Mãe de criança autista é criticada após postar fotos: "Para chamar atenção"

Samantha Bishop sempre faz ensaios fotográficos do pequeno Levi, mas ele nunca gostou. Ela resolveu, então, deixá-lo livre, e o menino quis se vestir de dinossauro, porém a mãe foi acusada de expor o filho com autismo

A americana Samantha Bishop é mãe solteira, e seu filho , o pequeno Levi, de seis anos, possui autismo. Por muito tempo, a mãe teve dificuldades em lidar com a situação, e como ia precisar passar mais tempo em casa para cuidar do menino, ela resolveu parar de trabalhar fora e se dedicar à fotografia. Desde então, todos os anos Samantha faz um ensaio fotográfico do filho, mas, ao postar as fotos dele e dizer que ele é uma criança autista, foi criticada.

Foto: Reprodução/Facebook
Samantha Bishop fez fotos do filho e foi criticada por 'divulgar' no Facebook que é mãe de uma criança autista


O menino nunca gostou de fazer poses e passar horas sorrindo em frente à câmera, mas a mãe insistia em fazer os ensaios. Na última sessão, Samantha resolveu deixar o menino livre, e ele quis vestir uma roupa de dinossauro. Quando postou as fotos, ela quis explicar que é mãe de uma criança autista,  mas muitas pessoas começaram a criticá-la dizendo que essa era uma informação desnecessária e que ela estava fazendo isso para aparecer.

Samantha, que tem uma página no Facebook chamada “This Life With Levi” (A vida com Levi), ficou incomodada com as críticas e resolveu fazer um desabafo explicando por que é importante expor que ela é mãe de uma criança autista. Confira abaixo o relato que acabou viralizando.

Os desafios de ser mãe de criança autista 

Foto: Reprodução/Facebook
A criança autista foi fotografada com sua prima Lola, de 5 anos, eles são inseparáveis e se divertiram durante as fotos


“Eu recebi com muita tristeza [mensagens] de várias pessoas por conta dessas fotos. Muitas delas disseram que expor que ele [meu filho] tem autismo era irrelevante, algo para chamar atenção. Mas também recebi pedidos, após compartilhar as fotos, de algumas pessoas dispostas a ouvir a nossa história.

Criei Levi sozinho desde que ele tinha seis meses de idade. Nós enfrentamos uma luta atrás da outra. Eu tinha 18 anos quando o tive e não estava preparada para nada que a vida estava prestes a lançar em mim. Deixei uma relação e uma situação doentia, no meio da noite, e embarquei em um avião nas primeiras horas da manhã apenas com meu bebê de seis meses e uma mochila.

Nós ficamos desabrigados por uns bons oito meses. Ao longo dos anos, trabalhamos duro. Eu me estabeleci com uma sólida carreira em serviços de emergência, depois no sistema judicial e consegui colocar um teto sobre nossa cabeça, mas o esforço continuou. Deixar o filho na creche nunca é algo fácil quando você trabalha em turnos com um cronograma rotativo.

Com o passar dos anos, ele deu início à educação infantil. Eu sabia que algo estava errado. Ele era diferente. Ele brigou na sala de aula, teve explosões emocionais extremas e estava regredindo regularmente. Quando entrou no jardim de infância, essas questões se intensificaram. Eu lutei por um diagnóstico, por terapia, por um ambiente escolar saudável.

Me lembro da professora dele me dizendo que ‘ele só age dessa maneira porque não consegue o que quer’ enquanto meu filho, uma criança autista, estava em extrema angústia emocional e mental. Eu passava as manhãs com ele soluçando, implorando para não ser mandado para a escola. Eventualmente, enquanto as coisas rolavam, os psicólogos interviam.

Nós tentamos várias escolas diferentes e sempre me falavam para colocar limites no dia dele. Levi não foi autorizado a frequentar a escola como outras crianças e sinto que ele continua sendo muito limitado pelo sistema escolar.

