"É uma montanha-russa", diz mãe de adolescente autista

Elisabete de Oliveira relata rotina com Matheus, de 14 anos. Especialista também tira dúvidas sobre autismo

Foto: Arquivo pessoal
Elisabete e o filho Matheus, diagnosticado aos 2 anos

"Meu nome é Elisabete de Oliveira, Tenho um filho chamado Matheus de 14 anos, diagnosticado com TEA desde os 2 anos e meio. É uma montanha-russa, tem épocas que estou muito feliz, tem épocas que estou muito triste, ele me ajuda no meu trabalho, acho que estou há dez anos na mesma empresa por causa dele, eu tenho muita coisa positiva vindo do Matheus, minha vida não é o Matheus, mas sim as pessoas desse planeta", relata uma mãe que vive os altos e baixos de ter uma criança com  Transtorno do Espectro Autista , neste Dia Mundial da Conscientização Sobre o Autismo (2/4).  

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Elisabete conta que sempre trabalhou, desde os 16 anos. "Então após ter o meu filho voltei ao mercado trabalho. Quando ele fez 1 ano e 8 meses, até aí não tinha diagnóstico, ele ficou meio período escolinha e meio período com a avó materna", lembra. Quando recebeu o diagnóstico de TEA, a família não aceitou muito bem, mas seguiram com terapia medicamentosa, porque ele se batia bastante. 

"O ruim é que trabalho em empresa particular e para saídas para consultas e terapias é bem complicado, eu gosto de trabalho, mas fico o dia inteiro, não sobra tempo para curtir meu filho", reclama Elisabete. 

A diretora da Arte Psico, clínica especializada em autismo, Thainara Morales, que é especialista em ABA e Mestre em Neurociências, quanto mais cedo for feito o diagnóstico, melhor é.  "Alguns médicos e especialistas já observam atrasos do desenvolvimento a partir dos 4 meses de vida , nota-se grande avanço na medicina para o diagnóstico precoce. Esse diagnóstico é clínico e é baseado nas evidências científicas destacadas pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais da Sociedade Norte-Americana de Psiquiatria, conhecido também como DSM-5, pois está na sua quinta edição."

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A jornalista Patrícia Larsen diz que recebeu o diagnóstico de autismo do filho Emílio com muita apreensão. "Na época ele tinha 4 anos e eu não tinha muitas informações sobre o que era TEA, classificações de níveis, terapias, enfim tudo novo. No primeiro momento, o medo é do futuro - “ele não terá amigos, vai aprender a ler, vai casar, trabalhar - e a mente da mãe vai longe…. Após essa fase de intensos sentimentos, comecei a agir praticamente, isto é, ler, estudar e procurar terapias adequadas", confessa. 

Foto: Arquivo pessoal
Patrícia Larsen e o filho que tem autismo

Após três anos, Emílio evoluiu muito nas terapias, mantém conversações, adora fazer amigos, aprender cada vez mais a brincar com o outro e está aprendendo a ser flexível. Além das terapias, a família toda se envolveu nos processos de aprendizagem e de reforçar as habilidades sociais. "O diagnóstico dele me fez pensar “fora da caixinha” e sempre procurar um termo para a gente se entender e ser feliz", relata Patrícia. 

Dúvidas, medos e ansiedade fazem parte do contato com o diagnóstico. Neste  Dia Mundial da Conscientização Sobre o Autismo (2/4), Thainara Morales tira algumas dúvidas sobre o transtorno e explica como é a relação do autista com a sociedade. 

Como a descoberta já adolescente ou adulto pode impactar na vida do autista?

Provavelmente se o adolescente ou adulto descobrir o diagnóstico tardiamente esses indivíduos já sofreram o suficiente em sociedade. Tanto nos aspectos emocionais, sociais e prejuízos acadêmicos. O impacto pode ser algo positivo como negativo na vida dessas pessoas e seus familiares. Há relatos e que na maioria promova alívio, por permitir uma compreensão das próprias dificuldades e a busca por tratamentos e estratégias apropriadas. 

Há terapias que precisam ser apenas na fase adulta?

Um bom psicólogo especialista -processo de psicoterapia, o indicado para adulto TEA que faço terapia comportamental- ACT terapia de aceitação e compromisso, frequentemente chamada de ACT, é uma terapia cognitivo-comportamental de terceira onda que tem por objetivo aumentar a flexibilidade psicológica. Essa terapia é baseada em estratégias de aceitação, mindfulness e comprometimento a fim de obter uma mudança no comportamento. E caso o autista necessite de outros profissionais o médico psiquiatra poderá realizar os devidos encaminhamentos.

Há terapias que, embora o mais indicado seja iniciar na infância, caso comecem na fase adulta terão os mesmos efeitos?

É muito subjetivo, geralmente quando o diagnóstico surge na vida adulta , esse sujeito já “se adequou as regras sociais , porém com prejuízos emocionais e poucas habilidades socioemocionais. TEA adultos graves provavelmente não teve bons resultados nas terapias na infância seja pelo tratamento ou questões familiares de não aceitarem ou por ter um quadro grave . 

A importância do diagnostico na infância (e consequentemente inicio das terapias) pode mudar a realidade do adulto autista?

