Apesar de as mulheres se mostrarem cada vez mais engajadas em discutir assuntos relacionados à sexualidade e à anatomia feminina, muitos aspectos ligados a esses temas seguem cercados de mitos. Não é à toa, portanto, que muitas mulheres acreditam ser necessário fazer lavagens internas na vagina com substâncias agressivas para que a região íntima fique com um cheirinho agradável (sendo que, segundo especialistas, todas possuem um odor característico que não indica necessariamente a falta de higiene íntima).
Outra questão que também costuma gerar muita dúvida é a respeito da elasticidade da vagina . De tempos em tempos, é comum que apareçam tuítes e postagens com conotação de humor comparando orifícios com diferentes diâmetros com os “estágios” do canal vaginal dependendo da quantidade de sexo que a mulher já fez na vida, mostrando que boa parte das pessoas não tem noção alguma da anatomia e da sexualidade feminina.
Afinal, a vagina “alarga”?
Com mais de 2,4 mil compartilhamentos e cerca de 4,2 mil curtidas, este tuíte recente usa postas de peixe com orifícios cada vez maiores para exemplificar o canal vaginal quando a mulher ainda é virgem, após o primeiro relacionamento e em estágios da vida em que optou por ter vários parceiros.
A ideia expressa é a de que, quanto mais sexo a mulher faz, mais “larga” fica a abertura vaginal – e de forma permanente. Mas, afinal, isso realmente acontece? Segundo especialistas, não. De acordo com a ginecologista Mariana Maldonado , tanto o canal vaginal quanto o colo do útero são capazes de se expandir, tornando possível tanto a inserção de absorventes internos, brinquedos eróticos e o próprio pênis quanto a passagem de um bebê durante o parto.
Após essa expansão, seja ela durante o sexo ou durante o nascimento de uma criança, o canal volta ao normal em algumas horas ou, dependendo de qual foi a situação que ocasionou o processo, alguns dias. Segundo a ginecologista, o que pode acontecer é a mulher ter lesões no períneo – trecho de pele que fica entre a abertura vaginal e o ânus – em razão de complicações no parto, mas a questão pode ser resolvida com cirurgias reparadoras que fazem a região voltar ao normal. Se nem um bebê é capaz de alargar permanentemente a abertura do canal vaginal, não é o pênis que conseguirá essa proeza, certo?
Falta de conhecimento ou misoginia?
Apesar de haver, sim, muita desinformação acerca da região íntima feminina, a vulva e a vagina têm suas particularidades frequentemente ironizadas pela sociedade. Apesar de passarem por “piadas inocentes”, a ideia de que essa parte do corpo feminino deve ter uma cor específica, exalar perfume, ser perfeitamente simétrica e desprovida de pelos leva muitas mulheres a odiarem o próprio corpo e desenvolverem complexos a respeito disso .
Buscando rejuvenescer e clarear a vagina ou até deixar a mucosa mais “firme”, algumas dessas mulheres chegam até a optar por procedimentos drásticos. Segundo a Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética, o número de labioplastias (cirurgia que reduz o tamanho dos lábios vaginais) praticamente dobrou de 2015 para 2016, passando de 12,8 mil para 23,1 mil, mesmo que, segundo especialistas, nem sempre esses procedimentos são realmente indicados.