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Foto: Reprodução/Facebook
Após as críticas, a mãe da criança autista fez um texto desabafando sobre o caso que acabou viralizando


Essas brigas diárias com a escola e os médicos me deixaram incapaz de focar na minha carreira fora de casa. Então, eu encontrei fotografia. Eu me apaixonei e passei os últimos anos doando minha vida, energia e lágrimas para fazer isso funcionar. Por anos, eu lutei com o diagnóstico dele [Levi], eu me sentia ressentida com isso. Eu rezei por um dia normal, por uma vida normal. Para jogar beisebol e fazer festas de aniversário. Para ele poder ter férias, aulas de arte e música.

Eu me apeguei a ideia de ter uma ‘ vida perfeita de Instagram ’ e postar fotos adoráveis ​​do meu filho sorrindo alegremente e olhando para a câmera. Mas foi preciso persuasão, suborno, ter que dançar como uma tola e fazer monte de piadas [para conseguir tirar as fotos]. Foi exaustivo. De cinco mil fotos, eu posso dizer que tem 10 fotos ótimas.

O contato visual era desconfortável para ele. Sorrir ou demonstrar emoção aos meus comandos era desconfortável. E foi tão difícil entender por que esse processo de tirar algumas boas fotos do meu filho era sempre tão difícil. Eu era capaz de tirar com facilidade ótimas fotos das crianças de todo mundo, mas do meu filho não.

Algumas semanas atrás, atingimos uma fase muito difícil em nossas vidas. Eu estava lidando com problemas médicos por vários meses e me recuperando de uma cirurgia na coluna, ele estava lidando com alguns problemas emocionais após o início de um novo ano escolar. Eu estava pronta para desistir e resolvei encontrar ajuda externa ou soluções de vida para ele. Alguém que poderia realmente dar-lhe tudo o que ele precisa.

Entrei em contato com programas e agências para entender uma criança autista, desesperada por respostas. Enquanto eu estava sentada lá, em completo desastre emocional, lágrimas inundando meu rosto, ele se sentou ao meu lado, colocou os braços em volta de mim e me disse que estava tudo bem. Ele me disse que eu ainda era uma boa pessoa, uma boa mãe. E foi quando percebi que tudo o que ele precisava era ser aceito e celebrado por quem ele é.


Dizer que não estou escrevendo isso sem chorar de soluçar seria mentira. Eu falhei como mãe. Eu tinha colocado tanta energia em resistir ao que os médicos me disseram que eu nunca parei para amar o pequeno e hilário ser humano que estava na minha frente. E assim surgiu a necessidade de eu mostrar o quão incrível ele realmente é, da única maneira que eu sabia: fotografando.

Lola, uma menina de cinco anos, é sua melhor amiga, sua prima, sua companheira. Eles são inseparáveis ​​há anos. Ela o ama incondicionalmente e é tão reconfortante quanto ela surge. Ela o ama do jeito que eu gostaria que todos pudessem amá-lo. Ambos sempre adoraram se fantasiar, especialmente Levi. Toda vez que ele vê um novo personagem ele começa a criar um novo traje.

De Caça-Fantasmas a policiais, de chefs a advogados. Ele passou uma semana com uma cartola depois de assistir ‘O Rei do Show’. Se ele não está usando algum tipo de fantasia, ele quase sempre pode ser encontrado de terno e gravata. A roupa sempre foi uma intensa obsessão para ele, mas muitas vezes isso não se enquadra nas suas funções cotidianas. Ele sempre nota o que as pessoas estão vestindo e se lembra disso melhor do que qualquer outra coisa.

Então, enquanto muitas pessoas não enxergam por que seu  autismo ou outras necessidades especiais têm algo a ver com essa sessão de fotos, sei que muitas outras verão. Este é ele dentro do seu universo. Não há sorrisos forçados, nem suborno, nem felicidade fingida. Este é o garoto bobo, hilário e bondoso que me foi dado.

Por causa de suas necessidades especiais, ele tem uma memória fotográfica aguçada, ele é tão franco quando se vê e pode construir qualquer coisa, ele é hilário e brilhante. E assim escolho celebrar seus ‘rótulos’ e ensiná-lo a usá-los a seu favor, em vez de vê-los como um obstáculo”, finaliza Samantha, que tem orgulho de dizer que é mãe de uma criança autista .