De acordo com uma pesquisa realizada pelo Projeto Sexualidade (ProSex) da Universidade de São Paulo no ano passado, quase 20% das 1470 mulheres entrevistadas afirmaram nunca ter se masturbado, enquanto outros 21% praticavam a masturbação, mas acabaram deixando o hábito de lado. Enquanto isso, dos 1530 homens consultados pela pesquisa, apenas 2,2% deles dizem nunca ter se tocado.
Isso mostra que, para mulheres, a questões da masturbação , do corpo e do prazer ainda são consideradas tabu e, sendo assim, são cercada de mitos. Enquanto os homens normalmente não têm os instintos sexuais refreados durante a infância, a sociedade espera que mulheres só descubram a sexualidade quando forem casadas, fazendo com que muitas tenham medo de tocar o próprio corpo por considerarem isso como sendo algo errado.
Mas, afinal, ter bloqueios em relação à própria sexualidade e não conhecer os próprios desejos é assim tão prejudicial para a vida? De acordo com especialistas, sim. De acordo com Débora Padua, educadora sexual e fisioterapeuta íntima, um dos principais fatores que causam a anorgasmia (ausência de prazer durante atos sexuais) é justamente a falta de conhecimento acerca de como a pessoa gosta de ser tocada.
Outra disfunção que também pode ter relação com questões psicológicas é o vaginismo. Segundo Débora, essa disfunção faz com que os músculos vaginais se contraiam involuntariamente, impedindo a passagem do pênis ou qualquer outra coisa. A especialista explica que, apesar de a condição poder ser disparada por dores causadas por infecções, a maior parte dos casos é fruto de traumas e medos que podem surgir a partir de mitos acerca do sexo ou da dificuldade em saber o que gosta.
Pensando nisso, o Delas reuniu sete mitos, verdades e curiosidades sobre a masturbação para esclarecer melhor o assunto. Confira:
1. Os homens começam a se masturbar mais cedo
Não necessariamente. De acordo com Carla Cecarello, sexóloga do site “C-date”, tanto meninos quanto meninas começam a ter curiosidade a respeito dos órgãos genitais na pré-adolescência, em torno dos 11 ou 12 anos de idade. Segundo ela, isso acontece porque, curiosos com o pênis e a vagina, eles descobrem que a estimulação dá uma sensação gostosa.
Carla afirma que, como a sociedade se torna pouco a pouco menos repressora com relação à sexualidade, algumas pessoas criam o hábito até muito tempo antes da adolescência. Entretanto, por conta da falta de incentivo que as mulheres têm em relação à sexualidade, meninas costumam ser mais contidas quando o assunto é masturbação, enquanto os meninos têm menos problemas em falar sobre.
2. Masturbar-se é algo anormal
De forma alguma. Não é difícil encontrar mulheres que não começaram a se masturbar quando tiveram vontade por achar que estavam fazendo algo errado, ou que têm o hábito, mas negam a todo custo e se mostram escandalizadas quando o assunto vem à tona.
O ato de se masturbar é, sim, tão natural quanto o sexo . Uma das maiores provas disso é a de que, quando os vibradores elétricos surgiram, em 1869, a função deles era “tratar histeria”. Comportamentos histéricos, na época, eram caracterizados por angústia mental ou emocional, e os médicos acreditavam que a “doença” tinha origem no útero e era causada pela privação sexual. Sendo assim, eles usavam a masturbação como tratamento, com o auxílio do vibrador.
Com o tempo, a ciência foi descobrindo cada vez mais benefícios que o orgasmo traz para o corpo, mostrando que a estimulação genital com os vibradores “curava” a angústia feminina porque o prazer sexual libera substâncias que diminuem os níveis de estresse e ansiedade, deixando as pessoas mais relaxadas e até mais concentradas. Sendo assim, não há nada de errado em se dar prazer !
3. Existe uma forma correta de se masturbar
Mito! De acordo com Carla, existem diversas formas e cada mulher acaba encontrando a “técnica” mais prazerosa para si. “Algumas mulheres gostam de virar a barriga para baixo e colocar a mão em cima do clitóris, prensando-o bem nessa posição. Outras mulheres já preferem se masturbar com as pernas abertas, estimulando o clitóris . Outras já gostam de fazer com o chuveirinho ou colocam uma almofada entre as pernas para se estimular”, enumera a sexóloga. Sendo assim, não se sinta mal caso você se masturbe de uma forma diferente que suas amigas fazem.
4. Masturbação vicia
Isso é parcialmente verdade. De acordo com a sexóloga Priscila Junqueira, o “vício” não é pura e simplesmente vontade de praticar o ato, e sim a forma que algumas pessoas encontram para compensar um conflito que pode estar ocorrendo em outra área da vida. Segundo Carla, questões como baixa autoestima, timidez extrema e dificuldades com relacionamentos em geral podem fazer com que a masturbação seja a única fonte de prazer para algumas pessoas. Isso, por sua vez, faz com que elas busquem esse prazer compulsivamente.
Carla afirma que também há quem fique “dependente” do ato como forma de descarregar a tensão, assim como há pessoas que não funcionam direito se não fizer exercícios físicos todos os dias, por exemplo.
5. Você sempre deve se masturbar sozinha
Mito! De acordo com Carla, trocar esse tipo de toque com o parceiro ou parceira é uma forma de aproximar o casal, já que algo bastante íntimo e particular para cada pessoa. Segundo ela, é necessário espantar a vergonha e se empenhar na conversa para guiar a pessoa na direção daquilo que dá mais prazer. Se for o caso de uma transa casual – em que as pessoas podem sentir que não há intimidade para dar diretrizes –, Carla aconselha colocar a mão sobre a mão da pessoa e indicar o que ela deve fazer.
6. Existe risco de gravidez quando as pessoas se masturbam mutuamente
Depende. Tanto a substância que sai do pênis antes do homem ejacular quanto o sêmen podem engravidar se acabarem entrando em contato com a região da vagina, então é preciso prestar atenção ou utilizar camisinha no pênis para evitar qualquer “acidente”.
7. Se masturbar demais tira o prazer do sexo
Mito! Tanto Carla quanto Priscila afirmam que, havendo equilíbrio, o sexo não é afetado pela frequência que os parceiros se masturbam. O que pode acontecer, porém, é as pessoas estarem tão acostumadas com apenas um tipo de toque (o próprio) que têm dificuldades em ter prazer com outras práticas. “Existem muitas mulheres que acostumam com um determinado ritmo o jeito, aí quando bem um parceiro que tenta masturbá-la também, ela não vai gostar”, diz Carla, ressaltando que essa pessoa pode acabar rejeitando o sexo, prejudicando, de certa forma, o relacionamento.
Carla afirma ainda que é comum que mulheres fiquem acostumadas a se masturbar apenas de uma forma, como um ritual. “Uma vez que ela aprendeu a masturbação de um jeito, é assim que possivelmente ela vai levar a vida toda porque há uma tendência em se acostumar com os movimentos e posições”, explica. Segundo Priscila, a saída para isso é tentar variar o máximo possível. “É possível reverter essa situação a partir do momento que ela experimenta uma outra forma de se masturbar, veja que também sente prazer, resolva mudar ou vai variando a forma antiga”, afirma. Segundo Carla, é necessário bom senso para equilibrar a prática e outras áreas da vida.