Segundo dados do Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (IBOPE), o número de brasileiros veganos aumentou em 75% desde 2012 até 2018, tornando os veganos cerca de 8% da população brasileira. Para além de uma simples dieta, o veganismo é um posicionamento politico e de vida, contra a exploração animal. Por isso, não é incomum que pais veganos transmitam os seus valores para os filhos. No entanto, crianças pequenas podem ser veganas?
De acordo com a nutricionista Kátia Cristina Andrade, não existe nenhum problema excluir os derivados dos animais da dieta de uma criança, contanto que os pais procurem orientação médica e ofereçam alimentos variados.
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“É consenso que esse tipo de prática leva a um menor consumo de colesterol, gordura saturada e aumento do teor de fibras alimentares na dieta, características essas que seriam um fator de proteção na vida adulta contra doenças crônicas não transmissíveis. Entretanto, por serem grupos mais vulneráveis, é importante o acompanhamento para proporcionar a oferta de todos os grupos de alimentos, além de, quando necessário, recomendar a suplementação de nutrientes que se apresentam deficientes”, salienta.
Além da importância do acompanhamento médico, a coordenadora do curso de Nutrição do Centro Universitário Cesuca, Chaline Caren Coghetto, ressalta a importância do cuidado para tornar a alimentação da criança variada, mesmo com a restrição alimentar.
“A família desta criança precisa ser muito bem orientada para que entenda, de forma criteriosa, como deve ser distribuída a dieta. Além disso, deve-se acompanhar o crescimento da criança para verificar se está dentro dos parâmetros adequados, como peso e estatura. O que o paciente não pode é manter uma dieta monótona, ele precisa abrir o leque de opções e buscar um profissional nutricionista que vai lhe ajudar a escolher alimentos substitutos, como, por exemplo, diferentes leguminosas, cereais e demais alimentos vegetais”, diz a médica.
Chaline também pontua que os derivados dos animais e carnes não são essenciais para o desenvolvimento humano, sendo possível ter uma vida saudável mesmo excluindo esses itens da alimentação.
“Temos muitos casos de pessoas que são vegetarianas e veganas, e mesmo assim mantêm uma alimentação adequada e uma vida saudável e segura. O importante e fundamental é sempre o paciente buscar orientação de um nutricionista para realizar um acompanhamento personalizado. A principal recomendação é buscar profissionais qualificados para receber as orientações corretas, para que estes filhos recebam todos os nutrientes necessários para um crescimento adequado. Além disso, há necessidade de um cuidado especial com as fontes de proteínas da dieta, escolhendo proteínas de alto valor biológico de fonte vegetal, como, por exemplo, feijão e arroz”, explica a profissional da saúde.
Andrade recomenda para que os pais se atentem à qualidade da alimentação da criança, em vez da quantidade. Ofertando, especialmente, alimentos variados de origem vegetal:
- Oferecer alimentação em intervalos mais frequentes, proporcionando, assim, uma adequação na oferta calórica;
- Garantir que na dieta sejam oferecidos alimentos com densidade energética aumentada como as oleaginosas que, além de proporcionarem energia, também veiculam gorduras de boa qualidade e proteínas;
- Orientar a ingestão de feijões e proporcionar melhores condições de utilização do ferro presente nesse grupo de alimentos como: ingerir fontes de vitamina C na refeição onde o feijão está presente, fazer o remolho do feijão com o objetivo de reduzir os fatores antinutricionais e não ingerir leite e derivados na mesma refeição;
- Utilizar alimentos fonte de cálcio tendo em vista que nessa fase o mineral é fundamental para o crescimento, mineralização óssea e dentária. Os alimentos de origem vegetal como vegetais verdes escuros tem o mineral, mas sua utilização pelo organismo é muito reduzida e, sendo assim, a utilização de bebidas vegetais fortificadas com cálcio são uma sugestão de viabilizar a oferta do nutriente.
Uma alimentação com mais alimentos de origem vegetal do que animal também é indicada pelo Guia Alimentar, criado pelo Ministério da Saúde. Nele, o documento incentiva o consumo alimentos de origem vegetal, enfatizando problemas sociais e ambientais.
“A opção por vários tipos de alimentos de origem vegetal e pelo limitado consumo de alimentos de origem animal implica indiretamente a opção por um sistema alimentar socialmente mais justo e menos estressante para o ambiente físico, para os animais e para a biodiversidade em geral", promove o documento.
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"O consumo de arroz, feijão, milho, mandioca, batata e vários tipos de legumes, verduras e frutas tem como consequência natural o estímulo da agricultura familiar e da economia local, favorecendo assim formas solidárias de viver e produzir e contribuindo para promover a biodiversidade e para reduzir o impacto ambiental da produção e distribuição dos alimentos. A diminuição da demanda por alimentos de origem animal reduz notavelmente as emissões de gases de efeito estufa (responsáveis pelo aquecimento do planeta), o desmatamento decorrente da criação de novas áreas de pastagens e o uso intenso de água”, destaca o guia.