Amor e limites: a criança e o dinheiro
A colunista Mônica Cruz fala sobre o que ensinamos às crianças sobre o dinheiro e como isso vai se refletir na vida delas quando adultas
Por iG Delas | por Mônica Cruz |
Dinheiro é sujo. Geralmente essa é a primeira palavra que ouvimos quando criança sobre dinheiro. Realmente dinheiro é sujo no sentido literal da palavra --e também no sentido geral. Porém, falar sobre dinheiro é necessário.
Crianças pequenas até os sete anos de idade não tem noção do que é dinheiro, não entendem dinheiro como moeda de troca, aquilo que você dá em troca de algo que você quer. Elas também não tem noção de como ganhar o dinheiro.
Uma frase que a toda criança ouve muito quando pequena é “ mamãe ( ou papai) tem que trabalhar para ganhar dinheiro” que é traduzida para a criança da seguinte maneira “ mamãe vai ficar longe de mim por um longo tempo parar ter esse tal dinheiro”. Ou seja, dinheiro é uma coisa ruim porque leva minha mãe para longe.
Outra situação muito comum é quando a criança pede uma coisa para os pais, pode ser um doce ou um brinquedo e os pais respondem "não dá para comprar porque não tenho dinheiro” ou “ é muito caro”. Quem ja não viu no supermercado ou na rua, crianças berrando que querem algo, e os pais ignorando ou brigando que não vão dar porque não podem pagar?
Dentro de casa é muito comum os pais brigarem por causa de dinheiro, pela falta dele, pela má divisão de despesas, ou até mesmo pela maneira desigual pela qual ele é gasto pelos cônjuges.
Por todas as situações acima fica fácil para a criança concluir que dinheiro é sujo de uma maneira geral. Mas, como pais fica, mais fácil ainda perceber que educamos nossos filhos para relacionarem a palavra dinheiro com a palavra problema.
As situações acima podem ser facilmente revertidas simplesmente com uma mudança de posição dos pais em relação ao dinheiro na hora de falar com os filhos, e porque não na vida? Ao invés de dizer: “ mamãe vai trabalhar para ganhar dinheiro”, você pode usar, "a mamãe vai trabalhar porque trabalhar é produtivo, porque é muito bom ter um emprego, porque ter um trabalho gratifica”.
Você viu?
Ao invés de “ não da pra comprar porque não tenho dinheiro”, que tal usar, “não vou comprar porque você não precisa disso nesse momento” ou “quando for o momento certo eu compro”?
Evite brigar por causa de dinheiro na frente das crianças, lembrem-se criança aprende menos por ensinamentos e mais por exemplos, e acima de tudo por exemplo dos pais.
Mas então quando devo falar de dinheiro com o meu filho?
Geralmente a partir dos seis ou sete anos a criança começa a perceber que pode trocar dinheiro por bens. Esse é um bom momento para estabelecer uma semanada com um valor que seja compatível com a idade e estabelecido através de um parâmetro de seus amiguinhos, para gastos extras, como figurinhas, balas, e outras pequenas coisas.
Aprender a lidar de maneira errada com o dinheiro na infância pode levar a uma vida adulta completamente caótica financeiramente. Adultos que gastam compulsivamente ou são extremamente econômicos, adultos que gastam e tem medo de ser repreendidos por seu pais ou parceiros, adultos que controlam o parceiro ou são controlados por eles ou pelos pais através do dinheiro.
Pessoas que não conseguem trabalhar, ou manter um emprego fixo, que se deixam ser usadas como empregadas sem remuneração, ou uma baixíssima remuneração em troca do trabalho. Todas essas características na vida adulta formam-se na infância.
Para imaginar como será o relacionamento de seu filho com o dinheiro quando ele crescer, tome como exemplo você mesmo e procure melhorar aquilo que você não gosta mas que sempre acaba fazendo de maneira repetitiva. Se você for escravo do dinheiro não deixe o seu filho ser, se você tiver um bom relacionamento com ele, deixe que seu filho aprenda.