
O atendimento de um hospital infantil da rede pública de Palmas, no Tocantins, tem chamado atenção da mídia e da internet e gerado debate. Kássio Marques e Pollyana Lacerda levaram a filha Gabriela, de 3 anos, para uma consulta médica com reclamações de dores e ardência ao urinar e acabaram com a prescrição de um estojo de maquiagem novo para a pequena.
A receita da médica dividiu opiniões e ainda abriu uma discussão sobre o consumismo infantil. Por que a menina acabou querendo um presente como o estojo de maquiagem?
O iG Delas conversou com Kássio, pai de Gabriela, e com especialista para entender a situação e a reação da família.
Receita inusitada
Segundo Kássio, a médica examinou Gabriela e constatou que não havia nada de errado com a criança. Elas conversaram e a menina comentou que queria um estojo novo de maquiagem para ficar feliz, daí a receita inusitada.
"Ficamos surpresos porque a médica começou a escrever a receita, não sabíamos que estava colocando aquilo", explica Kássio.

Reação da família
Kássio compartilhou uma imagem da receita no Facebook e os comentários foram os mais diversos. Enquanto alguns criticaram a atitude da médica, outros levaram a situação com bom humor, como os pais de Gabriela. Kássio escreveu na rede social que todos caíram na risada ao ver a indicação da médica: "Bom seria se os profissionais da saúde tivessem esse mesmo senso de humor e atendimento".
Incentivo ao consumo?
Entretanto, alguns comentários levantaram questões sobre consumismo e abriram debates. Por que a criança queria um estojo de maquiagem? Os pais devem comprar o que a criança pede na hora que ela pede? Seria apenas manha?
Você viu?
O pai da menina de 3 anos acredita que a escolha foi influenciada por desenhos e propagandas que ela costuma ver na televisão. "A Gabriela é uma criança, não tem muita noção das coisas ainda. Ela assiste esses desenhos e já viu episódios de alguns personagens doentes, então sempre me fala: 'papai, eu tô com febe', e aí a gente fala que vai comprar um remédio", fala Kássio.
Para o pai, a garota citou o estojo de maquiagem durante a consulta porque deve ter visto em algum desenho infantil e apenas repetiu a fala.

O que comprar ou não para os filhos?
No final, Gabriela acabou ganhando o tal estojo de maquiagem. Mas o pai não defende que a filha deva ganhar tudo o que deseja. "Não sou a favor de comprar tudo que a criança pede, a Gabriela tem que merecer. Ela sabe que se for uma boa menina, educada com as pessoas e amiguinhos, ela vai ganhar presente. Estamos sempre ligados na educação dela. Ela entra na escola 7h50 da manhã e sai às 17h30, só fica no máximo uma hora por dia vendo televisão ou mexendo no tablet, até porque o tempo é curto."
"Muitas pessoas não entenderam ainda a história. Chamam a Gabriela de mimada, piriguete e tem gente achando que maquiagem é remédio e sempre que ela adoecer vou comprar isso para ela", afirma Kássio. "As pessoas não têm respeito a ninguém, não sabem como é a criação da minha filha e não entendem que o fato da maquiagem foi uma questão de atendimento com atenção e bom humor por parte da médica", defende o pai.

Por sorte esses comentários não afetaram a menina de 3 anos, que achou o máximo ter aparecido na televisão e se visto no jornal, mas não entende muito bem o porque disso tudo.
Criança x consumo
De acordo com a psicopedagoga e psicóloga infantil Gabriela Luxo, a mídia de fato influencia e a criança pode acabar vendo o que é mostrado como algo ideal. O papel dos pais nessa relação é muito importante, já que orientam as crianças sobre o que realmente é necessário.
"As crianças fantasiam uma realidade para o que a mídia mostra e acham que aquilo traz felicidade. A ideia de perfeição que é vendida faz com que elas tenham um comportamento de cópia, influenciado pela idealização da mídia. Cabe aos pais controlarem tudo isso", explica a especialista.
Ela ainda orienta a como agir caso a criança fique pedindo presentes a todo instante. "É indicado que os presentes sejam algo combinado para coisas especiais ou datas importantes como aniversário, dia das crianças, Natal. Isso ensina a criança a lidar com a espera e o desejo para chegar até a conquista. Outro ponto importante é verificar se o brinquedo vai ser algo produtivo que ajude no desenvolvimento da criança. O ideal é que tenha uma conversa mostrando que as vezes aquilo não é tão necessário", comenta a psicóloga.