Os erros do filme "365 dias" na opinião de quem pratica BDSM

Conversamos com membros da comunidade BDSM de São Paulo para saber o que eles acham do filme 365 dias. Confira o que eles têm a dizer

Desde o começo do mês, o  filme "365 dias" tem causado burburinho nas redes sociais. Considerada o "50 Tons de Cinza" da Netflix, a produção polonesa já é um dos filmes mais vistos no Brasil e em outros vários lugares no mundo e, para alguns, tem relação com práticas do BDSM.

Cena do filme 365 dias
Foto: Divulgação/Netflix
Cena do filme 365 dias


O filme conta a história do mafioso Massimo Torricelli (Michele Morrone), que passa anos e mais anos a procura da garota de seus sonhos. Essa mulher é Laura Biel (Anna-Maria Sieklucka) e ao conhecê-la, Massimo tem a ideia de sequestrá-la e ainda a ameaça, dizendo que ela tem 365 dias para se apaixonar por ele.

Apesar de no começo Laura odiar toda a situação e dizer que nunca cederia ao mafioso, com o tempo os dois engatam uma relação. A partir desse momento, começa uma sequência de cenas de sexo bem ardentes entre o casal.

Em uma cena, Massimo amarra Laura na cama, por exemplo e logo muitos internautas começaram a comparar o "365 dias" com a prática BDSM. O termo é uma sigla para "Bondage, Disciplina, Submissão, Sadismo e Masoquismo". O fetiche envolve práticas como uma pessoa dominante e outra dominada, amarrações e também prazer na dor. Mas segundo praticantes, o que é retratado na tela é bem diferente da realidade. 

Os erros de "365 dias" na opinião de quem pratica BDSM

Muitos apontam Laura como uma submissa de Massimo, mas não é bem isso. "Laura está lá contra a vontade dela. No BDSM existe consensualidade, Massimo não pergunta para Laura se ela quer ficar com ele”, compara Vivi Escarlate, adepta da prática como submissa e recepcionista do bar Dominatrix, na Augusta, em São Paulo. 

Foto: Divulgação/Instagram/Reprodução
O Bar Dominatrix na Augusta, em São Paulo


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No fetiche, há dominação e submissão, mas tudo isso é feito com um consenso prévio e regras que devem ser seguidas por ambas das partes. “Você tem o desejo de servir ao dominador, tem uma hierarquia que um manda e o outro obedece, mas é tudo consensual e existe uma negociação para ver o que vai ter na relação, nada é forçado”, detalha Vivi. 

Lord Steel e sua submissa, Anna, concordam e lebram de um princípio básico do BDSM que não aparece no filme: toda ação tomada tem que ser Sã, Segura e Consensual (SSC). “É a lei universal dos praticantes de BDSM. Se não tem essas três coisas, tem algo de errado”, resume Lord, que é praticante desde a década de 1990 e que tem uma loja no bar onde Vivi trabalha. 

"365 dias" x "50 Tons de Cinza"

Com cenas de sexo e alguns momentos de dominação, ainda que da maneira errada, segundo os praticantes, foi quase que inevitável comparar a produção do Netflix com a trilogia "50 tons". E para Lord e Anna a obra de E. L. James consegue retratar um pouco melhor como é uma relação dentro do universo BDSM.

“O '50 Tons de Cinza' é legal, pois desmistificou um pouco o que era o BDSM, muita gente ficou interessada, começou a procurar mais e se tornou praticante,” analisa o dominador.

Foto: Lord Steel
Lord Steel e sua submissa, Anna Steel


Já "365 dias" faz o caminho contrário. "O filme não mostra a entrega da submissa, a entrega de quem se submete. O filme passa a ideia que o BDSM é algo forçado e que o dominador compra a submissa para conseguir o que quer”, completa Anna.

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