Afinal, o afastamento é mesmo um destruidor de relacionamentos? Para muitas pessoas, a ideia de manter um namoro à distância é impensável, principalmente para aquelas que convivem diariamente com o parceiro ou a parceira. Às vezes, porém, ficar longe da pessoa amada é necessário ou até inevitável e, pensando nisso, o Delas conversou com mulheres que passaram por isso; confira:
Quando nem a tecnologia é uma saída
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Durante os oito anos em que estão namorando, não foram poucas as pedras que Mariana Marsal e Leandro Marques precisaram tirar do caminho juntos. O que era um namoro convencional acabou se tornando um namoro à distância em 2009, quando a jovem decidiu fazer parte do ensino médio nos Estados Unidos.
Hoje, é com a ajuda da tecnologia que os casais lidam com a aflição causada pela distância , mas, na época em que Mariana fez intercâmbio, o WhatsApp ainda não existia. Além disso, Mariana conta que a família que a hospedou durante os dez meses que passou no país impunha limites nas chamadas de vídeo para o namorado ou qualquer outro conhecido do Brasil por temer que ela não aprendesse o inglês, objetivo do intercâmbio. “Eu tinha duas horas de Skype por semana, então uma hora eu falava com a minha mãe e uma hora com ele”, conta a jovem.
Já que estudavam na mesma sala e era bastante ligados, Mariana conta que o medo fez com que ela e Leandro chegassem a terminar antes de ela partir, na hora que os dois estavam se despedindo no aeroporto. O “término”, porém, durou muito pouco, já que no dia em que ela chegou lá, os dois se falaram e agiram como se nada daquilo tivesse acontecido. “Terminar não fazia sentido. Se você quer ficar com essa pessoa, por que você vai terminar?”, conta a jovem.
Apesar da dificuldade em manter contato, Mariana afirma que os meses transcorreram sem grandes traumas, mas algumas pedras no caminho foram inevitáveis. “Às vezes a gente brigava porque eu pedia que ele me mandasse um e-mail para dizer se estava bem e ele acabava esquecendo. Eu tinha medo de ele não me querer mais de uma hora para outra”, conta.
Após o retorno de Mariana ao Brasil, porém, a distância voltou a assombrar a vida do casal. Dois meses após a volta dela, Leandro passou um mês no Canadá, e em 2013, viveu no País de Gales durante um ano para estudar. A jovem conta que nessas situações o relacionamento funcionou de uma forma muito diferente, já que – ao contrário de quando ela fez intercâmbio – o namorado não ficou em casa de família e era mais livre para manter contato.
Depois de tantas viagens, os dois voltaram a viver perto um do outro. Eles moram em São Paulo e seguem o namoro.
Distância presente desde sempre
Há casos, porém, em que o relacionamento já começa tendo a distância praticamente como um terceiro integrante. É o caso de Thaís Duran e Rodrigo Pinheiro, que se conheceram enquanto jogavam videogame online. Thaís conta que logo ficou caidinha pelo rapaz, com quem conversava pelo próprio bate-papo do game, mas havia um porém: enquanto ela mora em Santo André (SP), Rodrigo vive em São Gonçalo (RJ).
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Se conservar um relacionamento enquanto o casal está separado temporariamente já é difícil, criar uma relação à distância do zero é ainda mais complicado. “Rodrigo é um menino muito tímido, então ele demorou muito até para me falar o nome da cidade dele. Demorou para pegar confiança, para ir se abrindo. Sempre dizia que não gostava de mim, que era só amizade, mas eu sempre duvidei disso e continuei correndo atrás dele”, diz ela.
O papo continuou tanto via o bate-papo online quanto por WhatsApp e, um ano depois, o encontro finalmente aconteceu. Thaís conta que foi ao Rio para assistir a um show e mesmo sem saber se Rodrigo estava a fim de vê-la, se programou para ficar na cidade alguns dias a mais do que o necessário. No dia seguinte ao show, ela pediu que ele fosse encontrá-la, mas o rapaz estava inseguro. “Ele disse que não porque não tinha certeza se queria namorar comigo”, conta Thaís.
Insistente, Thaís não deixou o amor de lado. “Falei para ele: ‘Se você não vai vir até mim, eu vou até você. Mal conheço o Rio, mas vou pegar a barca e vou até sua casa, não estou nem aí’”, brinca. Intimidado, Rodrigo concordou em encontrar a moça em um shopping de Niterói, praticamente no meio do caminho entre a cidade do Rio e São Gonçalo, onde ele vive. “Esse foi o nosso primeiro encontro. Já demos o nosso primeiro beijo, passamos nosso primeiro dia juntos e eu voltei do Rio de Janeiro já namorando com ele”, vibra.
Desde esse dia, Thaís e Rodrigo tentam se encontrar todo mês ao menos uma vez, ora no Rio, ora em São Gonçalo, ora em Santo André, e ela garante que o relacionamento vai de vento em popa. “Por conta do nosso estilo de vida, nosso namoro deu muito certo. Eu e ele somos pessoas muito caseiras, gostamos de jogar videogame, de assistir filmes, ele não bebe, eu também não, então basicamente ficamos muito juntos online”, afirma.
