Como as mulheres moldam seu comportamento em busca da felicidade?

Gustavo Arns, especialista em felicidade corporativa e idealizador do Congresso Internacional da Felicidade, fala sobre a felicidade feminina

Foto: FreePik
Como as mulheres moldam seu comportamento em busca da felicidade?

Especialista em felicidade corporativa e idealizador do Congresso Internacional da Felicidade, Gustavo Arns fala sobre como a busca pela felicidade pode ser uma parte fundamental do seu comportamento e bem-estar. Em entrevista ao iG Delas , o especialista comenta sobre a busca da felicidade para as mulheres, o quanto elas se equivocam nesse percurso e qual seria a melhor forma de atingi-la. Confira! 

iG Delas: Como as mulheres moldam seu comportamento em busca da felicidade?
Gustavo Arns : Eu percebo que quando buscam a felicidade, fazem algumas confusões em torno do que é felicidade e prazer, prazer positivamente orientado e negativamente orientado. Muitas vezes incorre uma superficialidade de felicidade enquanto momentos felizes, eles são ótimos, mas a ciência nos auxilia a construir a ideia de que a felicidade pode e precisa ir além de momentos felizes, pois estamos fadados a muita infelicidade, pois temos momentos felizes e infelizes. Nós podemos ir mais fundo, encontrando camadas duradouras e uma conexão que segue sendo superficial é essa ideia de felicidade com bens materiais, como carro, casa, jóias, viagens, sapato e etc.

E nesse quesito temos uma associação superficial de felicidade e acúmulo de bens materiais ou questões ligadas a estética de corpo e é onde percebo que isso é maior nas mulheres mais jovens, há pouco tempo falei sobre a questão do uso de filtros no instagram e sobre como isso afeta a autoestima das meninas pré adolescentes e adolescentes. No entanto, é importante dizer que não tem nada de errado com o sucesso, o problema está na ideia de que o sucesso, o acúmulo de bens materiais ou as questões estéticas, se resolvidas nos farão 100% felizes. Existe um vazio que muitas vezes é tentado preencher a partir desse acúmulo, mas na verdade, ele não será preenchido através disso. 

O que as escolhas cotidianas têm a ver com o caminho da felicidade?
O mais importante aqui é entendermos um pouco melhor sobre o que é felicidade, para que então, a gente consiga perceber como podemos construir bem-estar em nossas vidas. Um conceito que gosto é o do professor Tal Ben Shahar, pois para ele, felicidade é a combinação do bem-estar físico, emocional, intelectual, relacional e espiritual. Ao cuidarmos de cada um desses estamos construindo mais felicidade. Então é interessante perceber que uma parte da felicidade está nas nossas mãos, na nossa autorresponsabilidade. Portanto, conforme diz a neurociência, a felicidade é uma habilidade. A tristeza nos causa muitas reflexões profundas e a felicidade não leva, mas cada emoção tem um papel importante em nossas vidas.  Nosso bem-estar intelectual tem tudo a ver com tudo aquilo que assistimos, lemos, vemos e presenciamos, nós informamos nosso intelecto de maneira positiva ou negativa.

Então, essas escolhas contínuas são importantes. Em nosso cotidiano, quando vemos o que impacta positivamente tendemos a repetir e precisamos alimentá-las, mas quando percebemos aquilo que tem um impacto negativo no seu bem-estar, precisamos que você elimine elas ou que encontre ferramentas para lidar melhor. Então, nossas escolhas cotidianas tem tudo haver com nossa felicidade, nosso bem-estar físico é um compilado de escolhas do cotidiano. Alimentação, exercícios físicos, cuidado com o sono, são pilares para o nosso bem-estar e são escolhas que fazemos. Sobre bem-estar emocional, falamos da forma como lidamos com nossas emoções, pois mesmo que tenhamos uma vida feliz, não significa que estejamos livres de tristeza. O ponto é como lidamos com as tristezas, pois ela nos auxilia a tomar decisões importantes na vida. Afinal, quem nunca passou por uma grande tristeza na vida para decidir algo?

De que forma os relacionamentos influenciam nisso?
Eles têm importância central em nossa felicidade, é um dos pilares segundo o professor Tal Ben Shahar. Mas diversos pesquisadores afirmam que se precisássemos escolher apenas um aspecto, o mais importante para nossa felicidade, eles dizem que são os relacionamentos. Isso não quer dizer que a pessoa precisa ser extrovertida, ter muitos amigos, estar em um relacionamento íntimo e sólido de longos anos, não é isso, o que a ciência diz é que temos aquele pequeno grupo de pessoas que são nossa rede de apoio, com quem sabemos que podemos contar nos momentos difíceis. Um grupo de pessoas onde não precisamos ser quem não somos, nós podemos ser livres e somos amados, e amamos elas também por ser quem são. Não é necessário que esteja em um relacionamento de longo prazo, mas se estiver, que seja saudável, pois caso contrário, pode ter um impacto negativo muito grande.

Como fica o equilíbrio entre vida pessoal e profissional?
Nesse sentido de que na maioria dos lares o trabalho do cuidar da casa, do cuidar dos filhos, do cuidar da família recai mais nos ombros das mulheres e nem por isso muitas vezes deixam também de ter a sua carreira profissional de ter o seu trabalho, para as mulheres nesse sentido eu sinto que esse equilíbrio entre vida pessoal e profissional é ainda mais desafiador, em especial quando existe filhos, marido, companheiro ou companheira, existe um peso cultural. Percebo que existe de maneira mais ampla entre as mulheres uma culpa interna no encontro ou na dificuldade do encontro desse equilíbrio.

