Produção independente: mães por opção

Vale a pena ter um filho sozinha? Mães solteiras relatam experiência e especialistas explicam como lidar com a falta do pai

Foto: Arquivo pessoal
Catia Paganote é mãe solteira de Valentina: 'a mulher tornou-se independente para tudo'

Aos 34 anos e depois de dois casamentos desfeitos, a cantora e ex-paquita Catia Paganote achou que estava no momento certo de ter um filho. Era primavera de 2009 quando ela ficou grávida de um amigo e assumiu integralmente a responsabilidade pela criação de Valentina, hoje com nove meses de idade. Catia não tinha nenhuma relação com o pai da menina. A produção independente foi uma opção – e ela garante que a experiência vale a pena. “A mulher se tornou independente para tudo, se colocou em um patamar em que realmente não precisa mais de um homem para manter um filho ou uma casa”, afirma.

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O pai de Valentina mora em outro estado e acompanha o crescimento da filha “à distância”, por meio de fotos e vídeos que a própria mãe envia pela internet. “Vou sempre deixar tudo claro para ela. Minha filha sempre vai saber sobre o pai”, garante. Mas Catia não revela a identidade dele.

Para a psicóloga Caroline Geocze, especialista em saúde da mulher e autora do estudo “Nove meses na vida de uma mãe solteira: o sentido subjetivo da gravidez”, as mulheres que optam pela produção independente levam em conta fatores como idade, carreira, estrutura familiar e perspectiva de construção de uma nova família. “Uma decisão pela produção independente configura um novo lugar da mulher na sociedade. A maternidade surge como projeto e não como destino ao qual a mulher está fadada”, explica Caroline.

Mas, como todo grande projeto, este também envolve desafios. “A mulher terá de assumir duas funções: a de pai e a de mãe, o que requer muita responsabilidade, amadurecimento, coragem e determinação”, afirma a psicóloga Sandra Almeida, especialista em comportamento.

Foto: Guilherme Lara Campos/Fotoarena
Gabriel e Lilian: 'fiquei mais responsável e centrada'

Pais substituíveis

A estudante Lilian Fernanda Gomes nem estava tão amadurecida ou preparada assim quando ficou grávida de Gabriel, hoje com quatro anos. Na época, aos 29 anos de idade, ela morava em Minas Gerais e engravidou de um namorado. Sem apoio dele – hoje chamado por ela de “produtor do espermatozoide” –, optou por assumir a maternidade sozinha.

Apesar das dificuldades iniciais e do preconceito que ela diz sofrer, especialmente no mercado de trabalho, a vinda do herdeiro trouxe fôlego e motivação. “Depois do Gabriel, fiquei mais responsável e centrada”, conta Lilian, que criou o blog SOS Mãe Solteira para contar sua experiência e falar sobre temas de interesse do grupo.

Pensando em dar um futuro melhor ao filho – que ainda não conhece o pai – ela foi atrás de uma bolsa de estudos, voltou para a faculdade e hoje cursa o último ano de Psicologia. Ela conta com o apoio da família na criação do menino, mas já se prepara para futuros questionamentos sobre paternidade. “O Gabriel ainda não me perguntou sobre o pai. Quando surgir o assunto, vou simplificar, mas não vou mentir. Vou dizer que o pai mora longe”, afirma Lilian.

A figura paterna é peça importante na estrutura familiar. O pai age como um articulador entre o bebê e o mundo, ajudando a criança a se sentir independente da mãe. Mas não ter um pai fisicamente presente não é obrigatoriamente um problema. “Os danos emocionais são gerados pela forma como se lida com essa falta”, explica a psicóloga Caroline Geocze. Por isso, ela aconselha falar sempre a verdade para a criança, na medida da compreensão e maturidade de cada uma.

Um membro masculino da família, seja avô, padrinho ou tio, pode ocupar este espaço e exercer influência sobre a criança, auxiliando na formação dela. Em outras situações, a escola também pode contribuir, ajudando a mulher em suas limitações, pontos cegos e dificuldades na tarefa de criar uma criança sozinha. 

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