Já faz um tempo que a maternidade deixou de ser prioridade para muitas mulheres. Algumas não pensam em ter filhos e outras priorizam a vida profissional e a estabilidade financeira antes de formar uma família. Como não há como parar o relógio biológico para acompanhar esses planos, o congelamento de óvulos passou a ser uma solução para quem quer adiar a gestação .
“O congelamento de óvulos é a maneira mais segura para aquelas que pensam em postergar a maternidade ou que terão de passar por tratamentos médicos que podem levar à infertilidade, como radioterapias, quimioterapias, ou cirurgias ovarianas”, explica Georges Fassolas, médico especialista em reprodução humana assistida.
Resumidamente, o procedimento consiste em coletar óvulos da mulher, congelar e guardar para uma futura fertilização in vitro, que é o tratamento para casais que apresentam dificuldade em conseguir gestação e o objetivo, em curto prazo, é a gravidez . Portanto, há uma diferença entre a fertilização in vitro e o congelamento de óvulos. “O objetivo do congelamento é preservar a fertilidade para mulheres que não pretendem engravidar em curto prazo”, diz.
Congelamento de óvulos – detalhes do procedimento
Georges explica que o procedimento acontece em algumas etapas. Na primeira parte do tratamento, a mulher faz uso de medicações injetáveis por cerca de 10 a 12 dias. “São medicações para estimular o crescimento de mais óvulos naquele determinado mês. Em um ciclo natural, sem medicações, teríamos somente um óvulo no ciclo, o que é inadequado para congelar”, diz. Segundo ele, o ideal é conseguir congelar mais óvulos.
Além da injeção de medicamentos, a paciente realiza de três a quatro ultrassonografias transvaginais nesse período para acompanhar o crescimento dos folículos ovarianos, que são as estruturas que habitualmente contém os óvulos. “Quando detectamos através do ultrassom que esses folículos estão bem desenvolvidos e de tamanho adequado, programamos a coleta de óvulos”, diz.
A segunda etapa do procedimento consiste na coleta de óvulos. Apesar de ser realizada em um centro cirúrgico e exigir sedação, é um procedimento simples que dura entre 15 a 30 minutos. “A captação dos óvulos é feita com uma agulha guiada por ultrassom através da vagina, ou seja, não é necessária realização de cortes ou pontos”, diz o especialista. Cerca de uma hora após o procedimento a paciente já recebe alta.
Depois da coleta, as células são examinadas e, em vez de serem fecundadas e implantadas no útero, são vitrificadas minutos depois, a uma temperatura de -196ºC, e transferidas para um contêiner com nitrogênio líquido.
Depois de coletados e vitrificados, o procedimento de congelamento de óvulos está concluído. Alguns anos após isso, se essa mulher não conseguir engravidar naturalmente, acontece o descongelamento desses óvulos. Mas não é precioso de preocupar e já congelar pensando em quando precisarão ser descongelados. De acordo com o especialista, o óvulo pode ficar congelado por tempo indeterminado sem prejuízo de sua qualidade.
“Após o descongelamento, fertilizamos os óvulos com os espermatozoides e, então, formam-se os embriões. Escolhemos um ou dois dos melhores embriões e colocamos no útero previamente preparado com hormônios simples, utilizados via oral ou pela pele”, explica Georges.
Cuidados com o procedimento
Antes e após a realização do procedimento, é preciso tomar alguns cuidados. “É necessária adequada utilização das medicações e um acompanhamento ultrassonográfico frequente”, explica o médico. Após o procedimento, recomenda-se um repouso por dois dias. “Nesse período, a depender do número de óvulos coletados, recomenda-se evitar atividade física de impacto e relação sexual”, completa.
O procedimento é tranquilo e sem grandes impactos à rotina da mulher, porém, assim como em todo tratamento de reprodução assistida, o desgaste físico e o cansaço psicológico podem surgir. “Lidar com essas adversidades requer força de vontade e determinação”, relembra.
Além disso, o médico informa que desconfortos como inchaços e alteração do humor também são normais. “São efeitos colaterais que podem ser solucionados em casa e que incomodam algumas mulheres apenas durante o tratamento”, pondera Georges.
Quem procura o procedimento?
De acordo com Georges, quem procura o congelamento de óvulos são mulheres que estão se dedicando cada vez mais à vida profissional e assumindo cargos de alta responsabilidade no mercado de trabalho . Também são mulheres mais exigentes com seus parceiros, que possuem independência financeira e, portanto, procuram relacionamentos mais estáveis e duradouros antes de optar pela maternidade.
A advogada Angela Fonseca foi uma dessas mulheres que decidiu congelar os óvulos e esperar o momento ideal de ser mãe. Aos 37 aos, decidiu buscar o procedimento por estar em um relacionamento à distância. “Não desejava exercer a maternidade sem um pai presente. Por outro lado, sabia que o relógio não estava em meu favor quando o assunto é saúde reprodutiva”, fala em entrevista ao Delas .
Para ela, o procedimento surgiu como uma saída por ser algo seguro e eficaz em um momento onde a maternidade não é prioridade. “Ter a segurança de óvulos congelados é um alívio para me deixar viver com leveza, sem me preocupar tanto com a hora certa de ser mãe”, diz.
Apesar de não ser um plano em curto prazo, ser mãe está no horizonte de Angela. A advogada conta que tem planos de descongelar os óvulos em cinco anos caso não consiga engravidar de forma natural até lá.
Angela fez o procedimento aos 37 anos, mas o especialista em reprodução humana explica que não há limite de idade para congelar óvulos, pois tudo depende da avaliação da reserva de óvulos de cada mulher. Essa avaliação é feita através do ultrassom transvaginal e de exames hormonais.
Apesar disso, a faixa etária mais indicada para o congelamento de óvulos é antes dos 35 anos, por conta da qualidade superior e da quantidade dos óvulos, além de as taxas de sucesso do tratamento serem melhores nessa faixa etária.