"Levantar a taça da Libertadores é maravilhoso", diz técnica Lindsay Camila
No comando da equipe feminina do Ferroviária, a primeira mulher treinadora levantar o troféu do campeonato contou ao iG Delas sobre a carreira e avalia o futebol feminino no Brasil
Por iG Delas |
Com 14 anos de carreira como técnica de futebol , Lindsay Camila ganhou destaque ao ser a primeira mulher técnica a levantar a taça da Libertadores feminina, campeonato sul-americano de futebol e um dos mais importantes no mundo. Técnica pela Ferroviária, clube do interior de São Paulo , Lindsay contou ao iG Delas como é treinar uma equipe de futebol no Brasil e as expectativas para o crescimento da modalidade no país.
"No começo da minha carreira joguei com meus primos, até que fui para um clube de futebol do trabalho da minha mãe, que era funcionária da rede de tratamento de esgoto da cidade de Campinas. Nesse clube, eu jogava com garotas de 20, 25 anos e eu tinha 11 anos", conta.
Antes de ser técnica, Lindsay foi zagueira e jogou no Brasil, Espanha, Portugal e França. Ela deixou os gramados em 2006, por conta de uma lesão. Porém, ela nem teve tempo de sentir saudades do campo: tão logo deixou de ser jogadora, ela se tornou técnica da equipe juvenil do Lyon (time francês).
"Eu não tive tempo de entender que estava saindo dos campos como atleta e passar a ser treinadora, não me deixou pensar muito. Foi bem tranquilo, ainda mais por entrar em uma equipe forte como o Lyon! Ali, quando eu comecei com o time, foi algo absurdo, começar em um dos melhores times do mundo? Foi prazeroso, não me deixou nem prestar atenção ou pensar que parei por causa de uma lesão", diz.
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Treinando a Ferroviária desde 2020, ela já conquistou o primeiro campeonato: a Libertadores da América. Ao levar o clube para a vitória do campeonato, ela foi a primeira mulher técnica a levantar a taça, na final contra o América de Cali, na Argentina.
"Olha, levantar a taça é muito bom! É maravilhoso! Na verdade, eu demoro a anexar, a entender que isso aconteceu. Lá na época, na Argentina, nunca pensei que eu seria a primeira. Eu pensava na minha equipe. Isso aconteceu porque tinha que acontecer e ainda bem que foi na minha vez", diz.
Agora, Lindsay tem outro desafio: liderar a Ferroviária no Brasileirão Feminino. O primeiro jogo foi no último domingo (18), contra o Palmeiras e terminou em empate. O próximo será contra a equipe do Corinthians, uma das melhores no futebol feminino. "Vai ser difícil, eles investem em atletas de seleção e tem um grupo muito forte. Nosso pensamento é de tentar jogar o nosso máximo e dar o máximo para conseguirmos um ponto em cada jogo para ter um ótimo resultado", diz.
Mulheres na carreira futebolística
Lindsay diz que há diversos problemas que atrapalham o desenvolvimento de equipes femininas, técnicas e trabalhadoras no futebol. "Para mim, acho que a instabilidade é o mais recorrente, um pouco de machismo em alguns lugares, a falta de vontade dos clubes de investir em mulheres na equipe técnica e no staff", diz.
Apesar disso, ela avalia positivamente o crescimento do futebol feminino no Brasil "Apesar dos empecilhos, vejo que o futebol feminino e o masculino estão em um nível equilateral, quando . Quando se tem patrocínio e investimento, a gente também tem, mas entendemos que o masculino tem direito de TV, tem torneio que traz dinheiro, mas no feminino temos também. Claro que não é equivalente, mas o problema maior é a falta de interesse por empresas investidoras".
Para Lindsay, o investimento é a chave para alcançar a igualdade. "A gente precisa que os jogos passem mais na televisão, que as pessoas invistam, para que a gente ganhe qualidade técnica. Assim, com jogos na televisão, vamos ter mais campeonatos, teremos uma boa seleção, que apesar de ótima, nós precisamos fomentar e trazer meninas de qualidade. Trazendo isso, teremos investidores e pessoas assistindo, assim, teremos atletas e jogadoras praticando cada vez mais o futebol", diz.