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Questões do amor

Regina Navarro Lins fala de sexualidade e relacionamentos

é psicanalista e escritora, autora do livro “A Cama na Varanda”, entre outros. Twitter: @reginanavarro

A fidelidade é necessária?

Regina Navarro: Nossa sociedade cobra a exclusividade sexual, mas é possível ser feliz de outro jeito

26/07/2011 10:31

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Anete, casada há dez anos, relata o conflito que a atormenta:

“Tenho um casamento estável e feliz, amo meu marido e sinto que ele me ama. Fui traída e perdoei. Em primeiro lugar, pela dependência financeira, em segundo, pelos meus filhos, e em terceiro, porque eu o amava muito e homem para mim só existia ele. Com o passar dos anos, fui amadurecendo, me tornado mais independente financeira e emocionalmente, e isso fez com eu me sentisse mais segura também. Conheci uma pessoa, um vizinho, que de tanto passar na minha porta acabou despertando o meu interesse. Depois de alguns meses, conversamos pelo celular e resolvemos nos conhecer pessoalmente. Estamos nesse relacionamento há três anos. Ele também é casado".

"Depois disso meu casamento melhorou. Meu marido me trata com carinho e demonstra amor como nunca tinha feito antes. A qualidade do sexo também melhorou; ele me acha mais gostosa, me curte mais e eu tenho o maior tesão por ele. Meu conflito interior é o seguinte: como posso estar num casamento tão bom e satisfatório para mim e ainda conseguir levar adiante um relacionamento extra? Até que ponto isso é bom pra mim e para meu casamento? Como devo agir diante de tal situação? O conflito se torna ainda maior, pois sou católica. Pela minha criação, o adultério sempre foi visto com um grave pecado.”

                                                         **************

Apesar de nosso tabu cultural contra a infidelidade, as relações extraconjugais são muito comuns. Todos os ensinamentos que recebemos desde que nascemos – família, escola, amigos, religião – nos estimulam a investir nossa energia sexual em uma única pessoa. Mas a prática é bem diferente. Uma porcentagem significativa de homens e mulheres casados compartilha seu tempo e seu prazer com outros parceiros.

A antropóloga americana Helen Fisher conclui que nossa tendência para as ligações extraconjugais parece ser o triunfo da natureza sobre a cultura. “Dezenas de estudos etnográficos, sem mencionar inúmeras obras de história e de ficção, são testemunhos da prevalência das atividades sexuais extraconjugais entre homens e mulheres do mundo inteiro. Embora os seres humanos flertem, apaixonem-se e se casem, eles também tendem a ser sexualmente infiéis a seus cônjuges.” , diz ela.

A poligamia – o homem ter mais de uma esposa de cada vez – é permitida em 84% das sociedades. Durante muito tempo se acreditou que só os homens tinham relações múltiplas. Entretanto, houve uma mudança no comportamento feminino quando surgiram os métodos contraceptivos eficazes e as mulheres entraram no mercado de trabalho.

Um dos pressupostos mais universalmente aceito em nossa sociedade é de que o casal monogâmico é a única estrutura válida de relacionamento sexual humano, sendo tão superior que não necessitaria ser questionado. Na verdade, nossa cultura coloca tanta ênfase nisso, que uma discussão séria sobre relacionamentos alternativos é muito rara. Entretanto, as sociedades que adotam a monogamia têm dificuldades em comprovar que ela funciona. Ao contrário, parece haver grandes evidências, expressas pelas altas taxas de relações extraconjugais, de que a monogamia não funciona muito bem para os ocidentais.

É comum pessoas deixarem um bom casamento porque se apaixonaram por alguém novo – o que vem sendo chamado de “monogamia sequencial”. O argumento de que o ser humano é "predestinado" à monogamia é difícil de sustentar. Portanto, uma vez que nós humanos nos damos tão mal com a monogamia, outras estruturas de relacionamento livremente escolhidas também devem ser consideradas.

A exclusividade sexual do parceiro (a) é a grande preocupação de homens e mulheres. Mas ninguém deveria ficar preocupado se o parceiro transa ou não com outra pessoa. Homens e mulheres só deveriam se preocupar em responder a duas perguntas: Sinto-me amado (a)? Sinto-me desejado (a)? Se a resposta for “sim” para as duas, o que o outro faz quando não está comigo não me diz respeito. Não tenho dúvida de que as pessoas viveriam muito mais satisfeitas.

Em 1976, o psicoterapeuta e escritor Roberto Freire tomou como base a letra da música "O Seu Amor", de Gilberto Gil, para a discussão da sua proposta de amor libertário. "O seu amor/ame-o e deixe-o livre para amar/O seu amor/ ame-o e deixe-o ir aonde quiser/ O seu amor/ame-o e deixe-o brincar/ ame-o e deixe-o correr/ ame-o e deixe-o cansar/ame-o e deixe-o dormir em paz/ O seu amor/ame-o e deixe-o ser o que ele é".