Sim , com certeza terapia precoce muda todo desenvolvimento infantil que está em déficits . Conforme a pergunta anterior este indivíduo pode ter prejuízos sociais ou emocionais / para mulheres pode ocorrer os mascaramentos de sintomas e quadros de depressão e ansiedade. 

Na escola, a inclusão realmente acontece nos dias de hoje?

Não , devido todo um sistema errado , sem professores capacitados e sem políticas públicas. Na maioria das vezes a família que luta pelos direitos e conseguem algumas formas de inclusão, casos excepcionais.

Quais ações as escolas, de forma geral, têm feito para incluir esses alunos com TEA?

 Nos casos excepcionais o professor foi se capacitar em métodos baseados em evidência científicas adequadas no tratamento e aprendizagem para alunos com autismo. Além disso a boa vontade de querer ver o seu aluno evoluir , se desenvolver dentro da sala de aula.  A prática clínica comportamental entra choque com as práticas construtivistas, deveríamos ter psicólogos na rede pública e privada para desenvolver métodos eficazes para os alunos aprenderem pedagogicamente e comportamentalmente . Cada sujeito é único , a verdadeira inclusão é aquela que se adapta ao aluno e seus necessidades .


Alunos (crianças e adolescentes) com TEA têm determinados padrões de comportamento que, muitas vezes, os outros alunos não entendem e até debocham. Como as escolas devem agir nesse momento para que faça a inclusão, sem expor o indivíduo com TEA?

Difícil achar professores - educadores engajados ou capacitados em ações que promovem habilidades sociais dentro da sala de aula. Para incluir e ensinar práticas sociais de inclusão devemos ter aulas expositivas e com atividades de reflexão sobre o que pode ser diferente , sobre respeito , ações contra o bullying. Além disso, trabalhar com o ensino de educação positiva , orientação a família, relações socioemocionais dentro da escola .

Na maioria das vezes, o abuso ou deboche acontece ao nível psicológico por meio de piadas, apelidos pejorativos e exclusão social. Em um momento delicado em que a criança ou o adolescente se sente particularmente vulnerável quanto à sua aparência ou seu jeito diferente de ser qualquer situação de vergonha recorrente pode ser um gatilho para problemas mais profundos, além disso criação de projetos e umComitê de prevenção contra práticas inadequadas e Incentivando a diversidade

Em casa, como a família deve lidar com padrões e comportamentos da criança/adolescente com TEA?

Primeiramente entender o contexto deste comportamento , o pq dele ocorrer , o que ocorre antes e o que a família faz após o ocorrido. Marcar uma reunião com a coordenadora ABA e colocar um plano de ação para ajudar a solucionar ou amenizar o problema. Muitas das vezes pode ser feito um plano de conduta para a família , escola e terapeutas seguirem as instruções. 

A superdotacao é comum ao diagnóstico de TEA? Por que é tão comum retratarem os dois aspectos na mesma pessoa? Isso não acaba gerando um preconceito ligado ao autismo, como se todos fossem gênios?

Superdotação é pessoas que apresentam grande facilidade de aprendizagem e uma habilidade significativamente superior, quando comparado a seus pares, podendo se destacar em uma ou mais áreas do conhecimento. Ser autista nem sempre terá superdotação ou altas habilidades. Pessoas confundem certas habilidades com o hiperfoco do indivíduo. 

Quando você tem o autismo leve, tem também algumas limitações, mas pode ser tbm que vc tenha QI bem acima do normal, você será um autista com altas habilidades. Como também pode ser que o tea seja leve e não tenha Qi acima do normal. Isso não é tão frequente assim. O asperger, ou o autista leve, parece um as vezes um gênio porque ele foca muito em alguns assuntos, mas, em geral, os aspergers não são superdotados.

O fato é que as pesquisas também indicam que muitos superdotados que só têm esse diagnóstico (de superdotação), na realidade, em sua maioria, são autistas, sim, porque passa despercebido para o profissional de medicina. Quando falamos que “aquele cara é superdotado, então ele é gênio, cheio de manias e de excentricidades”, não é isso. Em outras áreas ele tem dificuldades enormes que não seriam esperadas de um gênio.

Quando você tem a alta habilidade em alguma coisa, mas tem também uma limitação em outra, a gente chama de Dupla Excepcionalidade. Esse diagnóstico é feito por uma equipe, por um psiquiatra, com o acompanhamento de um neuropsicólogo. O correto é avaliação Neuropsicológica para testagem de qI . 

Em relação à vida social? Como fazer a inclusão desses indivíduos?

Temos pouquíssimas empresas (clínicas no Brasil ) que promovam esse trabalho até porque temos pouca literatura científica , seriam os grupos sociais. Mas a opção é rede de apoio  e grupos com profissionais que focam neste trabalho de saídas Sociais e que saibam o que estão fazendo . 

E em relação à vida amorosa? 

Todos tem direto a vida amorosa , o que temos a maior dificuldade é para a família intender sobre isso. Já tive casos que família saiu da clínica porque a garota de 21 anos não era para se relacionar com o garoto de 19 , então é essa aceitação e amadurecimento.