Segundo o relatório divulgado em 2015 pelo Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais da Organização das Nações Unidas (ONU), a quantidade de brasileiras que usam métodos contraceptivos para evitar uma gravidez não planejada aumenta cada vez mais. Em 1970, apenas 51% das mulheres buscavam se proteger na hora do sexo , mas esse percentual chegou a 79% no ano em que a pesquisa foi publicada.
Mesmo tendo um aumento de popularidade, os métodos contraceptivos ainda podem causar muita confusão para as mulheres que têm uma vida sexual ativa. Afinal, além de existir diversos tipos de pílula anticoncepcional e camisinhas nas farmácias, ainda há injeções, adesivos e dispositivos intra-uterinos, como DIU e diafragma, por exemplo, que também são eficazes para evitar uma gestação não planejada.
Nesse contexto, uma leitora do Delas (que terá a identidade preservada) nos questionou por email: “Somente a camisinha é suficiente para evitar uma gravidez?". A partir da pergunta, conversamos com ginecologistas para explicar sobre os diferentes métodos e, ainda mais importante, como combiná-los sem erro.
De acordo com a ginecologista e obstetra Kelly Alessandra Tavares, a camisinha ainda é a única entre os métodos que protege contra as doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) , mas não é considerada "suficiente" para evitar que a mulher fique grávida. "Muitas vezes o preservativo é usado de maneira errada e isso faz com que a taxa de falha aumente", afirma.
Renata de Camargo Menezes, ginecologista, obstetra e especialista em reprodução humana da Clínica Engravide, lista complicações que podem acontecer quando o casal utiliza apenas camisinha. "Pode haver ruptura do látex, deixando o sêmen escapar ou o preservativo pode não estar disponível no momento do prazer. Além disso, as carícias preliminares feitas sem preservativo podem liberar vestígios de sêmen acumulados na uretra", diz.
Ana Carolina Lúcio Pereira, que também é médica ginecologista e obstetra, complementa que esse método é bastante falho porque é os casais deixam de usar a camisinha exatamente nesse momento preliminar ao sexo. "O recomendado, na realidade é que o homem utilize o preservativo do início ao fim da relação, ou seja, desde desde a ereção. Muitas pessoas só usam na hora da ejaculação, o que favorece a passagem de possíveis espermatozoides para vagina."
Segundo a profissional, quando há esse uso incorreto do contraceptivo, o mais recomendado é combinar dois métodos. "Combinar contraceptivos que podem ser complementares entre si pode melhorar esse índice de falha e garante mais proteção ao casal, tanto no caso da gestação não programada, quanto das DSTs", diz.
Como posso combinar os métodos contraceptivos?
As ginecologistas explicam que existem vários outros métodos contraceptivos, que vão além da camisinha, e podem auxiliar seu uso. Os mais conhecidos são:
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Anel vaginal
: é um anel transparente e flexível que pode ser inserido na vagina pela própria mulher. Aos poucos, ele vai liberando os hormônios (progesterona e estrogênio) no organismo da mulher, evitando a ovulação;
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Anticoncepcional
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podem ser ingerido por via oral, ser injetável ou até um adesivo. Geralmente é composto por hormônios, como estrogênio e progesterona, que impedem a ovulação na mulher;
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Coito interrompido
: é quando o homem retira o pênis da vagina antes de ejacular, limitando as chances de o esperma atingir o óvulo, mas não é considerado eficaz;
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Diafragma
: é um disco flexível, geralmente feito de látex ou silicone, que é inserido na vagina e impede o esperma de se aproximar do útero. É importante consultar um ginecologista para saber o tamanho certo do diafragma antes de colocá-lo;
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DIU (Dispositivo Intrauterino)
: pode ser feito de plástico flexível, prata ou cobre, em um formato semelhante ao da letra “T” e fica alojado no útero da mulher. A medição do tamanho do
DIU e sua introdução devem ser feita por um ginecologista;
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Implante
: é colocado abaixo da pele, na parte superior do braço e libera o hormônio progesterona continuamente na corrente sanguínea da mulher;
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Tabelinha
: também chamado de "Percepção da Fertilidade", é quando a mulher acompanha o próprio ciclo menstrual e sabe quando está no período fértil, evitando fazer sexo nesse tempo. Assim como o coito interrompido, pode não ser muito confiável.
