Glúten: encontrado em pães, massas e até na cerveja, proteína é o alvo da vez
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Glúten: encontrado em pães, massas e até na cerveja, proteína é o alvo da vez


No Dia Mundial de Conscientização sobre a Doença Celíaca , celebrado nesta sexta-feira (16), é importante a reflexão sobre como o glúten virou um tema que vai além das pessoas com diagnóstico da doença. Nos últimos anos, o glúten deixou de ser apenas um ingrediente comum nas prateleiras para se tornar alvo de desconfiança, mesmo entre quem não tem diagnóstico de doença celíaca.

Com o aumento do debate e a explosão de produtos sem glúten no mercado, a Anvisa decidiu intervir: a rotulagem de alimentos que contêm (ou possam conter) a proteína passará a ser mais rigorosa, seguindo o modelo já adotado para gordura, sódio e açúcar, com alertas visíveis na parte frontal das embalagens.

A nova determinação amplia o papel da agência na fiscalização e exige que as empresas sejam mais cuidadosas ao informar a presença da substância, mesmo em casos de contaminação cruzada, quando um alimento naturalmente sem glúten entra em contato com superfícies ou equipamentos usados em produtos com a proteína. A frase “contém glúten” ou “não contém glúten” já é obrigatória há 15 anos, mas agora sofrerá uma inspeção mais rigorosa.

Mas afinal, o que é o glúten?

O glúten é uma proteína presente em cereais como trigo, centeio e cevada. Para pessoas com doença celíaca, que é uma condição autoimune, o contato com ele desencadeia uma reação intensa no intestino, podendo causar dor, inchaço, diarreia, anemia e até desnutrição. É uma condição séria, sem cura, que exige uma dieta 100% livre de glúten, inclusive em traços mínimos, para que o portador não seja afetado.

“É uma proteína de difícil digestão e, justamente por isso, muitas pessoas desenvolvem sensibilidade ou até alergia, apresentando sintomas mesmo sem diagnóstico de doença celíaca”, explica a nutricionista funcional integrativa Luana Santos.

Por isso, identificar corretamente os alimentos que contêm glúten é fundamental. E é exatamente nesse ponto que entra a nova regra da Anvisa: com mais controle, os consumidores têm mais segurança e liberdade para fazer escolhas conscientes, seja por necessidade médica, seja por bem-estar.

Mais do que moda, um problema nos consultórios

O aumento da demanda de produtos sem glúten não vem apenas por conta das pessoas com doença celíaca. A substância também pode causar sensibilidade não celíaca, um quadro menos grave, mas que ainda assim afeta bastante a qualidade de vida de várias pessoas.

“Tenho atendido muitos pacientes com queixas gastrointestinais recorrentes, e quando fazemos o teste de exclusão, retirando o glúten por uma ou duas semanas, muitos relatam melhora significativa. Nesses casos, temos um indício”, diz Luana. “Se há suspeita de algo mais grave, como a doença celíaca, ou de sensibilidade ou alergia, encaminhamos para um gastroenterologista, que pode fazer exames específicos, como a biópsia intestinal.”

Os sintomas mais comuns são dores abdominais, gases, inchaço, diarreia ou constipação. “Mas também vemos manifestações como fadiga, dificuldade de concentração e até problemas de pele, como coceiras e irritações”, afirma a especialista.

Dia Mundial da Conscientização sobre Doença Celíaca: Nova norma da Anvisa coloca o glúten como alvo
Zaya
Dia Mundial da Conscientização sobre Doença Celíaca: Nova norma da Anvisa coloca o glúten como alvo


De olho nessa demanda cada vez maior de um público que convive com processos inflamatórios, muitas marcas têm direcionado seus portfólios inteiros para produtos sem glúten. É o caso da Jasmine Alimentos, que, desde 2017, tem ampliado significativamente sua linha com opções livres da proteína.

Outra empresa que vem se destacando neste mercado é a Zaya, marca de Vinhedo que tem hoje todos os 20 itens do portfólio livres de glúten — incluindo misturas para tortas e bolos, farinhas, mix para pães de frigideira e até snacks para o dia a dia, como as Zaytas. Todos os produtos também são kosher e veganos, outra tendência forte do mercado.

“Quando a Zaya foi criada, o mercado de alimentos sem glúten ainda era extremamente limitado, com produtos que muitas vezes deixavam a desejar em sabor e textura. A nossa proposta sempre foi ir além do simples”, avalia o CEO Marcelo Achcar.

“O selo 'contém glúten' tem tudo para ser ainda mais destacado no futuro, especialmente porque o diagnóstico de doença celíaca e outras sensibilidades alimentares tem crescido em todo o mundo”, ele acrescenta, explicando que a marca segue processos rigorosos para impedir a contaminação cruzada, hoje a principal preocupação da Anvisa.

Para essas empresas, o sabor tem sido prioridade, já que preparações sem a proteína tendem a ser consideradas insossas por muitos consumidores. Neste sentido, snacks como as Zaytas, pães de marcas como a Jasmine, e até salgadinhos como a Roots to Go já evoluíram muito em comparação aos produtos oferecidos anteriormente por marcas ultra processadas.

“Nós priorizamos fórmulas limpas, sem aditivos químicos desnecessários. Em vez de mascarar sabor com aromatizantes e conservantes, buscamos realçar o que cada ingrediente tem de melhor. Nossa preocupação é que os produtos sejam saudáveis de verdade, sem abrir mão da praticidade, do prazer de consumi-los”, finaliza Marcelo, apontando também para uma tendência crescente entre os consumidores, a dos produtos clean label, ou seja, livres de qualquer química mirabolante.


O glútem não representa um risco para a maioria das pessoas
Reprodução
O glútem não representa um risco para a maioria das pessoas



Eu preciso evitar glúten se não tenho sensibilidade?

A resposta definitiva é: não. Embora o glúten esteja em pauta e muitas marcas tenham se adaptado a essa demanda, ele não representa um risco para a maioria das pessoas. A retirada da proteína da dieta só é recomendada em caso de diagnóstico médico, como doença celíaca, sensibilidade não celíaca ou alergia ao trigo.

“Nesse caso, o mais importante é a personalização. Nem todo mundo precisa excluir o glúten, mas também não recomendo o consumo diário de alimentos com glúten e farináceos, com farinha de trigo, já que hoje ela passa por muitos processos e perdeu parte da qualidade nutricional que tinha antigamente”, comenta Luana Santos, mencionando também a Resolução RDC nº 623, de 2022, da Anvisa, que permite a presença de até 75 fragmentos de insetos a cada 50 gramas de farinha de trigo. “Além do glúten, essas sujidades no produto também estão causando intolerâncias, alergias e muitas vezes ativando uma resposta imune”, alerta.

Para quem precisa ou opta por excluir o glúten da rotina, o mercado já oferece muitas opções. “Hoje existem marcas que fazem produtos realmente gostosos e seguros. Também indico restaurantes que são 100% glúten free e livres de contaminação cruzada, algo que era impensável há alguns anos.”

Rotulagem mais clara é sinônimo de saúde pública

A nova norma da Anvisa também foi elogiada por profissionais da saúde. “É super importante essa rotulagem mais clara e visível. As pessoas precisam ter essa informação com destaque para saber se o alimento oferece risco. Especialmente no caso de celíacos, que podem passar muito mal até com pequenos traços de glúten”, defende Luana.


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