Camille Lagier é uma francesa, de 29 anos, que aprendeu a aceitar o corpo com cicatrizes após passar por uma situação marcante e delicada em sua vida. Toda a história começou em setembro do ano passado, quando ela recebeu prescrição médica para tratar amigdalite com amoxicilina. Algumas semanas depois, notou que seus olhos estavam coçando cada vez mais e manchas avermelhadas começaram a aparecer em suas costas.
Quando a condição piorou, resolveu procurar ajuda médica em sua cidade natal, Avignon, na França. A essa altura, as marcas já tinham se espalhado rapidamente por sua boca e partes íntimas. "O primeiro médico que me viu disse aos meus pais que eu estava com catapora", diz a jovem, que ficou um corpo com cicatrizes , em entrevista à "People".
A francesa desconfiou do diagnóstico, pois já havia tratado a doença, uma vez, quando criança. Para ter uma segunda opinião, ela foi para outro hospital. Lá, os especialistas disseram que não poderiam tratá-la – e, por isso, deveria ser transferida para uma unidade em Marselha, na unidade de queimaduras em tratamento intensivo. “Eu me senti perdida. A dor era horrível”, relembra.
Diagnóstico da doença e as manchas que ficaram na pele
Após a transferência, Camille foi diagnosticada com Necrólise Epidérmica Tóxica, também conhecida como síndrome de Lyell, uma reação cutânea grave à medicação, que causa bolhas e descamação na pele . Para tratá-la, a saída foi parar com a medicação que estava causando a doença e receitar analgésicos. "O único tratamento que eu tive foi a morfina para acalmar a dor terrível", diz.
Depois de passar duas semanas internada, uma semana no departamento de dermatologia e apresentar uma boa recuperação, a francesa voltou para casa, mas sentiu medo de seu “novo” corpo, que estava 90% afetado. "Foi terrível. Meus pais e os médicos disseram que minha evolução foi incrível, mas eu tinha cicatrizes em todo o meu corpo e em todo o meu rosto. Não era mais eu. Me senti incompreendida, sozinha e desesperada. Eu queria saber se um dia seria feliz novamente”, conta.
Após trauma, mulher passou a aceitar o corpo com cicatrizes e manchas
Com tudo que passou, a jovem passou a refletir e, em certo ponto, ficou zangada com ela mesma pela forma como tratava seu corpo anteriormente. Antes da doença, ela conta que tinha problemas de autoestima . “Nunca me senti confiante. Eu tinha uma má imagem corporal e queria ser perfeita. Mas, agora, questiono: Por que você passou 28 anos da sua vida se odiando? Você era fofa, gentil e engraçada – e agora você perdeu tudo”, reflete.
Camille passou a pesquisar online outras pessoas que sofreram com a Necrólise Epidérmica Tóxica, mas não se sentiu realizada com os resultados encontrados. Para conseguir mudar a forma de enxergar tudo que passou, procurou um terapeuta e, com a ajuda de Jean-Baptiste, seu namorado de longa data, passou a aceitar suas cicatrizes.
“Percebi que tinha uma segunda chance de viver minha vida, realizar meus sonhos e aceitar a mim mesma e a minha reflexão. Essa experiência terrível me mostrou que não conseguimos prever tudo em nossa vida, mas podemos tornar o caminho dela coberto de alegria, amor e flores. Eu decidi dar um passo em direção à confiança. Eu mereci isso”, desabafa.
A vida sexual da jovem foi outro ponto que também sofreu alterações e mudou após a doença. “Quando saí do hospital, queria ter minha vida antiga de volta, então me obriguei a seguir como se tudo estivesse bem, mas não estava. Eu queria encontrar nossa intimidade novamente”, detalha a jovem ao “The Sun”.
Ela conta que colocou muita pressão em si mesma para estar pronta para fazer sexo novamente com o namorado, mas, de acordo com a jovem, a primeira vez foi um desastre. "Eu chorei porque foi muito doloroso. Foi com amor, carinho, ternura e paciência que reiniciamos nossa vida sexual. Essa experiência realmente fez a nossa história de amor crescer ", continuou ao jornal.
A nova fase de aceitação ainda incluiu criar um blog chamado "After My Lyell" – que pode ser traduzido como “Depois da minha doença”, em referência ao nome da patologia. O objetivo é documentar a experiência, inspirar e dar esperança a outras pessoas que possam estar sofrendo com a rara condição. “Eu não quero ser um influenciador ou qualquer outra coisa. Mas quero ser a pessoa que estava procurando há um ano”, conta.
A francesa relata que, após passar por um trauma como esse, os pacientes precisam de ajuda. “Eles precisam de vibrações positivas, esperança e bondade. Há um ano, eu teria dado tudo para ver uma mulher jovem, confiante, sorrindo e contando sua história sobre ela. Eu não tive essa chance, então eu fiz uma promessa a mim mesma: tentar o meu melhor para não deixar ninguém ficar sozinho depois dessa experiência”, considera.
Por fim, a jovem, que conseguiu aceitar o corpo com cicatrizes , sabe que não poderá ter a pele como antes, conforme ela explica e que, apesar disso, não vai parar de usar vestidos saias e peças decotadas apenas para "se esconder". "Eu me sinto bem em minhas roupas. Às vezes, sinto falta da minha velha pele, mas gosto do que vejo no espelho. Ainda tenho muitas cicatrizes , mas elas me lembram todos os dias que eu venci. Elas não são mais algo que eu odeio. Estou orgulhosa agora”, finaliza.