O desfecho de uma relação sexual, para muitas pessoas, é quando se alcança o orgasmo. Dados do periódico médico “Journal of Sexual Medicine” revelam que o clímax feminino demora cerca de 13 minutos e 25 segundos para acontecer e, para os homens, o biólogo americano Alfred Kinsey constatou que o tempo médio até o ápice sexual era de 2 minutos.
Se, mesmo com estímulos, uma pessoa não consegue atingir o orgasmo, isso pode ser um sinal de um problema fisiológico. A falta de orgasmo, conhecida também por disfunção orgásmica ou anorgasmia, é uma disfunção sexual que impede, atrasa ou diminui o prazer no clímax.
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Anorgasmia
O Diário de Obstetrícia e Ginecologia estima que de 20% a 40% das mulheres sofrem de anorgasmia em todo o mundo. Segundo a publicação, uma pessoa pode ter anorgasmia quando sente dificuldade em atingir o orgasmo em 75% das tentativas por até seis meses.
Segundo a sexóloga Débora Pádua, os estímulos sexuais são ineficazes para quem sofre desse problema: "Uma pessoa que sofre de anorgasmia nunca chega ao orgasmo, nem com o próprio estímulo nem com estímulo de outra pessoa. Elas podem até ter tentado, mas simplesmente não conseguem”.
Na medicina, existem diversos tipos de anorgasmia: a anorgasmia primária, disfunção onde a paciente nunca sequer atingiu um orgasmo; a anorgasmia secundária, quando a paciente tem dificuldade na hora de gozar, e a anorgasmia situacional, que é variável, como quando mulheres conseguem gozar com masturbação mas não com o sexo.
Para a ginecologista do corpo clínico do Hospital Sírio Libanês, Débora Oriá, uma das causas desse problema é a falta de autoconhecimento, já que muitas mulheres não conseguem reconhecer os sinais do que é, realmente, um orgasmo. “O orgasmo real é definido pelas contrações múltiplas na região pélvica e genital. Ele tem um pico intenso seguido de outras contrações que vão reduzindo a sua intensidade até pararem e após essa sensação, você tem um resultado de relaxamento físico e emocional”.
Causas
Entre as principais causas para não conseguir atingir esse prazer, estão o estresse, o uso de ansiolíticos e antidepressivos, a ansiedade, o trauma sexual, o envelhecimento, o abuso de substâncias químicas e a falta de conhecimento do próprio corpo.
Sem a possibilidade de chegar ao clímax, mulheres com anorgasmia tendem a ficar estressadas e infelizes com os parceiros, além de reprimirem a própria sexualidade.
“Eu tentava, tentava, mas nada acontecia”, declara Juliana*, advogada que foi diagnosticada em 2019 com anorgasmia. “Sempre que eu arrumava um namorado, eles acabam se frustrando, já que nunca conseguiram me fazer gozar”.
“Eu só descobri que não conseguia gozar aos 26 anos. Assumi, depois de perder a virgindade, aos 19, que o sexo iria acabar melhorando por conta da experiência. E acabou até melhorando, sim. Mas o orgasmo, em si, nunca chegava. Me sentia excluída até da rodinha de amigas, porque elas viviam contando experiências e eu não podia falar nada”.
A jovem alega que a impossibilidade de gozar causou verdadeiros problemas em seu relacionamento com Pedro*, atual noivo. “Como eu percebi que eu não ia conseguir chegar ao final em nenhum momento, eu acabei negligenciando meu parceiro. Deixava o sexo para depois, sabe? Foi me estressando de um jeito que eu fiquei cansada. Até que [Pedro] não aguentou mais e pediu para a gente ver uma terapeuta sexual”.
Tratamento
Por se tratar de uma disfunção sexual, o tratamento pode ser físico e psicológico. Na maioria dos casos, um terapeuta sexual pode ser a solução para a anorgasmia.
Oriá detalha que a anorgasmia pode ser revertida, como foi o caso de Juliana*: “O tratamento é composto por educação e terapia sexual. Ela pode ser feita individualmente ou em casal, pois ela é multidisciplinar”, explica a médica.
Na terepia, os profissionais buscam estimular posições que facilitem o orgasmo feminino, desenvolvem exercícios de Kegel e treinos para assoalho pélvico, além de tratarem a noção do sexo na terapia cognitivo comportamental.
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Um dos fatores que auxiliou a vida sexual de Juliana* foi a conversa honesta com seu parceiro. Oriá reflete que a discussão é, também, uma peça essencial para a melhora da anorgasmia: “O parceiro tem que estar ciente dessa situação, né? A falta de comunicação é uma das principais causas da disfunção do orgasmo, então se você não consegue conversar com seu parceiro, é porque ele não conhece o seu corpo”.
A profissional aconselha que o autoconhecimento é primordial: “É preciso se conhecer. Onde está o clitóris? Onde é uretra, onde é a vulva? Quais são os seus pontos de excitação? Um autoconhecimento do corpo é fundamental para o tratamento”.
A sexóloga Debora Pádua afirma que também existem alternativas além do sexo e da terapia: “Eu acredito muito nos brinquedos eróticos. No mercado, temos vibradores bem simples, e outros um pouco mais sofisticados. Às vezes, [a falta do orgasmo] pode sim só ser falta de estímulo e de falta de conhecimento”, analisa a médica.
“A mulher tem que se permitir sentir prazer, se permitir sair do controle da situação. Eu acho que isso faz uma grande diferença, e é isso que eu percebo nas minhas pacientes. Não adianta usar um vibrador se ela não tem vontade alguma de conhecer o orgasmo como ele é. É necessário se permitir”, finaliza.