Na música de Gil é ressaltada a ideia de que o verdadeiro ato de amor é o que garante a quem amamos a liberdade de amar. Ele acredita que apesar de muita gente considerar que essa ideologia amorosa é pura utopia, quase todos sonham com essa possibilidade. “Pessoalmente é tudo o que desejo: o meu amor, tanto meu sentimento quanto a pessoa que amo, além de amá-los apenas do jeito que gosto, deixo-os livres para amar do jeito que gostam, até mesmo além e apesar de mim. Procuro pessoas que também amam assim. Tem sido difícil, mas acabo sempre por encontrá-las. É fascinante, assustador, maravilhoso, doloroso, prazeroso, novo, imprevisível, incontrolável, rico, maluco, romântico, caótico, aventureiro.”, afirma Freire, que foi um dos pensadores mais libertários do país.

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Sobre o articulista

Regina Navarro Lins - renl@gbl.com.br - é psicanalista e escritora, autora do livro “A Cama na Varanda”, entre outros. Twitter: @reginanavarro

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    238 Comentários |

    Comente
    • Rosy | 15/09/2011 16:23

      Quando fui tráida há 18 anos atrás, joguei tudo para o alto, abri mão de bens materiais, e mandei-o embora de casa, apesar de amá-lo muito, achando que estava fazendo a coisa mais correta, só eu sei o quanto sofri e chorei, criei os filhos sózinha, hoje homens: porém continuo sózinha a querer o mesmo homem (meu ex) não me vejo com mais ninguém... \nDei uma de heroína prá quem? Exclusivamente prá mim mesma. Não me encontrei ainda. Será que não deveria ter perdoado e deixado as coisas acontecerem como nossa amiga ANETE?. Valorizo o caráter, os princípios, Deus, que estou viva por causa Dele. Mas sinceramente hoje, diante do sofrimento causado pela minha decisão na época, e posso dizer até hoje.....diria a vcs , não façam o que eu fiz, é exatamente o que a outra QUER!!!!!!!

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    • Gabriela | 09/09/2011 10:20

      Eu ainda tenho dificuldade de aceitar esse esse estilo libertário de relacionamento. Por mais que logicamente, minhas razões compreendam que da mesma forma que posso me relacionar com tantas pessoas diferentes, como amigos, trabalho, família, sem me sentir uma traidora, acredito que deve ser possível manter relações íntimas com mais de uma pessoa. Além das questões emocionais envolvidas, também levanto questões ligadas à saúde, nesse mix de muitos parceiros fixos, exige-se muito mais confiança... confiar nos seus parceiros e nos parceiros deles e nos parceiros dos parceiros... Acho que prefiro confiar só em um parceiro do que ter q usar camisinha sempre... rs

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    • selma | 30/08/2011 01:27

      Cada ser humano passa por uma fase na vida e se ele tiver realmente na fase do casamento , conseguirá ir além , viver feliz e fazer muito amor com sua parceira...sem precisar trair...pois tudo que procuramos é a nossa outra parte!!!!!!!!!!!!!!!!!

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    • ana paula | 26/08/2011 14:54

      quem ama de verdade não trai essa é uma grande verdade.

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    • carla | 25/08/2011 17:19

      e complicado eu sou casada amo meu marido e sei q ele me ama mais q tudo nesse mundo somos felizes e eu sempre disse q nunca o trairia pq ele e o homem q pedi a Deus mas ha pouco tempo conheci outra pessoa q me fez perder a cabeca no comeco pensei q fosse so uma aventura de uma noite mas estamos tao envolvidos q ele ja faz planos pro futuro eu nao sei o q fazer pq amo meu marido e nao quero machuca-lo e tb tem meu filho meu marido nao merece isso e eu me sinto terrivel mas eu nao consigo terminar com o outro pq sou apaixonada por ele. Essa situacao tem q ser resolvida logo pq o outro ja ta me pressionando mas eu nao quero me separar isso ta fora de cogitacao. nao sei o fazer

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    • Elaine | 23/08/2011 19:35

      Como uma pessoa pode se sentir amada e feliz sabendo que o(a) seu(ua) companheiro divide a sua vida e intimidade com outras pesssoas? O mundo está mesmo de pernas pro ar! Depois não adianta reclamar! Isso, na minha opinião é mais que um absurdo, é a falta total de valores morais, éticos e religiosos.

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    • RICARDO | 10/08/2011 19:01

      Discordo totalmente da psicanalista.\nAo trocarmos constantemente de parceiros, em razão do sexo, iremos inclusive contra a nossa própria natureza, que é nos resguardarmos na velhice, quando estamos mais fragilizados.

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    • Amadeo Fernandez | 10/08/2011 01:21

      Humm, Regina Navarro como sempre dando uma aula sobre comportamento humano. Ah, se nós fôssemos menos apegados a crenças, cultura... É uma pena que o senso comum esteja tão enraizado nesses valores materiais. Mas fico feliz pq evoluimos, devagar, mas é progressivo. Obrigado Regina por deixar-me sempre de olhos abertos, sem essas lentes que deturpam nossa realidade. Um grande abraço! Sou seu fã!

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      Thiago Nascimento | 23/08/2011 15:50

      Isso. Se fôssemos menos apegados a culturas, crenças....\n\nNão seríamos seres humanos. Seríamos animais.\n\nMas, como humanos, vivemos de cultura e crenças, que cultivamos e passamos às futuras gerações.\n\nE é assim desde as primeiras civilizações.

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    • Juliana | 31/07/2011 13:36

      Ela é muito da safada isso sim, se o marido se abriu com ela, e ela supostamente o perdoou, não deveria ter se envolvido com outro homem, Mulher que dar o troco não é mulher de verdade! Homem que trai é porque não ama verdadeiramente!

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