Madrasta tem filho para ajudar enteado tetraplégico
O desejo de encontrar uma cura para o filho tetraplégico levou Miguel Ângelo Sebben, de 47 anos, a planejar o nascimento de outro filho. A madrasta do rapaz, Eva Vilma da Silva, de 27, aceitou a ideia e decidiu ajudar. Com as células-tronco do bebê, o casal esperançoso deseja recuperar os movimentos de Lucas Sabben, que sofreu um acidente há três anos e ficou tetraplégico.
As células-tronco estão congeladas a 196 graus negativos, ainda sem data para sair do refrigerador. Antes disso, é preciso que a ciência descubra uma forma segura e eficiente de usá-las. “Acredito em Deus e na ciência. Novos tratamentos vão surgir em breve”, aposta Miguel.
Por enquanto, poucos países realizam apenas procedimentos experimentais, que não possuem comprovação científica. “Existem tratamentos na China, mas sem bons resultados. Quero esperar até que haja algo aqui no Brasil”, comenta o pai.
Queda na tirolesa
Lucas tinha 18 anos quando perdeu os movimentos, na Páscoa de 2007, durante uma viagem para o Mato Grosso. O jovem caiu de uma tirolesa e bateu a cabeça num banco de areia, quebrando a coluna.
Poucos meses depois, Miguel teve a primeira filha com sua atual mulher, madrasta de Lucas. Nascia Liz. “Quando pensamos em usar as células-tronco dela, a menina já havia nascido, não dava mais tempo”, recorda Eva.
Mas o pai não deixou de apostar nesta alternativa. “O próprio Lucas chegou a falar em células-tronco”, recorda Miguel.
Influência da TV
A ideia de usar células-tronco foi amadurecendo aos poucos na família. “Pesquisei bastante sobre o assunto”, afirma o pai, que mora em São Roque, no interior de São Paulo.
Em uma visita à capital, Miguel passou em frente a um centro de criogenia, onde células-tronco são congeladas. “Passei a pensar mais no assunto”, conta.
Já Eva revela que foi bastante influenciada por uma ampla reportagem exibida pela televisão. “Passei a entender melhor o assunto. E se a gravidez acontecesse, iria ajudar”, afirma ela.
A gravidez aconteceu e a nova criança veio ao mundo em junho. Logo após o parto, as células-tronco do cordão umbilical foram retiradas e armazenadas.
À espera de um milagre
Não há como saber quando as células-tronco armazenadas por Miguel poderão ser usadas. É preciso esperar que alguns tratamentos experimentais evoluam muito, até que possam ser colocados em prática com resultados seguros e satisfatórios.
“Todos os procedimentos que existem hoje são experimentais, sem comprovação científica”, alerta Marcos Costa Valadares, pesquisador do Centro de Estudos do Genoma Humano da USP.
Entre os tratamentos em teste mundo afora, existem aplicações de células-tronco em áreas lesionadas do corpo, na esperança de que a célula-tronco se transforme em outro tipo de célula. “Mas para tratamento de lesões na medula, ainda não há técnica ideal”, reconhece Carlos Alexandre Ayoub, diretor do CCB (Centro de Criogênia Brasil), onde as células-tronco do filho de Miguel foram congeladas.