitalmente pelo artista Ian Padgham, dono de uma produtora de vídeo parisiense.

Reprodução/Instagram/Jacquemus

Com a campanha, a Jacquemus se junta a um número crescente de marcas que têm explorado a Inteligência Artificial (IA) para criar produtos com alto potencial de viralização, menor tempo de execução e custos também menores

Em janeiro, a Valentino lançou uma campanha toda criada por IA para promover a sua linha Essentials. A Moncler fez o mesmo com a linha Genius. No mês passado, foi a vez da varejista Revolve, que criou a primeira campanha de outdoors do mundo gerada com a tecnologia.

Divulgação/Valentino

No último ano, a internet foi bombardeada por uma enxurrada de fotos inéditas que davam vida a artistas já falecidos, como Elvis Presley e John Lennon, por meio de Inteligência Artificial

As máquinas também puderam ser programadas para recriar os rostos de figuras históricas, tais como Napoleão Bonaparte e até Jesus Cristo. E não só isso… mas ainda se tornou possível imitar a voz de alguém. Tudo isso, na maioria das vezes, somente a partir de uma descrição textual. Um relatório realizado pela Acumen Research and Consulting prevê que o mercado global de IA cresça de US$ 7,9 bilhões em 2021 para US$ 110,8 bilhões em 2030.

Reprodução/Bas Uterwijk

Para testar a tecnologia, nós criamos essa imagem com Inteligência Artificial

Para isso, enviamos o seguinte comando: “Crie uma imagem de uma mulher negra usando um trench coat rosa”. O resultado você confere acima.

Criado por Inteligência Artificial/Gabrielle Gonçalves

Recentemente, versões mais comerciais dessa tecnologia alcançaram o público em geral, a exemplo do ChatGPT

Basta perguntar qualquer coisa que a ferramenta será capaz de dar uma resposta personalizada para o que você procura. Ao contrário dos demais chatbots que nem sempre dão respostas precisas e coesas, o software desenvolvido pela OpenAI pode até mesmo montar uma redação do Enem. Marcas de luxo também têm investido na IA generativa para melhorar a interação com o cliente e replicar a experiência de compra física no online, ao simular conversas em tempo real.

Outra possibilidade das ferramentas de IA é a de criar collabs inéditas ou objetos extraordinários

É o caso de cadeiras inspiradas na silhueta do Nike Air Jordan ou uma casa cuja arquitetura simula um Adidas Yeezy. Essas imagens foram criadas pelo artista Marco Rambaldi (@markvonrama). Também há quem adicione a logotipo da Nike em obras renascentistas por meio da tecnologia, caso do designer que atende por “Str4ngeThing” no Instagram.

Reprodução/Instagram/markvonrama

Mas a ascensão da inteligência artificial no mainstream tem levantado preocupações em termos de ética

O próprio ChatGPT foi banido da Itália, berço da Valentino. Em março, uma imagem do Papa Francisco usando uma puffer jacket inspirada na Balenciaga foi confirmada como falsa. Apesar de muitos internautas terem acreditado se tratar de uma foto real, agências de checagem logo descobriram que o look do pontífice foi criado digitalmente por um usuário do Reddit. Mas a repercussão do caso trouxe à tona os perigos da IA num mundo contaminado pelas fake news.

Reprodução/Reddit/Midjourney

Mesmo que não pareça ter sido criada com má intenção, a imagem do Papa Francisco usando a jaqueta branca aponta para a necessidade de refletir sobre a problemática dessas ferramentas, sobretudo, quando pessoas reais estão envolvidas

Isso porque a tecnologia também pode ser usada de forma maliciosa, de modo a colocar a vida de alguém em risco ou ferir a sua integridade — por exemplo, ao criar conteúdos pornográficos com rostos de celebridades.

O que dizem os críticos?

Os críticos exigem que haja requisitos para o uso de Inteligência Artificial, como indicar quando uma imagem foi criada por essas ferramentas, a fim de se evitar estragos. Também lembram que, por mais que se tratem de robôs, seus algoritmos foram programados por pessoas reais e, assim, não estão livres de interferência humana e dos ideais de quem os desenvolveu.

Reprodução/Instagram/str4ngething

Outro ponto importante é o debate sobre propriedade intelectual e licença artística

Por exemplo, se uma roupa criada por IA viraliza, quem merece o crédito: o computador, a empresa que criou a ferramenta ou a pessoa que fez uso dela? Além disso, a tecnologia levanta dúvidas sobre seu impacto na cadeia produtiva, não só no mundo da moda, mas em outros setores da economia. Como as máquinas são treinadas para aumentar a eficiência dos processos e reduzir os custos de produção, uma das maiores preocupações é o seu potencial de substituir o trabalho humano.

Reprodução/Instagram/ai_clothingdaily

Resultados imediatos e menores gastos de tempo e dinheiro

No mundo da moda, os resultados de campanhas cridas por IA são imediatos e não exigem investimentos monetários ou de tempo, normalmente necessários para, por exemplo, criar uma ilustração ou comandar uma sessão de fotos editorial. Mas será que os usuários dessa tecnologia possuem qualificação para fazer essas coisas apenas digitando um comando? Por fim, vale citar o exemplo da Levi’s, que gerou polêmica ao anunciar que começaria a usar avatares para aumentar a diversidade de modelos em seus projetos publicitários.

Divulgação/Lalaland.ai

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