Fatores psicológicos interferem na fertilidade

Especialista em reprodução, José Bento de Souza fala sobre como o estresse e a pressão atrapalham a vida de quem quer engravidar

Foto: Thinkstock/Getty Images
O estado psicológico de ambos do casal podem interferir na fertilidade

Trabalhando há 30 anos com fertilidade e reprodução humana, o ginecologista e obstetra José Bento de Souza é autor do livro "Engravidar - Sim, é possível" (Editora Alaúde). O livro esclarece as dúvidas mais comuns dos casais que chegam a seu consultório com a mesma queixa: "doutor, não conseguimos engravidar".

Embora a falta de fertilidade seja tratada pela abordagem física, com exames e procedimentos que solucionem o problema, o doutor ressalta que o estado psicológico do casal tem papel fundamental no sucesso do tratamento. Leia abaixo entrevista com o médico.

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i G: Qual o senhor acha que é o maior problema de um casal com dificuldades para ter um filho?
José Bento de Souza:
O maior problema é passar a ter relações sexuais só para ter o nenê. O carinho, a sensualidade e o namoro ficam deixados de lado. O ato da relação sexual passa a ser mecânico. Isso é péssimo e vai minando o relacionamento.

iG: Como ele pode superar este problema?
José Bento de Souza:
O importante é tirar da relação sexual o compromisso do "ter um filho". Se for o caso, até mesmo pensar em fazer uma fertilização. Fora isso, precisa cuidar, primeiro, da alimentação. Comer frutas, verduras, ômega 3, evitar carboidratos. Segundo, adotar uma atividade física. Diminuir o estresse no trabalho e o tempo no trânsito. Quem pode, deve viajar todo final de semana. E namorar.

iG: O estado psicológico da mulher interfere no processo?
José Bento de Souza:
Sim, os fatores psicológicos interferem na fertilidade, e muito! Vejo pacientes que falam assim: "doutor, eu vou descansar, dar um tempo no processo, volto daqui a dois meses" - e volta grávida. Quando a mulher muda o foco da vida, ela tem mais chanve de engravidar. Por isso, para aquela mulher que não está trabalhando, é recomendável procurar um projeto novo, algo para tirar a pressão da espera pela gravidez. Já aquelas que têm uma vida muito atribulada precisam diminuir o ritmo.

iG: Os casais que procuram tratamento têm vergonha na primeira consulta?
José Bento de Souza:
Tem. Existe um certo preconceito da sociedade, parece até que fazer o tratamento de fertilização é contagioso. Isso é uma besteira. Com o tipo de vida que a gente leva hoje, é muito comum as mulheres engravidarem mais tarde. O ideal seria que todos, família e amigos, tratassem o tema com naturalidade.

iG: O senhor brinca com um ditado bem fatalista no livro: "Sexo é bom, até casar". Se a vida sexual do casal está totalmente ligada à fertilidade, qual a receita para mantê-la bem?
José Bento de Souza:
A receita é se reinventar, todos os dias. O relacionamento, para dar certo e durar, tem que ser cultivado. O casal precisa se conhecer todos os dias. É difícil, requer persistência, mas não pode deixar que a rotina acabe com o relacionamento.

iG: É comum vermos casais que planejam um filho "de emergência", só para salvar o casamento. Qual seu conselho para eles?
José Bento de Souza:
Essa é a maior receita para ir para o abismo. Filho não segura casamento, só acelera o processo.

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