Romantização da maternidade e os impactos na saúde mental da mulher

Psiquiatra alerta para os sinais de Burnout materno e depressão pós-parto

Psiquiatra alerta para os sinais de Burnout materno e depressão pós-parto
Foto: Pexels
Psiquiatra alerta para os sinais de Burnout materno e depressão pós-parto

A maternidade é um dos momentos mais especiais para a mulher, mas, como em qualquer fase da vida, pode trazer desafios e exigir muito. Julia Trindade, psiquiatra membro da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), acredita que é muito importante identificar e prevenir o esgotamento emocional relacionado aos cuidados maternos. Além disso, é preciso ficar atento aos sinais de depressão pós-parto.

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Uma pesquisa realizada em 2020 pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) aponta que no mundo cerca de 10% das mulheres grávidas e 13% das puérperas sofrem de algum problema de saúde mental, com destaque para a depressão. Já nos países com maior desigualdade de renda, tem-se altas taxas de mortalidade materna e infantil: 15,6% durante a gravidez e 20% após o nascimento da criança.

O esgotamento materno pode ser causado por uma série de fatores, desde a falta de apoio do companheiro, da família e de amigos até a pressão social para ser uma mãe perfeita, a chamada "romantização da maternidade". "Além disso, a rotina intensa dos cuidados com o bebê, as noites mal dormidas e a falta de tempo para si mesma podem contribuir para esse quadro", reforça a psiquiatra.

Ela explica que o " Burnout materno" pode ser descrito como um esgotamento emocional causado pelo estresse prolongado relacionado aos cuidados maternos, combinados com as múltiplas obrigações cotidianas. É caracterizado por sintomas como: sentimentos constantes de culpa, estresse relacionado à administração do tempo, excesso de pessimismo, exaustão mesmo após um período de repouso, sentimento de fracasso e impotência, irritabilidade sem motivo aparente, falta de interesse ou prazer em cuidar do filho, baixa autoestima, tristeza, medo e insegurança.

"Apesar de ainda não ser um termo reconhecido no DSM (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) e na CID (Classificação Internacional de Doenças), ele tem recebido uma atenção especial, especialmente após a pandemia, quando as mulheres, além da demanda do trabalho, precisaram ficar com seus filhos e as tarefas domésticas relacionadas, tendo limitações nos momentos de autocuidado", comenta a especialista.

Depressão pós-parto

A depressão pós-parto é uma condição que está "lado a lado" do Burnout materno. Pode ocorrer em qualquer momento no primeiro ano após o parto e requer intervenção médica imediata. É uma condição clínica com critérios e tratamento específicos e que pode afetar as mulheres após o parto. É dada por sentimentos intensos de tristeza, desesperança e falta de interesse em atividades que antes traziam prazer. Também pode haver sintomas físicos, como alterações no sono e no apetite.

"Cabe destacar que o Burnout materno e a depressão pós-parto são duas condições diferentes e é fundamental saber diferenciá-las. Embora essas condições possam ter sintomas semelhantes, elas têm causas diferentes e exigem abordagens terapêuticas também diferentes. Por isso, é crucial que a mãe busque ajuda profissional para um diagnóstico preciso e um tratamento adequado", explica Julia Trindade.

Como evitar o Burnout materno

A psiquiatra explica que algumas medidas podem ajudar na prevenção do Burnout materno: a construção de uma rede de apoio, a realização de atividades prazerosas e a reserva de tempo para cuidar de si mesma. É fundamental lembrar que a mãe também precisa de cuidados e apoio emocional, e não apenas o bebê.

"Para ajudar uma mãe sobrecarregada, é preciso oferecer ajuda prática e emocional. Isso pode incluir evitar visitas em horários críticos, como a hora da soneca; oferecer-se para levar o lanche ou segurar a criança enquanto ela toma um banho tranquilo ou faz um cochilo; e convidar a mãe para um momento de distração. É importante ouvir e validar os sentimentos da mulher e lembrar que ela não está sozinha", destaca a médica.

A mulher precisa se sentir cuidada e apoiada, e não apenas cobrada para ser a supermãe que a sociedade espera. Ao reconhecer o Burnout, é preciso buscar ajuda o quanto antes: procurar psiquiatra ou psicóloga; a médica informa que algumas mulheres ainda precisam ser medicadas.

"Ter um bebê é uma experiência individual e particular e quando se fala em maternidade, não existe uma maneira certa ou errada de vivenciar esse momento", finaliza a Julia.