De acordo com Renata, alguns exemplos de combinações de métodos contraceptivos são mesclar um método chamado comportamental, ou seja, que a própria mulher tem que controlar, como a tabelinha, com um método de barreira, que impede a entrada do esperma no útero, como a camisinha. Outra opção é combinar o preservativo com um método hormonal, como um contraceptivo oral, injetável, em adesivo, anel vaginal ou implante.
"A combinação mais assertiva será aquela que incluir a camisinha entre os métodos escolhidos, uma vez que ela também protege contra as DSTs. A combinação de método é recomendada para dar um respaldo nessas possíveis falhas ou erros de uso. Para driblar isso, mesclar um método que não seja comportamental, como a pílula, a injeção ou os adesivos, com a camisinha vai dar uma boa margem de segurança à paciente", afirma.
A especialista explica que os métodos contraceptivos mais seguros são sempre aqueles que não requerem que a paciente lembre de usá-los. "Os implantes e dispositivos uterinos são bons exemplos disso, mas ainda não excluem a necessidade de camisinha para evitar uma DST."
Ana Carolina alerta, porém, que essa combinação deve ser feita com muita cautela. "É possível combinar o preservativo masculino ou feminino com toda os anticoncepcionais citados, por exemplo, mas existem efeitos colaterais", diz.
A profissional exemplifica que o anel vaginal e o DIU podem aumetar a secreção vaginal e a pílula exige certa disciplina da mulher. Além disso, a combinação de implantes subcutâneos ou DIU, se combinados com o anticoncepcional, pode levar à uma sobrecarga hormonal, podendo até mesmo prejudicar a saúde da mulher.
Antes de combinar métodos contraceptivos, procure um especialista
Por causa das razões citadas, a visita ao especialista deve ser feita mesmo antes de iniciar o uso de qualquer um desses métodos contraceptivos. "A escolha da melhor forma de contracepção deve sempre ser feita pela mulher, em conjunto com um ginecologista. Ela precisa passar por avaliação médica para que esse profissional possa entender o que a paciente busca e solicitar exames", diz Kelly.
Renata complementa que essa orientação prévia é importante porque nem todo contraceptivo serve para qualquer mulher. "A escolha também depende muito de fatores individuais, como idade, peso, doenças pré-existentes, histórico familiar, hábitos e vícios."
Segundo a ginecologista, antes de combinar dois métodos contraceptivos diferentes, tanto a mulher quanto o profissional, de saúde devem levar em consideração:
- seu quadro de saúde;
- se faz uso de alguma medicação que possa interferir na escolha do método;
- se é disciplinada para manter o método escolhido;
- se há algum antecedente familiar ou vícios existentes que possam aumentar seu risco para complicações de saúde;
- se os métodos escolhidos são reconhecidamente efetivos e seguros
- se ela sabe executá-los adequadamente .
Assim, Kelly afirma que é ao observar essas circunstâncias que o médico irá analisar qual o método mais indicado para a mulher. "Diante das várias possibilidades, é importante que o especialista explique as vantagens e desvantagens de cada método para a paciente, sempre focando no objetivo principal, que, na maior parte dos casos, é evitar a gravidez."
Ana Carolina também lembra que para qualquer método também existe um período de adaptação. O da pílula anticoncepcional, por exemplo, é durante a primeira cartela. "Quando a mulher não se adapta, é importante retornar ao médico para procurar outro método, mas a melhor forma de escolher é quando ela conhece os efeitos benéficos e reações."
"Todos métodos apresentam índice de falhas, porém quando ajustados dentro do que a mulher quer e precisa, é possível diminuir isso. Cada paciente tem um perfil e suas crenças devem ser reconhecidas na hora da escola do método anticonceptivo. O mais importante é que a escolha seja consciente", afirma a profissional.
Outra questão, abordada por Renata, é no caso de mulheres que não têm fácil acesso à um ginecologista que possa fazer as recomendações necessárias. "Nesse caso, até que se defina qual a melhor maneira de prevenir uma gestação não planejada, a orientação é andar sempre com preservativos na bolsa para não ter erro."
Além disso, ela explica que é importante que essa visita ao especialista seja feita mesmo antes do início da vida sexual, ainda na adolescência e, de preferência, acompanhada dos pais. "As adolescentes se sentem mais seguras e protegidas se puderem contar com o apoio dos pais, em especial a mãe, que deve ajudá-la a esclarecer essas dúvidas", finaliza.
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