Escola bilíngue: vale a pena ensinar outro idioma para crianças?
A metodologia propõe atividades lúdicas adequadas à faixa etária para naturalizar o idioma ainda nos primeiros anos de vida da criança
Por Claudia Ratti |
Aprender um novo idioma além da língua nativa é cada vez mais importante, tanto para o desenvolvimento pessoal e social quanto profissional. Muitos pais começam a se preocupar com o tema quando as crianças ainda estão no processo de alfabetização e, por isso, matriculam os filhos em uma escola bilíngue ou recorrem a cursos de idiomas como inglês ou espanhol.
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De acordo com estudos realizados por pesquisadores da Kings College, na Inglaterra, e da Brown University, nos Estados Unidos, as crianças têm mais facilidade para aprender outro idioma antes dos quatro anos de idade. A explicação para isso está no fato de que, nessa fase, as ligações entre os neurônios se desenvolvem para processar novas palavras. Esse foi um dos motivos que levaram Débora Dourado a matricular os dois filhos – um do 1º e outro do 5º ano do Ensino Fundamental – em uma escola bilíngue .
Como funciona?
De acordo com Flavia Cal Monteiro, educadora e coordenadora do Projeto Bilíngue da escola Dínamis, no Rio de Janeiro, a criança aprende por meio de ações concretas e significativas para a faixa etária na qual ela se encaixa.
A educadora explica que durante os primeiros anos escolares, o foco do ensino do segundo idioma está na produção oral. A escrita e as letras passam a ser parte da rotina a partir do chamado Jardim 3. “Sem cobranças, apenas como uma grande brincadeira”, afirma ela. No período de alfabetização, as palavras começam a ser introduzidas de forma gradual e crescente. Assim, as crianças começam a estabelecer naturalmente relações entre letras e sons comuns e diferentes entre os idiomas.
Em geral, a escola bilíngue trabalha conteúdos do dia a dia da criança. “Trabalhamos o calendário, o clima e as datas comemorativas, como no turno regular, mas sempre preocupados em manter o ambiente lúdico”, explica a educadora.
A educadora afirma ainda que todos os espaços e materiais oferecidos pelo ambiente escolar são aproveitados. Assim, são propostas atividades que vão além da sala de aula, realizadas na quadra e no pátio, por exemplo. As crianças também participam de brincadeiras, jogos e atividades artísticas – sempre em inglês e brincando.
Na fase inicial, não há avaliações ou cobranças burocráticas de resultados (como provas) em relação ao aprendizado do idioma. “Uma resposta corporal ou o simples reconhecimento de itens relativos aos conteúdos trabalhados são suficientes para sinalizar uma aprendizagem efetiva”, comenta.
Mas isso começa a mudar no Ensino Fundamental, onde a escrita do outro idioma começa a ser trabalhada. É também nesse momento que algumas provas passam a ser aplicadas usando o segundo idioma. No caso do projeto que Flavia coordena, inicia-se o processo de avaliação por meio de provas escritas a partir do terceiro ano fundamental.
Pontos positivos
Para Débora, a grande vantagem da escola bilíngue está no fato de o inglês ser apresentado como algo natural e diário na vida da criança. “Não é algo forçado, a criança realmente incorpora aquilo no dia a dia”, comenta.
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Como Flavia explica, o idioma é trabalhado em situações concretas e lúdicas que vão para além da sala de aula. A mãe dos garotos entende a educação bilíngue como algo vantajoso. Débora acredita que ensinar o inglês dessa forma é mais positivo do que manter as crianças em cursos que oferecem apenas os livros como material de estudo.
Além disso, aprender outro idioma é positivo para o desenvolvimento cognitivo dos pequenos; estudos apontam que crianças bilíngues são mais atentas e têm uma memória melhor.
Possíveis dificuldades
Como a escola bilíngue incorpora o inglês no dia a dia e torna o idioma natural, a adaptação é fácil mesmo para as crianças que frequentaram creches ou colégios tradicionais. O filho mais novo de Débora, por exemplo, passou dois anos em uma creche que não oferecia o inglês, mas não enfrentou dificuldades ao tentar se adaptar à rotina bilíngue.
No entanto, conforme os anos do ensino fundamental avançam e o ensino do idioma fica mais intenso, estudantes de escolas tradicionais e sem conhecimento prévio do idioma podem sentir dificuldades para se adaptar e acompanhar o conteúdo. Nesse caso, os pais devem avaliar se os filhos estão realmente preparados para ingressar na nova escola ou se devem se preparar melhor.
Além da adaptação, muitos pais se preocupam com a possibilidade do segundo idioma atrapalhar o processo de alfabetização da língua nativa. Débora acredita que não e inclusive ela destaca os resultados positivos que os filhos apresentam com o estudo do inglês. “O ensino bilíngue só tem a acrescentar para a criança”, diz.
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Como ajudar em casa?
De acordo com Flavia, a principal orientação é a de que pais e responsáveis não traduzam palavras ou expressões para os filhos, e que também evitem cobranças em relação ao idioma que está sendo ensinado. Além disso, respeitar o ritmo de aprendizado e de assimilação é algo essencial, já que é comum que algumas crinaças tenham vergonha de praticar o inglês fora da escola.
Forçar uma situação pode fazer com que os pequenos sintam-se frustrados caso não consigam responder corretamente determinada questão ou se esqueçam de certas expressões. Em vez de ajudar, isso pode trazer consequências ruins, como um bloqueio no aprendizado. “Muitas vezes, uma criança reconhece a palavra 'blue', por exemplo, e a relaciona com a cor corretamente. Porém, talvez ela não saiba responder corretamente ao ser questionada sobre como é a azul em inglês”, exemplifica Flávia.
Por isso, a educadora da escola bilíngue orienta que os pais deixem as crianças à vontade. “A dica é brincar, ouvir músicas e assistir filmes”, diz. E é exatamente isso que Débora faz; a mãe propõe que a família assista filmes e escute músicas em inglês, além de conversar no idioma com os filhos.