Durante o jubileu da Rainha Elizabeth, um vídeo da Duquesa de Cambridge Kate Middleton sofrendo com a birra do filho mais novo Louis ganhou o mundo. E a solidariedade dos pais, afinal, qual pai e mãe nunca enfrentou uma situação assim?
De acordo com a especialista em desenvolvimento infantil integrativo Aline de Rosa, o comportamento é comum, não importa se você é da realeza ou não. “Todo pai e mãe vai ter diante de si uma criança que se comporta mal, que tem explosões emocionais, que bate, que morde, que rouba o baldinho da outra criança no parquinho, que fura fila e que conta mentirinhas”, diz. Segundo Aline, isso tudo faz parte do desenvolvimento infantil, aquilo que é visto como um terror, a birra - um processo muitas vezes visto como humilhação e vergonha para os pais - é na verdade um sinal de que a criança está se desenvolvendo de forma saudável.
A especialista explica que a primeira coisa para encarar a situação é, ao invés de ter medo e raiva da birra, encarar esse momento como uma oportunidade tanto para os pais desenvolverem suas capacidades de educação, quanto para as crianças aprenderem novas ferramentas de autocontrole e autoconhecimento, aprenderem a identificar seus sentimentos, a responder a eles de uma forma positiva e respeitosa.
Segundo Aline de Rosa, um mito que existe em torno da birra é que se os pais souberem educar direito, a criança vai ser obediente e comportada. “A famosa criança boazinha que não faz birra, e isso não existe. Esse conceito é irreal e impossível de ser alcançado. Encarar a birra dessa forma prática, objetiva e realista, traz muita leveza para todos os pais que estão diante de crianças enfrentando desafios com o sentimento e comportamento”, explica.
O que está por trás desse comportamento
Mas afinal, se ela é comum, o que significa essa explosão emocional, essa raiva exacerbada e descontrole comportamental? De acordo com a especialista, significa que a criança está experimentando situações e sentimentos pela primeira vez. “As crianças ainda não têm todos os seus processos cognitivos e neurológicos amadurecidos, então ela ainda tem dificuldades físicas e até mesmo biológicas de exercer autocontrole sobre aquilo que ela sente”, diz.
Aline explica que, basta outra criança empurrar ela mais forte no parquinho para ela sentir uma raiva imensa e esse sentimento transbordar num empurrão, numa mordida ou num grito. Ela não tem o filtro que nós adultos já temos desenvolvido ‘Nossa ele me empurrou, me machucou, vou respirar e vou ver o que eu faço, se foi sem querer, se foi de propósito, que resposta eu dou?’. A criança não tem essa pausa, ela não tem esse processo neurológico plenamente desenvolvido, isso ela só alterará em torno dos 21 a 25 anos.
Ainda há um longo caminho para que ela percorra por esse processo de amadurecimento neurológico até conseguir entender seus sentimentos e pensar em respostas positivas. Apesar do amadurecimento só chegar ali em torno dos 21 a 25 anos, a gente precisa ensinar habilidades para elas terem repertório. Esse repertório precisa ser aprendido pelos pais, para que, então, possa ser ensinado para as crianças.
Para ajudar os pais no dia a dia, a especialista listou 7 orientações práticas para usar nessas situações.
Nunca eduque na hora da crise : A primeira orientação prática para você mudar o seu comportamento na hora da birra é nunca eduque a criança na hora da crise. Na hora da raiva, na hora do medo, que ela está gritando e se jogando no chão, esperneando, essa não é a hora de usar o seu raciocínio lógico de querer explicar para ela o que está acontecendo. Nesse primeiro momento, ela precisa ser acalmada, então nesse primeiro passo acalme a criança.
Acolha o sentimento : O segundo passo é acolher o sentimento. É importante separar o que é sentimento do que é a atitude, a criança tem todo o direito como qualquer ser humano de sentir raiva, medo, ciúme, alegria e entusiasmo. Todos os sentimentos fazem parte da vida humana e ela sentir medo é absolutamente natural, porém, ela bater no amigo porque ela sentiu medo, é desrespeitoso. Na educação da criança, é fundamental que o adulto faça essa distinção do sentimento e atitude, porque, primeiro a gente acolhe o sentimento e depois a gente educa a atitude. Para acolher o sentimento, você vai abraçar, vai perguntar se ela quer contar até 10, se ela quer tomar um copo de água, o que quer que seja que a acalme e a faça respirar mais profundo, é a hora de fazer!
Escute ativamente : O terceiro passo não é você falar sobre regras e limites, a gente ainda está na etapa inicial da birra, a da conexão com a criança. Você vai escutar ativamente como a criança se sente, o porquê dela ter feito o que fez e o que a motivou a se comportar dessa forma. Escute ativamente, sem julgamentos, não importa o que você pense, deixe a criança desabafar e falar.
Repita o que a criança falou : Ainda na etapa de conexão, você vai repetir o que a criança falou em outras palavras. Essa é uma forma maravilhosa de fazer a criança se acalmar e perceber que você está entendendo o que ela está narrando, ‘Você ficou chateado porque o seu amigo esbarrou em você, derrubou o seu caderno no chão e ele não pediu desculpas? Ah, entendi’. Então você faz o que a gente chama de parafrasear a criança, isso faz com que ela se sinta aberta para te ouvir e ela vai pensar ‘Nossa, meu pai e minha mãe estão entendendo exatamente o que aconteceu’, e quando você se sente acolhido e conectado a criança, aí ela estará aberta para ouvir a parte dos limites, das regras.
Lembre a regra, nunca dê sermão
: Agora sim, é a hora de trabalhar os limites. Você vai relembrar a regra dizendo algo do tipo ‘Eu entendi que você sentiu raiva e é absolutamente normal, a mamãe também sente raiva, mas quando isso acontece, bater no seu amigo e empurrar ele não é a forma que você vai resolver isso, esse é um comportamento desrespeitoso’ agora sim, você relembra os valores e as regras. O mais importante é, nada de ser mão, não é para ficar horas falando sobre limites, pois a criança só vai fingir que está te ouvindo. A criança não é educada com sermão, então seja objetivo.
Foque em solução
: O sexto passo é focar numa solução. Foque no que a gente pode fazer, tire a mente da criança do problema, se não, ela não consegue sair do problema, sem a sua ajuda. O objetivo é no que, na prática, você pode fazer para resolver o problema gerado.
Nunca compare : A sétima orientação é, nunca compare uma criança com a outra. Isso não é respeitoso e cada criança é uma, você desrespeita a individualidade dela, e ao invés de a encorajar, na verdade você gerará mais raiva, ciúme e sensação de insuficiência na criança. Então ao falar sobre a criança, compare ela com ela mesma e nunca com outro.