A área da vida profissional, ligada ao dinheiro, ao nosso fazer no mundo, a nossa expressão, aos nossos dons e talentos, é uma área importante para o nosso bem-estar. Porque boa parte do nosso dia, muitas horas do nosso dia, muitos dias da nossa vida, nós estamos trabalhando, ou seja, estamos expressando o nosso fazer no mundo. Isso não quer dizer que precisa ser uma profissão, isso não quer dizer que precisa ser uma atividade remunerada. Talvez a pessoa esteja cuidando da casa, cuidando dos filhos, não importa, é uma expressão do seu fazer no mundo. Muitas vezes é um trabalho voluntário, social, mais uma vez, não importa pois é o seu fazer no mundo. Então quando eu chamo de trabalho aqui, eu não estou dizendo necessariamente o trabalho unicamente o fora de casa, remunerado.  E é interessante perceber também que culturalmente falando, quando se pensa em felicidade, aqui no Brasil, na América Latina em geral, por conta da influência estadunidense, nós associamos muito mais, a felicidade ao sucesso do que com esse equilíbrio entre vida pessoal e profissional. É diferente na Europa que culturalmente e de maneira geral, é exatamente o oposto, existe mais uma associação de felicidade com esse equilíbrio entre vida pessoal e profissional do que com o sucesso material.

É importante dizer que esse equilíbrio realmente tem um impacto na nossa felicidade. Quando, no modelo que nós comentamos sobre bem-estar espiritual, esse bem-estar espiritual para a ciência está conectado com o sentido e o significado que nós damos à nossa existência, aquilo que fazemos no mundo. Encontrar sentido naquilo que nós fazemos, encontrar significado na nossa rotina. E esse sentido, esse significado, envolve o equilíbrio interno entre essas diferentes áreas da nossa vida. É muito importante.

Por isso é preciso fazer essa reflexão: “O que, nesse momento, nesse estágio da minha vida, é realmente fundamental e essencial na minha construção de felicidade?”

Porque o que é essencial, nesse momento da vida, vai diferir de pessoa para pessoa e vai mudar também ao longo da vida. Por isso que essa reflexão tem que ser feita constantemente. Para quem tem filhos recém-nascidos, é uma necessidade. Para quem está recém-formado, ainda solteira, sem filhos, é uma outra necessidade. E as pessoas têm, em geral, necessidades diferentes também. Por isso que essa reflexão é tão importante. E a partir daquilo que eu entendo que é essencial nesse momento, aí sim eu buscar encontrar um equilíbrio possível e tentar me eximir da culpa. Porque muitas vezes nós imaginamos que vai dar tempo de se dedicar àquilo tudo que nós consideramos importante, mas aquilo tudo que nós gostaríamos e que muitas vezes é inviável porque não existe tempo suficiente. Quando eu paro para refletir o que é realmente essencial, quantas horas tenho de dia e como é que eu vou acomodar essas horas, aí sim eu posso começar a perceber de maneira um pouco mais clara o que é viável, o que é possível e o que não é e fazer os ajustes necessários e parar de muitas vezes alimentar uma ilusão irreal sobre a vida cotidiana naquela fase da vida.

E  autoestima? Como lapidá-la para ser mais feliz?
O que a psicologia positiva, um dos pilares importantes da ciência da felicidade, que estuda o lado positivo da vida humana, vem nos mostrando, é que nós precisamos olhar também para o lado positivo. Nós precisamos olhar também para tudo aquilo que já está dando certo na nossa vida. Essa palavra também é muito importante, porque nós não queremos varrer os problemas para debaixo do tapete, nem ignorar que a vida tem os seus desafios. Mas perceber que existe também muita coisa boa acontecendo. E por que isso é importante? Porque o nosso olhar é muito viciado no problema, na falta. Se eu peço para você fazer uma lista com cinco coisas que você precisa melhorar, todo mundo faz isso rapidamente. Se eu peço cinco coisas que você é muito bom em, talvez você tenha um pouquinho mais de dificuldade de fazer a lista. Não porque você não é muito bom em várias coisas. Você é. Você é muito bom em muitas coisas. Mas o seu olhar não está treinado para reconhecer as suas capacidades, os seus potenciais, as suas forças internas, que todos nós carregamos.

A Psicologia Positiva tem estudado muito sobre isso, um tema chamado virtudes e forças de caráter, que vem aí estudando diversas fortalezas que nós carregamos internamente. Generosidade, perdão, gratidão, capacidade de liderança, de trabalho em equipe, senso de justiça. Então a verdade é que a autoestima é muito abalada pela nossa incapacidade de percebermos os nossos talentos, as nossas virtudes. É preciso lapidar a nossa autoestima.  O que você gosta de fazer? Suas atividades favoritas, seus hobbies, o que é que te motiva, sabe? Que te inspira, que te energiza, que te dá força. Quais são as coisas que você tem facilidade para realizar? E aí você vai começando a perceber que existe uma certa intersecção entre essas perguntas. Você vai começar a perceber que existem coisas que você é bom em, que você é muito bom em, e aí você começar então a colocar o seu olhar também para aquilo que você é muito bom em.

Normalmente as pessoas têm a mesma dificuldade de identificar, sabe? Porque quando usamos os nossos talentos aqui, o que nós fazemos é algo que pra nós é fácil de fazer, então a gente não entende às vezes nem como algo importante. É fácil pra você fazer, porque é um talento seu, outras pessoas podem ter dificuldade. Trabalhar esse reconhecimento mesmo, talvez perguntar para pessoas próximas a você, claro, que tenham um olhar também pra isso, e muitas vezes a terapia também pode ajudar nesse sentido.

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