Enquanto para alguns manter um namoro à distância pode ser um sacrifício e beirar o impossível, para Thaís e Rodrigo o obstáculo é contornável. “Um relacionamento não vive só do contato físico. Um relacionamento, na minha visão, é muito da amizade entre as duas pessoas, da cumplicidade e da confiança. Hoje estamos juntos há pouco mais de um ano e pretendemos permanecer assim para o resto da vida”, conta ela, ressaltando que Rodrigo está em busca de um emprego na cidade da amada para que possam casar-se em breve.
Longe, mas MUITO longe mesmo
Para Thaís, conhecer a pessoa com quem conversava online não foi problema, e é assim que pensa Juliana, que frequentemente compartilha suas histórias no Afrodites, grupo exclusivo para mulheres no Facebook. Uma das diferenças entre as histórias, porém, é a de que do outro lado do telefone está alguém que mora em outro país, mais especificamente na Índia.
Juliana conheceu Nawaz Wani pelo Instagram quando, há três anos, o rapaz entrou em contato com ela por meio das mensagens da rede social. Em um primeiro momento, ela optou por não dar bola, já que, segundo ela, recebe mensagens de homens de outros países frequentemente. Mesmo não respondendo, Juliana conta que se surpreendeu com o fato de Nawaz ter começado a conversa com um “oi, tudo bem?” em vez de uma foto indiscreta como fazem os outros.
Mesmo sem resposta, Nawaz não desistiu de falar com a moça e mandou mais uma mensagem. Ao dar uma vasculhada nas fotos dele, Juliana acabou se interessando e respondeu. Esse foi o primeiro contato da dupla que, hoje, planeja um encontro na Índia ainda no final deste ano. Ela conta que algumas “regras” da religião de Nawaz – que é muçulmano – tornam uma possível vinda dele para o Brasil complicada. “Como ele é solteiro, só poderia viajar se viesse acompanhado, então depende de outras pessoas para vir”, explica ela.
Apesar de conversarem com frequência e de Juliana ter feito até uma festinha de aniversário com bolos e balões para Nawaz (que assistiu tudo pelo celular), a moça não considera o relacionamento como sendo de fato um namoro à distância. “Namoro pela internet é 'graça', eu só acredito no que consigo tocar, sou muito pé no chão. Desde o começo fomos muito claros um com o outro e vamos esperar chegar a hora para ver o que acontece”, diz ela, enfatizando que o rapaz já chegou a pedi-la em namoro, mas que ela não aceitou.
Apesar de parecer durona, Juliana demonstra grande preocupação e afeto com Nawaz e gosta de mostrar como ele foge do estereótipo que as pessoas têm da religião dele e de outros homens que entram em contato com mulheres pela internet. “Ele é muito respeitoso, estamos sempre conversado sem pressão. Nos falamos em horários doidos por causa do fuso horário, brinco que eu sou o sol e ele é a lua”, afirma.
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Afinal, como lidar com a distância?
Apesar de haver muitas histórias parecidas com as de Mariana, Thaís e Juliana, não é difícil encontrar quem diga que namoro à distância não dá certo e que ficar longe só faz mal para o casal. De acordo com Cátia Damasceno, master coach em relacionamentos do projeto “Mulheres Bem Resolvidas” e colunista do Delas, o afastamento pode não trazer tantas consequências ruins como se imagina. Confira algumas dicas de como fazer com que um relacionamento desse tipo vingue:
1. Sinceridade e planejamento
Cátia afirma que para a distância não afetar o relacionamento de forma negativa, é preciso que os parceiros estabeleçam muito bem como as coisas devem funcionar (se será um relacionamento aberto, quando vão se ver, quais são os planos para o futuro, etc.). Segundo ela também é importante ter a conversa do “somos um casal?” antes do encontro para que ninguém volte para casa com uma ideia errada após ficarem pela primeira vez. “Tem de ter muito diálogo e maturidade, ou estão juntos, ou não!”, comenta.
2. Colocar tudo na balança
Chegou a hora do intercâmbio e você não sabe se termina ou não? De acordo com a coach, é importante pesar os prós e contras de terminar. Ela afirma que deve-se levar em conta se a pessoa tem uma data certa para voltar, o que os dois poderão ou não fazer enquanto estiverem longe um do outro e até checar a possibilidade de se visitarem durante esse período.
3. Comunicação é a chave
Se manter um bom diálogo já é importante para manter o bom relacionamento entre pessoas que estão próximas, em um namoro à distância essa necessidade aumenta ainda mais. Para isso, Cátia afirma que a tecnologia é uma aliada fundamental. A coach aconselha manter uma rotina de troca de mensagens para não parecer que os parceiros estão distantes emocionalmente um do outro.