Alemão adotou o vestuário em solidariedade ao filho de cinco anos, que virou assunto da cidade e foi perseguido pelos colegas da escola por gostar de usar vestidos

Morador de uma pequena cidade ao sul da Alemanha, Nils Pickert decidiu usar saias em público para apoiar seu filho, de cinco anos, que gosta de usar vestidos. A história, publicada na revista online alemã “Emma” em forma de depoimento, vem ganhando repercussão no mundo todo e rendeu a Nils o título de “pai do ano” entre internautas.
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Adepto do “gender neutral parenting” (“criação sem gênero”, em tradução livre), corrente que prega a educação das crianças sem distinções relacionadas ao gênero, Nils não achou coerente proibir o menino de usar roupas femininas. Na visão do pai, a criança precisava de um modelo. “Então me tornei esse modelo”, disse no depoimento à revista, completando que a preferência do garoto nunca havia sido um problema quando a família morava na liberal Berlim, capital alemã, mas virou assunto público e problema na escola depois da mudança para uma cidade mais tradicional.
Para o psiquiatra Alexandre Saadeh, coordenador do Ambulatório de Transtorno de Identidade de Gênero e Orientação Sexual do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, a atitude não funcionaria no Brasil. Aqui, o pai seria altamente criticado e levantaria uma polêmica não muito favorável ao desenvolvimento da criança. Mas usar roupas associadas ao gênero oposto é algo comum durante a infância. “Menino brinca de menina e vice-versa, faz parte do desenvolvimento”, diz Alexandre.
Rompendo padrões
Na opinião do psicoterapeuta e educador Leo Fraiman, Nils acertou em não tornar o uso de vestidos um assunto maior que o necessário. Usar saia, vestido ou brincar de boneca não significa que a criança é homossexual. Existe uma possibilidade, mas assim como existe para outras crianças identificadas ao próprio gênero.
“A partir dos quatro anos de idade a identidade de gênero já está estabelecida”, diz Alexandre. Conhecer bem o próprio filho, portanto, é fundamental para saber o significado do uso de saias e vestidos.
Mas se hoje o menino acha que, se os colegas de classe não usam saia, é porque “os pais deles não ousam usar também”, conforme o pai conta no depoimento, pode ser que alguma coisa esteja faltando. “É importante o pai deixar claro que existem roupas mais adequadas para diferentes contextos”, comenta Fraiman.
Para o psicoterapeuta, o ideal é mostrar à criança que o padrão social é diferente do que ela espera, mas que o pai a apoia incondicionalmente. “Se a criança tem a disposição para romper padrões e mudar o mundo, ela precisa saber o preço que pagará por isso”.
Já para a psicóloga Kátia Teixeira, da clínica EDAC (Equipe de Diagnóstico e Atendimento Clínico), Nils pode estar simplesmente reforçando um comportamento inadequado, passando a mensagem de que o filho pode fazer o que der na telha mesmo fora de casa. “Parece uma questão de falta de limites, em que o pai não mostra as regras sociais existentes. Ninguém vai a uma missa de biquíni, por exemplo”, diz. Mas ressalta que é preciso entender o contexto em que o menino vive: o comportamento pode estar sendo influenciado pelo nascimento de uma irmãzinha, por exemplo.
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