Se você é o tipo de pessoa que gosta de acompanhar o mundo da moda, provavelmente deve ter ouvido falar das acusações de apologia à pedofilia que a marca Balenciaga está enfrentando, após a divulgação de sua linha especial de fim de ano. Contudo, com tantas informações surgindo, fica um pouco difícil entender o que de fato está acontecendo.
A polêmica envolvendo a marca começou no dia 16 de novembro, data que marca o início da divulgação das fotos da campanha nas redes sociais da empresa. Desde esse primeiro momento, diversos internautas apontaram como elementos, nas imagens compartilhadas, tinham cunho sexual.
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As fotos da campanha em questão mostram crianças em cômodos residenciais, rodeadas de itens da grife Balenciaga, sendo algum deles bebidas alcoólicas e adereços sexuais. Enquanto seguram bolsas em formatos de ursinhos, que estão vestindo roupas que fazem referência à práticas de sadomasoquismo.
As imagens foram feitas pelo fotógrafo italiano Gabriele Galimberti, conhecido por fotografar pessoas em suas residências, com objetos pessoais e do cotidianos delas. Ele até mesmo produziu um ensaio intitulado de “Toy Stories” (Histórias de Brinquedo), em que retrata crianças em seus quartos, com seus brinquedos, igualmente como nas fotos da Balenciaga.
No entanto, as críticas à marca começaram a ganhar força após uma publicação feita nas redes sociais da youtuber norte-americana June Nicole Lapine, em que ela também apontava como as fotos faziam apologia à pedofilia. Depois da postagem dela, a polêmica passou a ser ainda mais compartilhada.
Entretanto, com um olhar mais apurado, o público também começou a notar alguns detalhes ainda mais estranhos em outras propagandas da Balenciaga. Especialmente na linha RESORT 2023, uma colaboração entre a Balenciaga e a Adidas.
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Apresentada há apenas algumas semanas e fotografada por Chris Mendel, as fotos têm elementos ainda mais explícitos ligados à pedofilia. Como um documento de 2008, da Suprema Corte dos Estados Unidos, em que seu conteúdo defendia a legalização de pornografia infantil no formato de animação.
Nesta mesma imagem, também foi encontrado um livro com as pinturas do artista belga Michaël Borremans, conhecido por retratar cenas de canibalismo e abuso de crianças. Em outra foto, nessa mesma campanha, outros internautas apontaram um quadro com o nome de John Philip Fisher, criminoso condenado por estuprar a própria neta, dos 6 aos 16 anos.
Em vista da divulgação de todas essas informações, milhares de influenciadores de moda, ao redor do mundo, começaram um movimento de queimar e destruir itens da Balenciaga como forma de protesto.
Não podendo mais ignorar a opinião pública, a Balenciaga fez dois pronunciamentos, o primeiro deles no dia 23 de novembro, através de stories, a empresa se desculpou pela campanha de final de ano, afirmando que as bolsas com o formato de ursinhos não deveriam ter sido usadas na divulgação.
A grife também se desculpou pelo ensaio da linha RESORT 2023, declarando que irá entrar com medidas legais contra a empresa que produziu a campanha e o designer responsável. Reafirmando a sua posição, em um segundo pronunciamento, feito na quarta-feira (29), a marca se desculpou novamente pelo ocorrido e falou sobre as providências legais que está tomando.
Kim Kardashian também se tornou um foco da polêmica
O escândalo não atingiu a penas a marca de luxo. A empresária e socialite Kim Kardashian também foi intimada pelos seguidores a se posicionar sobre o acontecimento, já que a celebridade é uma das garotas-propaganda da Balenciaga.
Em seus stories, a famosa conta estar arrasada pelos recentes acontecimentos, especialmente por ser mãe quatro crianças e que o motivo de não ter se manifestado até o momento foi porque ela queria conversar primeiro com o time da Balenciaga. Ela também declarou que está reavaliado a parceria com a empresa.
Outro famoso que também se tornou centro das atenções dessa polêmica é o ex-marido de Kim Kardashian, o rapper Ye West, (originalmente conhecido como Kanye West). Nas redes sociais, o cantor se mostrou indignado pelo silenciamento de diversos famosos sobre o caso de apologia a pedofilia da Balenciaga.
“Você não vê as celebridades falando sobre a situação da Balenciaga. Isso mostra que elas são controladas por pessoas que influenciam o mundo”, disse o cantor.
A revolta de West é especialmente inflamada devido ao recente “cancelamento” que ele sofreu. Em sua última coleção de moda, o rapper produziu camisetas com a frase “white lives matter” (Vidas brancas importam), frase usada por grupos racistas, com o intuito de invalidar os protestos contra o genocídio da população preta.
O que a lei diz sobre o caso de pedofilia da Balenciaga?
Olhando para a legislação brasileira, o advogado, doutor em Direito Civil e autor do livro ECA - Entre a Efetividade dos Direitos e o Impacto das Novas Tecnologias, Marcos Catalan, explica que o Código de Defesa do Consumidor repudia qualquer propaganda que coloque em risco a integridade física ou psicológica da criança.
“O Código de Defesa do Consumidor repudia qualquer publicidade abusiva, classificadas como abusivas, propagandas que incite à violência, se aproveite da inexperiência da criança ou que seja capaz de induzir o consumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa à sua saúde ou segurança. Como normalizar práticas que fogem do considerado aceitável para crianças e adolescentes”, fala o especialista.
O profissional também destaca a Resolução 163, editada pelo Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA), em 13 de março de 2014. A medida foi criada com o intuito de barrar publicidades que podem ser consideradas nocivas para crianças e adolescentes.
“Com a Resolução 163, foi definido que publicidades dirigidas a crianças e adolescentes devem ter especial atenção e cuidado com as características psicológicas, ainda em desenvolvimento, deste publico. Sendo ilegais qualquer ação que fomente formas de violência e sexualização precoce”, aponta Marcos.
O advogado ainda reitera que a expor crianças a conteúdo sexual é uma violação do estatuto da Criança e do Adolescente e que esta sexualização precoce pode acarretar grandes danos psicológicos à criança.
“A sexualização precoce provoca diversas consequências nocivas, aumentando a probabilidade de distúrbios ligados à autoimagem, baixa autoestima, bulimia e anorexia. Além disso, a precocidade na descoberta da vida sexual, também pode causar gravidez na infância ou adolescência. Incitada pela publicidade, afeta o desenvolvimento saudável da sexualidade e das inteligências, quando não fomenta o abuso sexual”, afirma Catalan.