Mais de 60 mil estupros ocorreram em 2020 no Brasil, diz levantamento
Maioria das vítimas são meninas de até 13 anos; número de denúncias teve queda atribuída a restrições da pandemia
De acordo com o novo Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), houve 60.926 casos de estupro no Brasil em 2020. Destes casos, a maioria foram cometidos contra meninas de 10 a 13 anos. Os dados foram coletados a partir de boletins de ocorrência recebidos pelas Polícias Civis dos estados.
O FBSP também soltou dados de denúncias de feminicídio e violência de gênero. Somente a Polícia Militar recebeu 1 chamada por minuto para denunciar violência doméstica .
Do número total de casos, 44.879 foram estupros de vulnerável, o que representa 73,7% da totalidade. Mais de 60% das vítimas são crianças de até 13 anos. As mais vulneráveis também são crianças de 5 a 9 anos (20,5%) e 14 a 17 anos (15%). Quase 88% delas são mulheres.
Em 85,2% dos casos, os autores do crime são conhecidos da vítima e 96,3% deles são homens. A maioria dessas pessoas são familiares, o que garante fácil acesso à vítima. Por isso, os casos de estupro de vulnerável tentem a acontecer com mais frequência nos períodos da manhã e tarde (61,3%), enquanto os estupros são mais cometidos à noite e de madrugada (56,3%).
O anuário afirma que não há grande diferenciação de raça entre as vítimas, mas as mulheres negras são as mais vulneráveis ao estupro (50,7%), seguidas de brancas (48,7%), amarelas e indígenas (ambas com 0,3%).
Queda no índice de estupros não significa menos casos
Apesar do alto índice, os casos de estupro e estupro de vulnerável no Brasil apresentou queda de 14,1%. O anuário aponta que houve uma queda de registros de denúncias em abril de 2020, o primeiro mês de isolamento social. Este número volta a crescer em maio e sofre um boom em agosto, quando recebe uma média de 5 mil denúncias.
De acordo com o levantamento, isso não quer dizer que o número de casos tenha diminuído de fato. “Ainda é cedo para avaliar se estamos diante da redução dos níveis de violência doméstica e sexual ou se a queda seria apenas dos registros em um período em que a pandemia começava a se espalhar”, diz o texto.
Depois que a pandemia estourou no Brasil, levou um tempo para que os serviços públicos conseguissem se adequar para garantir o atendimento virtual. Além disso, as medidas de isolamento social foram mais restritivas e mantiveram mulheres por mais tempo perto de seus agressores. “Crimes sexuais apresentam altíssima subnotificação, e a falta de pesquisas periódicas de vitimização tornam ainda mais difícil sua mensuração”, afirma.